O termo Boxing Day teve a sua origem na tradição de oferecer caixas com diversos bens às pessoas mais pobres no dia a seguir ao Natal, num ato de caridade também associado ao dia de S. Estêvão (celebrado no ocidente a 26 de dezembro). No século XVII, altura em que esta prática despontou em Inglaterra, vários empregadores davam o dia de folga aos seus empregados, especialmente aos que tinham trabalhado durante o dia 25.
O primeiro dia útil a seguir ao Natal é feriado em Inglaterra e País de Gales desde 1871. Em 1888, a Liga Inglesa de futebol foi criada e, durante muitos anos, tanto o Boxing Day como o próprio dia 25 foram parte de um ritual futebolístico que tirava as famílias das suas casas para assistirem ao vivo a grandes encontros. O último jogo disputado no dia 25 de dezembro aconteceu há 59 anos, mas o Boxing Day continua a ser uma das jornadas mais mediáticas e carismáticas do futebol britânico.
O Boxing Day de 1963 é ainda considerado um dos mais loucos de sempre, sendo tipicamente relembrado em várias publicações nesta altura do ano. Com 66 golos a serem apontados em 10 jogos e alguns resultados chocantes, como a derrota do Manchester United por 6-1 no terreno do Burnley, é impossível ignorar este dia ao analisar o histórico da festividade.
São vários os fatores que ao longo dos anos tornaram esta jornada tão única. Em tempos mais longínquos, derbies locais eram agendados para a quadra festiva de modo a garantir bancadas cheias, ao diminuir a quilometragem das viagens dos adeptos. As condições mais variáveis do terreno de jogo (muitas vezes com presença de gelo ou neve) resultavam numa maior imprevisibilidade dos resultados e o espírito natalício e mais “familiar” foi desde sempre palpável, continuando a sentir-se atualmente nos estádios.
Já na era Premier League, vários jogos memoráveis marcaram o dia 26 de dezembro, incluindo chuvas de golos, resultados inesperados ou remontadas incríveis. As redes sociais do principal escalão do futebol britânico e as plataformas de distribuição multimédia fazem questão de destacar uma das jornadas que maiores números registam em termos de audiências televisivas.
Indo à estatística, verifica-se que o Manchester United é o emblema mais eficiente neste feriado desde a fundação da Premier League, com uma percentagem de vitória nos 78,6%, claramente acima do seu grande rival Liverpool, que venceu em 65,4% das ocasiões.
Como é o caso em todas as tradições, haverá certamente quem não aprecie tanto esta jornada natalícia. É provavelmente o que acontece com os fãs do Newcastle, já que são a equipa com o pior registo no Boxing Day, com 47 derrotas (16 das quais na Premier League).
Desta feita, será o tetracampeão Manchester City a entrar primeiro em campo neste Boxing Day. O encontro no Etihad frente ao Everton deverá ser um ponto de viragem para os comandados de Pep Guardiola, que têm um registo chocante de nove derrotas nos últimos 12 encontros.
Na luta pelo título, Chelsea e Liverpool vão receber Fulham e Leicester, respetivamente, com obrigação de vencer para reafirmar as candidaturas ao título. O Arsenal vai entrar em campo apenas no dia 27, em casa frente ao Ipswich, já conhecendo os resultados dos principais rivais.
Especificamente para o público português, as atenções estarão muito viradas para o primeiro embate entre os novos treinadores lusos desta edição da Premier League. Em situação delicada, o Wolverhampton contratou Vítor Pereira aos sauditas do Al-Shabab, entregando-lhe a missão de fugir aos lugares de descida, e conseguiu logo à partida uma vitória convincente em Leicester. Já Rúben Amorim, ao leme dos red devils, tenta ainda ganhar a confiança de um dos grupos de adeptos mais exigentes do mundo, depois de uma derrota comprometedora na receção ao Bournemouth.
Já agora, será também boa ideia pôr um olho no que se vai passar em Nottingham, no encontro entre Tottenham e os tricky trees, a equipa sensação desta edição da liga, sob orientação de Nuno Espírito Santo.
O futebol durante a época festiva é, para inúmeros adeptos britânicos e espalhados pelo mundo, a melhor parte da época. Para além de assinalar a metade da temporada (dando já uma primeira ideia do que poderá ser o seu desfecho), é um pretexto para, durante o Boxing Day, as deslocações em família aos estádios ou para reunir velhos amigos em qualquer pub onde a televisão tenha os direitos para transmitir o melhor futebol do mundo.