Com a discussão do 79.º título da NBA entre Oklahoma City Thunder, campeões da Conferência Oeste, e Indiana Pacers, de Este, que arranca na próxima madrugada, a serem uns Finals inéditos e a certeza de que, pelo menos, haverá um campeão diferente não só das últimas seis temporadas (Raptors, Lakers, Bucks, Warriors, Nuggets, Celtics) – algo que nunca aconteceu na história da Liga – mas, no mínimo, dos últimos 46 anos ou então até novo, são muitos os factos, curiosidades e expectativas que rodeiam a discussão do Troféu Larry O’Brien 2024/25.

Finalistas que são de mercados pequenos. Quais serão as audiências?

Até em termos de audiências e acompanhamento dos adeptos quando não está envolvido nenhum clube dos chamados grandes mercados da NBA, ou mesmo médios, e do desporto da América do Norte, mas vindos dos mais pequenos.

Ora, entre os 30 clubes, os Pacers estão colocados em 22.º do ranking desses mercados, com 1,183 milhões de televisões numa população metropolitana de 2,126 milhões. Ainda mais abaixo encontram-se os principais candidatos Thunder, 26.º, com 755 mil para uma população de 1,435 milhões de pessoas.

Máximo de audiências no 'play-off'

E aí começa uma das curiosidades. Apesar dos grandes e tradicionais clubes terem caído cedo na segunda fase (os que lá chegaram), apenas os Knicks se aguentaram até à final de Este, a NBA não pode deixar de estar satisfeita com as audiências. E isto tendo em conta que, hoje em dia, medir apenas esse acompanhamento dos jogos pela televisão já não é verdadeiramente real, tal a quantidade de pessoas, maioritariamente mais jovens, que o fazem através de outras plataformas.     

Ainda assim, o play-off registou um aumento de audiência de 3 por cento de telespectadores (4,20 milhões de pessoas) face à época anterior (4,10 milhões) nos canais da ABC, ESPN, TNT e NBA TV.

Melhor, os encontros de play-off tiveram de share 10,6, o que significa que 10,6 por cento dos lares que têm televisão nos Estados Unidos assistiram, pelo menos, a parte da ação em campo. Recorde para a 2.ª fase do campeonato.

E para muitos especialistas, isso confirma que, apesar das audiências televisivas estarem em quebra, a transmissão em direto de eventos desportivos ao mais alto nível não.

Gilgeous-Alexander e Haliburton dos mais seguidos nas redes sociais

A ajudar em tudo ou reflexo disso, o facto de Shai Gilgeous-Alexander, estrela dos Thunder e MVP da regular season, ter sido o jogador mais seguido nas redes sociais de NBA durante o play-off e Tyrese Haliburton, líder dos Pacers, o terceiro.

De qualquer maneira, são números que, certamente, deixaram satisfeitos os canais que transmitiram o play-off. Os Finals serão em exclusivo na ABC, pela última vez. NBC, ESPN e Amazon Prime Video irão pagar 77 mil milhões de dólares (67,5 mil milhões de euros) pelos direitos de transmissão nos próximos 11 anos, a começar em 2025/26.

E se séries como Celtics-Knicks na meia-final de Este e Knicks-Pacers na final ajudaram a elevar as médias de audiência, na conferência contrária a Thunder-Wolves da final de Oeste não. Além de ter ficado resolvida em cinco partidas, três foram por mais de 25 pontos e outra por 15. O que ajudou a que houvesse quem mudasse de canal mais cedo.

As dinastias estão condenadas ou pode estar a começar uma?

E agora algumas questões que se têm colocado: será que terminaram as dinastias na NBA, equipas capazes ganhar vários títulos num determinado período? É essa a razão porque o campeão será diferente nas últimas sete temporadas e que as novas, dispendiosas taxas de luxo, com níveis de impostos, podem ainda vir a complicar mais o ressurgimento de um clube dominador? Os mais pequenos ficaram, finalmente, com mais hipóteses face aos aos grandes em termos de hipóteses de construção de plantéis para os títulos, mesmo quando aqueles não se importam de pagar para ganhar ?

Esta é uma pergunta que só nos próximos anos poderá ser respondida e com a curiosidade dos Thunder deterem uma equipa muito jovem (25.6 anos) – a segunda mais nova de sempre numa final, só superada pelos Blazers de 1976/77, com 25,03 -, de qualidade e… ainda barata. Mas que quando começar a ter de renovar contratos vai ter a vida mais complicada.

