O futebol é um jogo coletivo, como todos sabemos, mas decidido por individualidades. Até por individualidades lesionadas, como foi o caso de Pedro Gonçalves. Os sportinguistas assustaram-se ao minuto 23, quando o seu número 8 escorregou no momento de um remate e ficou agarrado ao tornozelo esquerdo. O Sporting tem um plantel recheado de grandes jogadores, mas perder tão cedo um dos seus maiores criativos poderia trazer problemas. Pedro Gonçalves saiu de campo, foi assistido pela equipa médica e, após o intervalo, abriu o livro: três golos e uma assistência. Brilhante.

Antes de o resultado subir para números parecidos com o 6-1 da época passada, os leões passaram por alguns apertos. Logo aos três minutos, golo de Léo Santos: canto bem marcado por Liziero, a bola sobrevoou a área do Sporting e encontrou a cabeça de Léo Santos, muito mais forte no jogo aéreo do que Morita, o leão mais próximo. Combinação perfeita entre os dois brasileiros.

O Sporting, por ser tão cedo, não sentiu o impacto do golo. O Nacional manteve-se firme na defesa da baliza de Lucas França: cinco homens atrás, quatro ao meio e um na frente. Fechava-se bem, mas era um bloco maleável, um harmónio que podia desfazer-se. E desfazia-se. Sempre que tinha bola – o que, sejamos justos, não acontecia muitas vezes –, o Nacional tentava incomodar as linhas recuadas dos leões, obrigando médios (Hjulmand e Morita) e laterais (Mangas e Fresneda) a redobrada atenção.

Os primeiros 15/20 minutos foram um mini-massacre leonino, não por haver várias oportunidades claras (destacou-se Luis Suárez, um 'bicho' físico e obcecado pela baliza), mas porque o Nacional quase não tinha posse. Ao minuto 11, após canto de Trincão na direita, a bola foi desviada para a entrada da área e Pedro Gonçalves, com o seu característico remate, atirou à barra. Primeiro sinal do que viria a seguir.

Logo a seguir, o susto. Não o horror, mas o susto. O 8 de Alvalade escorregou, a relva soltou-se e Rui Borges preocupou-se. Tal como Pedro Gonçalves e os leões. Voltou ao campo, ainda que quase ao pé-coxinho. Seguiu-se um período de muitos amarelos, quezílias e dois momentos decisivos: Pablo Ruan viu um cartão amarelo por falta sobre Gonçalo Inácio (26’) e, pouco depois, outro por entrada dura sobre Kochorashvili (37’).

O jogo não estava decidido; o Nacional ainda vencia e nem se sabe se com 10 ou 11 as dificuldades do Sporting para inverter o 0-1 seriam maiores ou menores. E até foi com 10 que o Nacional, em cima do intervalo, poderia ter chegado ao 2-0 por Matheus Dias.

Não fez o segundo e colocou-se a jeito do bicampeão, cheio de grandes jogadores e com um homem a mais. Pouco depois do intervalo, numa recuperação de Trincão, com trocas de bola com Catamo e Fresneda, saiu o cruzamento rasteiro, o pequeno toque de Suárez e o remate seco e colocado de Pedro Gonçalves. O (aparentemente) ex-lesionado.

Seguiu-se uma sucessão de jogadas perigosas construídas pelos mais virtuosos do Sporting, sempre com um homem em plano superior: o seu número 8. Primeiro com passes e remates, mais tarde com golos e assistências. Antes, Rui Borges apostou num esquema mais ofensivo, com Vagiannidis e Quenda (!) nas alas desde o minuto 64, o que fez com que, por vezes, o Sporting se dispusesse em 3-5-2 (Suárez + Harder).

Os últimos dez minutos, já depois de ter sido anulado um golo a Suárez por fora de jogo de Vagiannidis, foram avassaladores. Com o Nacional desgastado por jogar com menos um desde o minuto 37, Pedro Gonçalves puxou ainda mais lustro à sua lamparina mágica e traçou o resultado final: 2-1, 3-1, 4-1, com mais dois golos e uma assistência perfeita para o desvio fatal de Harder.