
Se tiver um problema, caro leitor, vai desabar com alguém ou procurar acompanhamento psicológico? Considera que um homem cuidar de si esteticamente está errado? Foi numa conversa desprovida de complexos ou tabus que três jogadores da Seleção Nacional de râguebi discutiram temas como estes durante a apresentação do estudo 'O autocuidado masculino em Portugal' powered by Dove Men+Care, inserido no Rugby Youth Festival, no Estádio Universitário de Lisboa.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e muitas ideias pré-concebidas no imaginário do homem português parecem estar obsoletas. De acordo com estudo apresentado pela psicológa Madalena Lupi, só 15% dos homens consideram negativo cuidar da aparência física, sendo que 80% dizem que cuidar da aparência aumenta a autoestima e o bem estar emocional.
"Cada vez menos existe esse tabu entre homens", conta a Record Vasco Baptista, jogador da Seleção de râguebi. "Existe muito a rotina de cortar o cabelo e de fazer a barba antes do jogo. Há uma frase que é muito usada na Nova Zelândia que é 'look good, feel good, play good'. Levo muito isso para o jogo. Sentir-me bem para jogar bem, no fundo."
No estudo da psicóloga Madalena Lupi, 52% dos homens inquiridos revelam que usam produtos como creme de rosto, loção corporal ou produtos de barba como after shave. A ideia de masculinidade associada à falta de cuidados com o corpo parece estar cada vez mais em queda.
Os homens já se cuidam sem aquele tabu do antigamente. Já vão para além do gel de banho e do shampoo, tomam muita atenção à sua imagem. Mais positivo é assumirem o impacto que isso tem na sua autoestima e na sua estabilidade emocional
Madalena Lupi
Psicóloga
Menos promissores são os resultados do estudo sobre as dificuldades que o homem sente em falar quando está emocionalmente em baixo. Apenas 1 em cada 4 admitem desabafar em situações de stress e menos de 10% recorrem à ajuda de um profissional. Há um longo caminho a percorrer no sexo masculino em questões de saúde mental, uma vez que ainda está instalada na sociedade a ideia que o homem não chora e que tem de resolver os problemas sozinhos.
"Não vale a pena estar a ignorar essa realidade, mas só o facto de estarmos a ter esta conversa é uma demonstração do longe que já chegámos", admite António Prim, jogador da Seleção. "Sou uma pessoa que até gosta de falar, mas confesso que parece que há um entrave quando chega a altura de falar desses tópicos, de alguma coisa mais emocional."
Os homens têm uma mentalidade mais fechada e são mais reservados. Está incutida a ideia de que se tenho um problema não o vou partilhar com outros, porque os outros não vão saber resolver
Madalena Lupi
Psicóloga
José Rebelo de Andrade, jogador da Seleção, também admite que o desabafo é já feito muito tarde. "Tenho um dois amigos que são meus confidentes, mas só o faço em situações de rutura. Até lá está tudo bem. Também já recorri à ajuda profissional de psicólogos e sou super apologista disso. Não há problema nenhum", sublinha.
A apresentação do estudo contou também com Joaquim Meirelles, vice-presidente da Federação Portuguesa de Rugby, António Casanova (Unilever), António da Cunha (Move Sports) e Marta Quelhas, responsável de marketing da Dove.
"É com muito gosto que estamos há 8 anos no Rugby Youth Festival", destacou Marta Quelhas. "É uma simbiose que ajuda a celebrar aquilo que é a força dos homens, mas também o respeito, a integridade, o companheirismo, e porque fora do campo as dificuldades e as emoções existem e têm de ser geridas."