Artur Lopes tem "dúvidas" sobre se Fernando Gomes daria um bom presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), embora reconheça que Laurentino Dias tem a "pecha" da partidarização, admitindo não haver "perfis ideais" entre os candidatos.

"Acho que o Fernando Gomes é uma pessoa que, fruto da sua capacidade de trabalho e fruto da sua capacidade de ver e de angariar coisas, da sua visão nesse aspeto, é capaz de ir para uma empresa e trazer uma mais-valia. Em relação ao COP, tenho as minhas dúvidas. Permitam-me que tenha essas dúvidas. Não estou a dizer que não venha a ser um ótimo presidente. Espero, se for eleito, que o seja, mas tenho as minhas dúvidas", assumiu o atual presidente do COP.

Em entrevista à agência Lusa, na sede do organismo, a cinco dias das eleições que vão ditar o seu sucessor, Artur Lopes elogiou a "obra" que Fernando Gomes deixou na Federação Portuguesa de Futebol (FPF), onde "foi capaz de gerir muitos milhões".

"Mas não é a realidade daqui. Aqui não há nada disso. [...] Gerir é, com muitíssimo pouco, conseguir fazer bastante", distinguiu.

Para o presidente do COP, o líder da Lista B é "um homem com sorte, porque esteve [na FPF] numa altura em que Portugal e as suas seleções estavam ao mais alto nível, ganhando muito dinheiro" e em que as apostas desportivas "entortaram a maior parte do dinheiro, com a conivência dos governos, para algumas federações, nomeadamente e, sobretudo, a do futebol".

"E teve a felicidade de o acompanhar na sua vigência de presidente uma marca mundialmente conhecida e das marcas maiores do mundo, 'CR7' [numa referência a Cristiano Ronaldo]. [...] Ter essa marca ao seu lado, são milhões a entrar. [...] E o Fernando Gomes teve-a durante o seu trajeto. E isso para ele foi ótimo. Agora, é evidente que com aqueles milhões todos por trás, há 'rabos de palha' que vão ficando", evidenciou.

Artur Lopes alegou ainda que, durante os três mandatos de Gomes na liderança da FPF, "o valor que é dado ao olimpismo não entrou naquela casa", aludindo primeiramente à ausência do dirigente das Assembleias Plenárias do organismo olímpico

"Vir a uma plenária é vir ao sítio certo onde, cara a cara, se devem discutir todos os problemas que dizem respeito a esta casa, nomeadamente aos valores do desporto, às contas que se passam no desporto, ao equilíbrio do que se faz aqui dentro, a tudo isso. Isso não é política, isso é diretamente atuar no desporto", argumentou, considerando que as ausências do anterior presidente da FPF eram resultado de "um desinteresse completo".

O presidente do COP questionou também se Gomes "fez toda a força necessária e suficiente para que houvesse uma representação olímpica do futebol", modalidade que esteve presente apenas no torneio masculino do Rio'2016.

"O futebol, mesmo não sendo os craques de primeira, pode compor uma equipa. Dir-me-ão: não querem. Não querem porque não há uma direção dentro da federação que os impulsione e diga que é muito importante ganhar uma medalha olímpica", sustentou, dando como exemplo a Argentina e Lionel Messi.

Dizendo conhecer bem os dois candidatos, de quem quer fazer avaliações apenas sobre os respetivos trajetos no desporto e programas para o COP, Artur Lopes opinou também sobre o líder da Lista A, que conheceu enquanto secretário de Estado do Desporto nos governos de José Sócrates (2005-2011).

"Em relação ao Laurentino, tem uma pecha que não é a politização - todos nós somos políticos e temos posições políticas -, mas é a partidarização, que era algo que era muito negativo. [...] Quando eu vi a sua lista, até acho curioso: tem vários PSD's, tem várias pessoas da continuidade, tem CDS's e PS's terá um ou outro, não digo que não", concedeu.

Lopes integra a lista de Dias, como candidato a presidente do Conselho de Ética, depois de ter sido 'pressionado' para aceitar um cargo que considera ser capaz de desempenhar, como evidencia o seu percurso no desporto.

"É óbvio que se pertenço a uma lista é porque acho que esse candidato terá alguns pontos que são, em relação a outra lista, preponderantes. Isso é lógico", disse, rejeitando, contudo, ter feito campanha ou interferido a favor de qualquer um dos candidatos.

As eleições para a sucessão de Artur Lopes, que preside ao COP desde a morte de José Manuel Constantino em agosto, estão agendadas para a próxima quarta-feira.

"Se me dissesse assim 'era aquele homem, o perfil ideal daquilo que eu gostaria?'. Mas não há perfis ideais", confessou.