Até porque não se sabe se os donos estão dispostos a pagar para tentarem ser campeões, como acontece, por exemplo, com Celtics, Lakers, Suns, Wolves, Warriors…

Note-se que, nos passados 24 anos, os Lakers conquistaram seis títulos, os Spurs cinco, os Warriors quatro e os Heat três. Ou seja, 13 por cento dos clubes arrebataram 75 por cento dos campeonatos.

E isto sem ter de recuar à década de 90, quando os Bulls venceram seis em oito temporadas, ou na década de 80, com Lakers (5) e Celtics (3) a arrebatarem oito títulos em nove épocas e de pelo menos um deles estar nos Finals em todos esses anos.

Thunder e Pacers 'não valem muito' e 'pagam pouco'

Engraçado é também o facto dos dois finalistas serem clubes que na avaliação anual da Forbes sobre a NBA apenas surgirem na segunda metade da tabela. Em outubro, os Thunder (21.º) foram avaliados em 3,65 mil milhões (3,303 mil milhões de euros) e têm um volume salarial com o plantel de 168 milhões (147 milhões), que é o 25.º mais dispendioso.

Por seu lado, os Pacers valerão 3,6 mil milhões (2,158 mil milhões), com pagamentos de salários aos jogadores de 170 milhões (149 milhões), o 22.º mais caro. Ambos bastante longe do que pagaram Suns (€194 milhões), Wolves (€180), Celtics (€171), Knicks (170) ou Lakers (168) para terem as equipas que apresentaram. Os Suns então, nem ao play-off passaram. Um escândalo!  

Numa final inédita, pode haver estreia de campeão

Mas, como foi referido, além do fenómeno do campeão ir ser diferente em sete temporadas, caso os Pacers ganhem haverá um vencedor inédito. O conjunto do estado de Indiana deixará o lote daqueles que nunca celebraram um título, onde também figuram Suns, Jazz, Nets, Magic, Hornets, Clippers, Wolves, Grizzlies e Pelicans.

E viverão aquilo que apenas alcançaram na ABA (American Basketball Association) em 1970, 1972 e 1973, antes desta se extinguir em 1975/76 e juntamente com Spurs, Nuggets e Nets acabarem integrados na NBA.

Mas esta é a segunda ocasião que os Pacers atingem os Finals. A primeira aconteceu em 1999/00, onde foram derrotados pelos Lakers de Shaquille O´Neal e Kobe Bryant por 4-2. Indiana era liderado por Larry Bird e entre os adjuntos estava… Rick Carlisle.

Carlisle pode ter perdido essa final, no entanto, sabe bem o que é ser campeão. Primeiro como jogador, pelos Celtics em 1985/86. Depois, quando conduziu os Mavericks ao título em 2010/11, contra os Heat (4-2). Aliás, Carlisle, de 65 anos, é apenas quinto técnico a fazer chegar dois clubes diferentes aos Finals desde 1976/77.

Os Thunder, caso vençam, não serão propriamente estreantes. Já o conseguiram em 1978/79, quando bateram os Bullets por 4-1, tendo ainda a designação de Supersonics, que mantiveram desde 1965/66 até saírem de Seattle após 2007/08.

Terem mudado de cidade e estado não os torna num novo clube, caso contrário os Golden State Warriors não tinham sete títulos, pois o primeiro de sempre da NBA (1946/47), quando ainda estavam em Filadélfia, não contaria. E conta! Assim como o de 1955/56. O mesmo acontece, por exemplo, com os Lakers e o período em que estavam em Minneapolis.

Três jogadores que sabem o que é celebrar o título

Por isso, para os Thunder trata-se da quinta (1977/78, 1978/79, 1995/96) aparição nos Finals, mas segunda em Oklahoma City e como Thunder, tendo na primeira acabado batidos pelos Heat em 2011/12 (4-1), naquele se se tornou no primeiro dos quatro títulos de LeBron James. Já para o treinador Mark Daigneault, de 40 anos, esse sim, viverá a primeira final.  

Mas Carlisle não é o único a já ter sido campeão da NBA nesta final. Nos Pacers, Pascal Siakam conseguiu-o ao serviço dos Raptos em 2018/19 e Thomas Bryant pelos Nuggets em 2022/23. Nos Thunder, Alex Caruso fê-lo com a camisola dos Lakers em 2019/20.

