
Mangas-Suárez-Trincão, parte I, e o jogo foi para intervalo decidido. Mangas-Suárez-Trincão, parte II, e uma noite boa transformou-se em fantástica. A única coisa diferente que poderia ter acontecido no novo Alvalade 2.0, este domingo, era a diferença no resultado ter sido ainda maior. O Arouca não enquadrou um remate com a baliza leonina. O Sporting, por seu turno, marcou seis vezes e falhou mais meia dúzia de oportunidades.
O tempo pós-Gyokeres é a principal incógnita do bicampeão nacional e do próprio campeonato português. Continua a ser, porque a prova é longa e muito está por acontecer, mas os primeiros sinais do Sporting são muito positivos, apontando no sentido de a tormenta não ser tão grave quanto parecia. O leão está recauchutado, joga numa ordem tática diferente da que o levou aos últimos títulos e mostra resultados. Para já, duas vitórias tranquilas na Liga e zero golos sofridos.
É certo que há um momento decisivo para o desfecho do jogo, quando Nandín aborda Inácio de forma muito imprudente (grosseira, na linguagem técnica dos árbitros) e é expulso, com a agravante de ter sido assinalado penálti e o Sporting chegar ao 2-0 quando a partida levava pouco mais de meia hora. O Arouca estava atrevido, queria jogar, mas se ate aí já tinha tido dificuldades perante a afinação dos donos da casa, em muito pior situação ficou.
O campeão nacional nacional não estava para brincadeiras e, ao contrário do que muitas vezes sucedeu no passado, não se encostou à vantagem para gerir a hora que faltava. Fê-lo mais perto do final, mas mesmo assim chegando com perigo à área beirã. O regresso a Alvalade, agora um Alvalade 2.0 com novo figurino e cheio de tecnologias, foi ocasião levada bem a sério pela equipa. Bom relvado, bom ambiente, bom tempo, casa praticamente cheia, porque não brindar os adeptos com um bom jogo?
Existe uma discussão recorrente, levantada quase sempre que uma equipa calha a golear outra, fenómeno por sinal cada vez mais raro: deve quem está a ganhar respeitar o adversário tirando o pé do acelerador? O Sporting entendeu que não, e cá para nós será este o entendimento certo. Comiseração, isso sim, seria desrespeitador para o Arouca. Trata-se de uma equipa profissional, que teve um jogo com as suas vicissitudes e por isso foi penalizada. Mas não precisa que tenham pena dela. Precisa de continuar a trabalhar e de ter melhores dias. Quem sabe, por exemplo, o que pode acontecer dentro de uma volta na visita do leão à serra da Freita?
O Sporting está cada vez mais confortável no 4x2x3x1 de Rui Borges. Joga solto, pressiona, encontra espaços, cria situações e algumas delas até bem bonitas, fazendo lembrar o conceito de nota artística que Jesus ajudou a introduzir em Portugal. O upgrade que o treinador adiou para a nova época parece seguir bom caminho e, para ajudar, os reforços correspondem: Mangas agarrou a titularidade com dois golos marcados (é lateral-esquerdo...), Suárez converteu um penálti com frieza e fez um golaço, Vagiannidis entrou na segunda parte e veio a tempo de fazer uma assistência de lateral para lateral, além de mostrar vários bons movimentos.
Não há Gyokeres, é certo. Começou uma nova era, a vida das equipas de futebol é mesmo assim, até porque está por nascer o jogador que seja maior que algum clube. Na pré-época o Sporting pareceu hesitante. Na Supertaça esteve à altura e perdeu como poderia ter ganho, frente a adversário de cotação semelhante. Na Liga, para já, está arrasador. Não sabemos como vai acabar, mas é muito claro que começa bem.