Bruno Lage e as suas fezadas durarão até à última jornada do campeonato. Desta vez, com o destino em mão alheias, tem razões para fazer um apelo aos espíritos. Será nessa convicção intangível que recusou os pedidos para fazer balanços antecipados. Afinal, ainda resta uma janela de oportunidade, mas a hipótese mais flagrante é a do Benfica ficar com os dedos entalados.

Nem sempre o corpo se deixa seduzir pelas intenções do intelecto. Nos gestos e na expressão com que fez a antevisão à visita ao SC Braga não se viu a mesma veemência que tentou implementar no discurso (proferido num tom de voz tépido). “Estamos muito confiantes que podemos vencer e ser campeões, mas com a consciência que não dependemos apenas de nós”, disse sem sinal de que o estivesse a sentir.

Pode não passar tudo de uma estratégia de gestão de expectativas. O cenário é delicado. 79 pontos para uns não são 79 pontos para outros. O confronto direto dita que seja o Sporting, na receção ao Vitória SC, a conduzir o rumo do título. Nesta corrida de caracóis, com dois rivais lentos a decidirem-se, só um deslize dos leões possibilita que o Benfica ainda possa ser campeão.

Bruno Lage tem “total noção do que conta e do que vale vencer a Primeira Liga” e do quão definidora é uma conquista dessa dimensão no julgamento do trabalho do técnico. Ainda assim, com ínfimas probabilidades de celebrar, permanece de “consciência tranquila”, porque “há n exemplos na história” de campeões que só o foram à beira do esgotar do último grão de areia da ampulheta.

Na verdade, não há assim tantos. Não é raro que a luta pelo primeiro lugar só termine na última jornada. Aconteceu algo semelhante a Bruno Lage quando, em 2018-19, conquistou o campeonato pelo Benfica na primeira passagem pela equipa da Luz. Também em 2022/23 (o caso mais recente) as águias guardaram os festejos para o final. Improvável, diz a história, é que esteja reservado para o cair do pano uma plot twist classificativo. A última vez que o clube que estava em segundo lugar permutou com aquele que estava em primeiro aconteceu em 1954/55 quando o Belenenses perdeu terreno para o Benfica.

Em 2020, Lage demitiu-se do Benfica. A equipa terminaria no segundo lugar, atrás do FC Porto. Atualmente, não importa o desfecho, o treinador sente que “a história é diferente” e que, quando deixar o clube, não o fará pela porta pequena. “Ao dia de hoje, as pessoas aqui dentro sabem a competência do treinador e da equipa técnica. Lá fora, as pessoas verificam o trabalho que fizemos”, garantiu.

Para o jogo contra o SC Braga, o Benfica não vai poder contar com Fredrik Aursnes, que sofreu “um ligeiro toque” e deve regressar na final da Taça de Portugal, nem com Zeki Amdouni. Álvaro Carreras insistentemente associado ao Real Madrid irá a jogo.

Na Pedreira, Bruno Lage espera “encontrar um adversário muito competente” e que fez “uma segunda volta muito boa”. Perante um adversário “muito difícil”, é na “concentração” e na “motivação” que o técnico confia. “Temos que fazer a nossa parte”, antecipou.