A final que dá para ir de carro entre cidades

Outra curiosidade: Oklahoma City e Indianápolis estão distanciadas por apenas por 1.191km. Desde a fusão da NBA com a ABA que os dois finalistas não estavam localizados tão perto um do outro. Melhor, desde 1970/71, no embate Milwaukee Bucks-Baltimore Bullets, que ficam a 1033 km, que os pavilhões da luta pelo título não eram tão próximos.

Apesar disso, ainda bem que os clubes têm aviões charter, são obrigadas a tal durante toda a temporada pelas regras da NBA, pois não existem voos diretos entre as duas cidades. Lá está, dois mercados pequenos, ainda que Indianápolis esteja habituada a receber centenas de milhares de visitantes por causa das suas corridas de automobilismo, das mais importantes do país.

Não lhes ligaram no Dia de Natal e agora podem ser campeões

Agora, tendo os Thunder (68 v-14 d) sido a melhor formação da fase regular em toda a Liga e os Pacers (50 v-32 d) a quarta de Este, não deixa de ser singular que nenhuma tenha integrado as dez eleitas para os tradicionais cinco jogos do Dia de Natal (76’ers-Celtics, Spurs-Knicks, Wolves-Mavericks, Nuggets-Suns, Lakers-Warriors). Algo que não acaba por se verificar desde 2006/07, em que só houve um jogo no Natal...

A maioria do país contra os Thunder, mas nas casas de apostas não

Já os fãs, ainda que a maior parte dos Estados Unidos estejam a puxar pelos Pacers, só 13 dos 50 estados desejam que ganhem os Thunder tendo por base desta conclusão a análise dos apoios declarados nas redes sociais de cada estado, as casas de apostas mostram claramente o contrário. Aos campeões de Este é dada a hipótese de apenas 17 por cento de virem a ser bem-sucedidos no objectivo. O resto vai para o conjunto de Oklahoma City. 

Contra os Pacers estará ainda o facto de, desde 1983/84, nenhuma equipa que tenha ficado em 4.º na fase regular de uma conferência acabe a conquistar o ceptro. Em 2009/10 os Celtics tentaram inverter a tendência, mas os Lakers impediram-nos no Jogo 7. Quinto e último título de Kobe Bryant.     

Talvez por os Thunder terem sido os melhores da fase regular e a consistência mostrada no play-off. No total ganharam 80 dos 98 encontros até agora disputados. Mas também por, apenas terem perdido uma vez contra adversários de Este. Aconteceu ante os Cavaliers (129-122), que terminaram como líderes da conferência (64 v-18 d). Contra os Pacers OKC resolveu as coisas sempre com vitórias: 114-120 e 132-111.

Recorde-se que, para aqui chegarem, no play-off, os Thunder eliminaram: Grizzlies, 4-0); Nuggets, 4-4; e Wolves, 4-1. Já os Pacers: Bucks, 4-1; Cavaliers, 1-4; e Knicks, 2-4.    

Nove estrangeiros na final

Por fim, numa temporada em que o canadiano Shai Gilgeous-Alexander fez com que, pela sétima vez consecutiva, continue a não ser eleito nenhum americano para MVP da regular season - também se não fosse ele o mais votado havia sido o sérvio Nikola Jokic (Nuggets), os basquetebolistas estrangeiros voltam a marcar presença nos Finals. Além de SGA, a formação de Oklahoma conta igualmente com o canadiano Luguentz  Dort, o alemão (também americano) Isaiah Hartenstein, o francês Ousmane Diengo e o belga Ajay Mitchell.

Nas fileiras de Indiana, outros dois canadianos, Andrew Nembhard e Bennedict Mathurin, o camaronês e MVP da final de Oeste Pascal Siakam, e o australiano Johnny Furphy. 

Tudo a preços mais 'razoáveis'

Ah, e mais uma coisa. Os Knicks, Celtics e Lakers terem ficado pelo caminho ajudou a, se é que se pode dizer assim, normalizar o preço dos bilhetes no Paycom Center (18,202 lugares), em Oklahoma, e no Gainbridge Fieldhouse (17.275), em Indianápolis.  Para o Jogo 1 estão a ser vendidos no mercado de revenda com uma média de $570 (€500), para o Jogo 2 a 678 (€595). Quando a série se transferir para Indiana, o Jogo 3 tem como média $734 (€644) e o Jogo 4 $689 (€684). 

Que comecem os Finals!