Já passaram quatro anos desde a trágica morte de José Agostinho Becker, que tinha apenas 57 anos quando faleceu. Agora, Alisson Becker decidiu recordar a memória do seu pai numa carta dirigida à família escrita no The Players Tribune, revelando como viveu o momento.

«Quando recebi o telefonema com a notícia de que o meu pai tinha morrido estava a um oceano de distância. Estava em Liverpool, a meio da época 2020/21. A morte dele foi repentina, um choque total», começou por escrever o guardião do Liverpool.

«A minha mãe ligou-me a dizer que houve um acidente e que o meu pai se tinha afogado na barragem perto da nossa casa. Caiu-me o chão. Não parecia possível que alguém como o meu pai pudesse realmente ter morrido. Ele era um homem de verdade, como dizem. Um homem muito forte», continuou o brasileiro.

Alisson Becker
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No meio de uma pandemia e à espera do terceiro filho, o guarda-redes passou por momentos muito conturbados e difíceis: «Fiquei destruído. Não conseguia pensar no futebol. Tinha de me lembrar que jogava futebol e que estávamos a lutar pelos quatro primeiros lugares na Liga Inglesa. Era ainda mais complicado porque estávamos a meio de uma pandemia e a logística de voltar para casa era um pesadelo. O médico da minha esposa disse que era arriscado viajar e que teria de ficar em Liverpool com os nossos filhos. Isso foi uma angústia total para ela porque amava muito o meu pai.»

O guardião, que foi apoiado por todos os colegas de equipa, referiu também como foram os primeiros momentos após ter conhecimento da notícia: «A primeira coisa que me lembro foi de todas as flores a chegar a nossa casa. Do Virgil Van Dijk, do Andy Robertson, do Fabinho, do Firmino, do Thiago... e assim por diante. Todos os meus irmãos. Todos nos enviaram flores, manifestando os seus sentimentos.»

«O Klopp permitiu-me ter tempo para cuidar das minhas dores, poucos treinadores seriam tão compreensivos. Ele não era apenas um treinador para mim, era como um segundo pai. Ray Haughan, que era o diretor do clube na altura, mandou-me mensagem a dizer que se tinham reunido e concordado em arranjar um voo particular para eu ir ao funeral para que eu não me tivesse de preocupar com nada», escreveu.

«Mas era uma situação impossível porque, quando voltasse, teria de ficar em quarentena num hotel durante 15 dias. A ideia de voltar do funeral do meu pai e ficar preso num quarto sozinho era difícil, mas a pior parte era imaginar a minha esposa ficar sozinha durante tanto tempo. Estava nos últimos meses de gravidez, tudo poderia acontecer», completou o jogador de 32 anos, que recebeu condolências de figuras como Pep Guardiola ou Carlo Ancelotti.

«Tivemos de assistir ao funeral por videochamada. O meu irmão segurou o telemóvel durante toda a cerimónia e eu pude rezar e chorar com a minha mãe e até me despedir do meu pai no seu caixão. Naquele momento, por mais estranho que pareça, esqueces-te de que está num ecrã. Todas as memórias e o amor superam a distância e estás a falar com o teu pai na eternidade», pode ler-se ainda.

«Quando voltei a treinar, alguns dias depois do funeral, pensei no meu pai em momentos aleatórios. Não pude evitar. Imagina tentar organizar a barreira antes de um livre do Alexander-Arnold, e ter lágrimas a inundar-te os teus olhos, já é difícil quando não estás a chorar! Mas os meus companheiros de equipa foram inacreditáveis. Eles nunca me julgaram», referiu.

O jogador lembrou ainda a partida frente ao West Bromwich, em que marcou no último momento do jogo: «Estávamos a jogar uma partida crucial contra o West Bromwich, a lutar por uma vaga na Liga dos Campeões, e tínhamos de vencer a partida. O nosso treinador de guarda-redes gritou para eu correr para a área. Não tinha nada a perder. Como guarda-redes, tu nunca, nunca, nunca pensas que vais realmente marcar um golo. Então estou cercado por um calor, essa é a única maneira que posso descrever. Todos estão a abraçar-me. O Thiago está a abraçar-me e a chorar. O Firmino está a abraçar-me, a chorar e a rir ao mesmo tempo. O Salah está a comemorar como uma criança e a pular em cima de mim. Nunca o vi tão feliz depois de outro companheiro marcar um golo.»