
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alertou hoje que a Rússia continua a matar pessoas na Ucrânia e que, no dia da cimeira entre os líderes russo e norte-americano no Alasca, nada prenuncia o fim da guerra.
"No dia das negociações, a Rússia continua a matar como sempre, e isso diz muito", declarou Zelensky na rede X, quando, quase em simultâneo, o Presidente norte-americano, Donald Trump, recebia o homólogo russo, Vladimir Putin, em Anchorage, no Alasca, para uma cimeira centrada no conflito na Ucrânia.
Na sua mensagem, o líder ucraniano, que não foi convidado para a cimeira, referiu relatórios dos serviços de informação e de várias regiões do país que indiciam "o que Putin quer colocar em cima da mesa" no Alasca.
Zelensky assinalou bombardeamentos russos ao mercado central de Sumy, no nordeste da Ucrânia, em localidades e empresas na região central de Dnipropetrovsk, e ainda "ataques deliberados" em Zaporijia, Kherson, no sul do país, e Donetsk, no leste.
"A guerra continua. Continua precisamente porque não só não há uma ordem, como também não há sinais de que Moscovo se esteja a preparar para a terminar", condenou.
Ao longo do dia, o Presidente ucraniano foi divulgando várias mensagens nas redes sociais relacionadas com a cimeira no Alasca, apesar da sua ausência, e recordou os contactos prévios que manteve com o homólogo norte-americano e vários líderes europeus.
"Todos querem um fim honesto para a guerra. A Ucrânia está pronta para trabalhar da forma mais produtiva possível para acabar com a guerra. Esperamos uma posição firme dos Estados Unidos. Tudo dependerá disso --- os russos respeitam a força americana. A força, especificamente", salientou.
Nesse sentido, insistiu na necessidade de se reunir com Trump e Putin, argumentando que "soluções eficazes são possíveis neste formato", ao mesmo tempo que reafirmou o pedido de garantias de segurança a Kiev como condição para uma paz duradoura.
Observando que Kiev e Anchorage mantêm uma diferença de onze horas, Volodymyr Zelensky indicou que sábado "começará cedo para todos na Europa" e que o dia será dedicado a "conversações importantes".
O Presidente norte-americano já afirmou que pretende agendar uma reunião tripartida com Zelensky e Putin, caso a cimeira de hoje no Alasca produza resultados, uma posição entretanto partilhada pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Donald Trump admitiu também envolver dirigentes europeus nas conversações, no seguimento de uma ronda de reuniões virtuais promovidas na quarta-feira pelo chanceler alemão, Friedrich Merz, que juntaram o Presidente norte-americano, o homólogo ucraniano, e os líderes francês, Emmanuel Macron, britânico, Keir Starmer, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o secretário-geral da NATO, Mark Rutte.
Após estes contactos e falando em Berlim ao lado de Zelensky, Merz apoiou os esforços de Trump, mas avisou que "os interesses fundamentais da segurança europeia e ucraniana devem ser protegidos".
Do mesmo modo, em reação a uma possível troca de territórios entre Rússia e Ucrânia como parte da solução para o conflito, anteriormente sugerida pelo líder da Casa Branca, o chanceler alemão advertiu que deve ser mantido o "princípio de que as fronteiras não podem ser alteradas pela força".
Nas reuniões virtuais na quarta-feira, os líderes europeus apelaram também para um cessar-fogo, que Kiev pretende como ponto de partida para um acordo de paz e até agora recusado pelo Krremlin, sob ameaça de novas sanções, igualmente admitidas por Trump se a cimeira no Alasca resultar num fracasso.
O Presidente norte-americano recebeu hoje na Base Aérea Elmendorf-Richardson, nos arredores de Anchorage, o homólogo russo com uma sequência de palmas e um longo aperto de mão, sobre uma passadeira vermelha e junto de uma guarda de honra, antes de seguirem, ambos sorridentes, no mesmo carro.
É o primeiro encontro dos dois líderes desde 2018 e que marca o regresso de Vladimir Putin aos Estados Unidos, após dez anos de ausência, bem como a um grande palco diplomático apesar de procurado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra, e de relações suspensas entre Washington e Moscovo desde a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
A primeira reunião da cimeira no Alasca começou cerca das 11:30 locais (20:20 em Lisboa), embora, ao contrário do anunciado, já não seja num formato de Trump e Putin a sós, tendo sido alargada ao secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, e ao enviado da Casa Branca Steve Witcoff, e ao chefe da diplomacia de Moscovo, Sergei Lavrov, e ao conselheiro diplomático do Kremlin Yuri Ushakov.
Ao longo da cimeira, está previsto um almoço de trabalho, que deverá contar com os respetivos titulares das pastas dos negócios estrangeiros, defesa e finanças, bem como o responsável do Fundo Russo de Investimento Direto da Rússia.
No final, está programada uma conferência de imporensa conjunta de Putin e Trump.