De 'águia ao peito', Di María ganhou um campeonato, uma Supertaça e três edições da Taça da Liga, num percurso divido em dois, do 'olá', ainda miúdo, de 2007/08 a 2009/10, ao 'adeus' à Europa, já consagrado com um dos 'maiores', nas duas últimas épocas, antes do regresso a casa, ao 'seu' Rosário Central.

Com 37 anos, o argentino deixa a Luz com uma derrota e longe de casa, mas depois de, pela enésima vez, ter mostrado toda a sua classe, como no penálti que levou o Benfica para prolongamento (no qual perderia por 4-1), o seu quarto no Mundial de clubes, nos Estados Unidos, que, para já, o isolaram como melhor marcador da renovada prova.

"Um agradecimento especial ao Di María, que fez o último jogo com a camisola do Benfica. Eu cresci a vê-lo jogar. É um prazer enorme privar com ele no balneário, uma pessoa incrível. Vai deixar muitas saudades, ficar no meu coração. Tem uma humildade tremenda, após tudo o que conquistou. É uma pessoa fantástica, especial", disse no sábado Tiago Gouveia, numas palavras que traduzem bem a passagem do argentino pela Luz.

O que disse Gouveia poderia ter saído, certamente, da boca de qualquer dos seus agora já ex-companheiros de equipa, pois Di María foi, de facto, alguém ímpar no Benfica, um jogador que se começou a fazer na Luz e, agradecido, voltou.

Di María chegou ao Benfica em 2007/08, descoberto no Rosário Central, da sua terra Natal, onde nasceu em 14 de fevereiro de 1988. Tinha 19 anos, era franzino, característica que mantém, e ainda não era um jogador conhecido, longe disso.

A primeira época na Europa não foi, assim, fácil, até porque os 'encarnados' também não viviam, propriamente, um período estável, com Fernando Santos a ser despedido após a primeira jornada, sendo substituído por José Antonio Camacho.

Di María já se estreou pelo Benfica com o espanhol, em 29 de agosto de 2007, no triunfo por 1-0 no terreno dos dinamarqueses do FC Copenhaga, que valeu o acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões. Foi substituído aos 73 minutos.

Na primeira época, nem sempre foi titular, mas foi dos mais utilizados -- juntamente com o atual presidente Rui Costa e o ponta de lança paraguaio Óscar Cardozo -, ao somar 45 jogos, nos quais conseguiu um golo e seis assistências.

O golo marcou-o na Liga Europa, na segunda mão dos 16 avos de final, em 21 de fevereiro de 2008, selando, aos 90 minutos, o 2-2 em Nuremberga, na Alemanha, após um 1-0 na Luz, que colocou o Benfica nos 'oitavos'.

A segunda época, em 2008/09, como o espanhol Quique Flores ao 'leme', foi, coletivamente, fraca, salvando-se a Taça da Liga, o primeiro título que conquistou no Benfica, numa final polémica com o Sporting, em que foi lançado apenas aos 64 minutos.

Os 'encarnados' só cumpriram 44 jogos nessa temporada e o argentino, em processo de maturação, disputou 35, nos quais somou quatro golos e três assistências.

Em 2009/10, tudo mudou, com a chegada à Luz do treinador Jorge Jesus, que fez 'crescer' enormemente o argentino, tanto que, no final da temporada, percebeu-se que era impossível segurá-lo na Luz: rumou 'simplesmente' ao Real Madrid.

A sua terceira temporada foi, de facto, notável, com exibições de enorme qualidade, umas atrás das outras, mostrando-se como um jogador distinto, de uma classe à parte, numa equipa recheada de outros craques, como os compatriotas Aimar e Saviola.

No total, marcou 10 golos e somou 18 assistências, em 45 jogos, vencendo uma segunda Taça da Liga, com um 3-0 ao FC Porto, e conquistando o título de campeão nacional, num trajeto em que foi determinante, com cinco tentos e 11 assistências.

Entre uma série de momentos inesquecíveis, ficou o golo de 'letra' que marcou fora da área, na Luz, ao AEK Atenas, da Grécia, em 17 de dezembro de 2009, num embate em que 'bisou' (2-1).

Di María partiu campeão, com 22 anos, rumo ao Real Madrid e não era, então, expectável que alguma vez voltasse, mas, após quatro épocas nos 'merengues', uma no Manchester United, sete no Paris Saint-Germain e uma na Juventus, voltou mesmo.

A festa que os adeptos 'encarnados' fizeram no dia do seu regresso à Luz, em 2023, já com 35 anos, mostra o que significava para o universo benfiquista o seu regresso, depois de vencer tudo, incluindo o Mundial de 2022, no Qatar, com um golo na final.

Voltou veterano, sem a frescura do início, mas com enorme experiência e uma classe refinada, ímpar, que, quando as lesões não lhe tocaram, impôs-se sempre, começando logo a encantar de entrada, com um golo ao FC Porto, na Supertaça (2-0).

Em 2023/24, bateu o seu recorde de jogos pelo Benfica numa época, com 47, que 'adornou' com 17 golos e 13 assistências, mas não conseguiu o grande objetivo de levar a equipa ao título português, que também foi falhado, 'in-extremis', em 2024/25.

Na última época na Luz, despediu-se com uma terceira Taça da Liga, tendo marcado no desempate por penáltis com o Sporting, totalizando 19 golos e nove assistências, em 44 jogos.

Em resumo, foram cinco títulos coletivos, 217 jogos, 51 golos e 49 assistências, mas quem o viu jogar sabe que os seus cinco anos na Luz, como miúdo e veterano, foram muito mais do que isso, dentro e fora do campo. Único, um exemplo.

*** Por Pedro Belo da Fonseca, da agência Lusa ***

PFO // JP

Lusa/Fim