Entre o final de 2024 e o início de 2025, o Benfica pareceu desistiu de jogar primeiras partes. Em Alvalade e contra o Sporting de Braga, as águias entraram nos encontros sem, verdadeiramente, terem presença competitiva neles. Foram arranques apáticos, com pecados táticos, técnicos e de agressividade.
Bruno Lage, ao considerar a falta de eficácia a causa maior das duas derrotas seguidas, parecia contribuir para o estado de adormecimento. No entanto, ao terceiro embate de alta exigência, muito mudou.
Havia primeiras partes de pouco fulgor ofensivo? Então tomem lá três golos num primeiro tempo. Queixavam-se de uma equipa com pouca velocidade e criatividade? Então vejam minutos de jogo elétrico, com muitas oportunidades, num desafio em que o Benfica até foi bem mais perdulário do que nos dois embates prévios.
A noite de Leiria — na Taça da Liga dos mil e um formatos e da promessa sempre adiada, qual horizonte em constante fuga, da famosa “internacionalização”, da exportação do torneio para o estrangeiro que tarda em suceder — foi de recuperação da energia das águias. Na segunda parte, já com 3-0 no marcador, a equipa de Bruno Lage mantinha-se a correr com um sentido de urgência como raramente apresentou no passado recente.
O 3-0, que marca um dérbi contra o Sporting na final da Taça da Liga, é uma história do vendaval Benfica que, durante boa parte do jogo, atropelou o SC Braga. Aos 25’, já os lisboetas haviam disposto de diversas oportunidades claras: um cabeceamento de Tomás Araújo à trave, um tiro de Carreras para defesa de Matheus, um remate por cima de Pavlidis.
Mas é preciso magia para concretizar a energia. É preciso arte para dar sentido ao ímpeto. E a arte está sempre presente em Di María, estrela maior da meia-final. Aos 27', após tabela com Tomás Araújo, o central que foi lateral e, com a sua técnica, deu lições de como atacar, Di María atirou para o 1-0. O marcador começava a expressar a superioridade de um conjunto que foi sempre muito melhor.
Para resumir a fome do Benfica, basta ver que, logo depois do 1-0, veio o 2-0. Bola ao centro e, como quase todas as bolas que o Sporting de Braga foi jogando, bola rapidamente recuperada pelo Benfica. Kökçü dá para Álvaro Carreras, que tira Vítor Carvalho — uma sombra do que fez na Luz — da frente e atira para o golo.
A equipa de Carlos Carvalhal, no reencontro com o ex-adjunto Bruno Lage, foi quase sempre um conjunto perdido em campo. Com os problemas defensivos do costume, com enormes problemas para chegar perto de Trubin. Só aos 48', num remate muito perigoso de Roger, conseguiram os minhotos realizar um disparo, na única oportunidade de golo que os vencedores da passada edição deste troféu criaram.
Um bom exemplo da vontade do Benfica foi Pavlidis. O grego voltou a não marcar, apesar das várias chances de que dispôs. Tentou uma e outra vez, mas ou não tinha pontaria, ou Matheus defendia, ou chegava atrasado, terminando sempre essas jogadas com o mesmo ar triste daquela pessoa que perde o autocarro no último instante, um homem desolado por ter de estar mais uns longos minutos na paragem.
Não obstante, Pavlidis não saiu do jogo sem contribuir. Mais lesto a combinar do que em partidas recentes, teve uma grande jogada rumo ao 3-0, num lance que sintetizou boa parte da partida: houve erros defensivos do SC Braga, com más abordagens de João Ferreira e Robson Bambu, houve energia do Benfica, com Pavlidis a correr metros e metros, houve precisão, num belo cruzamento do helénico.
E houve Di María, que finalizou com carinho, suavemente. 3-0 e a meia-final quase decidida ao intervalo.
Andreas Schjelderup foi a grande novidade no onze de Lage. Foi a primeira vez que o jovem norueguês atuou de início na equipa principal do Benfica. Com bons pormenores técnicos, esteve quase a marcar depois do descanso, quando foi servido por Pavlidis e contornou Matheus, mas viu João Ferreira evitar o 4-0 em cima da linha.
Com um jogo de simulações e tentativas de finta curta, Schjelderup voltou a destacar-se pouco depois, fintando João Ferreira e picando por cima de Matheus. Pavlidis empurrou para o fundo das redes, mas estava fora de jogo. O ex-AZ Alkmaar voltou a não marcar, mas desta feita saiu debaixo de aplausos, longe dos assobios do último desafio. O que uma vitória faz.
Com o resultado muito desnivelado, Carlos Carvalhal tentou mexer na equipa para o segundo tempo, mas o SC Braga passou por Leiria como uma equipa ausente, uma memória distante do conjunto equilibrado e assertivo do passado sábado. Di María, até sair, foi dando espetáculo, como se, a um mês de cumprir 37 anos, este campeão do mundo, campeão da América, campeão da Liga dos Campeões, campeão de tudo, nos quisesse lembrar do privilégio que é ter um dos melhores futebolistas da sua geração a pisar os relvados nacionais.
Com o aproximar do final, o Benfica foi começando a pensar na final de sábado. Grande dominador das edições inaugurais da Taça da Liga, ganhando sete dos nove primeiros troféus, o clube da Luz não leva o troféu desde 2016. Para o Sporting de Braga, o pesadelo completou-se aos 78', quando o jovem Jónatas Noro, defesa de 19 anos que nunca atuou, sequer, na I Liga, foi expulso com vermelho direto apenas cinco minutos depois de entrar.
Os derradeiros minutos foram um tranquilo aguardar pela conclusão de um embate que nunca foi um embate. Foi mais um atropelo, uma explosão de energia contra uma junção de erros. O primeiro troféu de 2025 será decidido com um dérbi eterno.