O Presidente chinês, Xi Jinping, chegou esta quarta-feira à Porta de Tiananmen, em Pequim, acompanhado dos líderes da Rússia e da Coreia do Norte para assinalar o 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial.

Sobre um tapete vermelho, Xi cumprimentou individualmente os convidados para assistir ao desfile militar comemorativo, antes de subir à plataforma de observação, situada no topo da histórica porta, com vista para a Praça Tiananmen.

Vladimir Putin e Kim Jong-un acompanharam Xi durante a subida, recebendo aplausos formais dos restantes convidados. No percurso até aos seus lugares, os três líderes detiveram-se para cumprimentar cinco veteranos da Segunda Guerra Mundial, alguns com mais de 100 anos.

A cerimónia contou com a presença de cerca de duas dezenas de líderes estrangeiros, oriundos de países que procuram estreitar ou manter boas relações com Pequim. O desfile, que pretende mostrar o poderio militar chinês, incluiu mísseis, caças modernos e outro equipamento de última geração, parte do qual foi apresentado ao público pela primeira vez, numa altura em que a China ambiciona exercer maior influência no palco internacional.

80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial celebrado em Pequim
80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial celebrado em Pequim ANDRES MARTINEZ CASARES

Internamente, a comemoração visou também demonstrar o percurso de desenvolvimento do país desde o conflito. A China foi um dos principais palcos da guerra, apesar de muitas vezes relegada para segundo plano pelas narrativas centradas na frente europeia ou nos combates navais dos Estados Unidos no Pacífico. A invasão japonesa e os anos de guerra provocaram milhões de mortos entre a população chinesa.

O evento funcionou igualmente como uma demonstração de força para reforçar o apoio ao Partido Comunista e ao seu líder, Xi Jinping, e como afirmação da China enquanto alternativa à ordem global estabelecida após a guerra sob liderança dos Estados Unidos.

Durante o discurso, Xi Jinping afirmou que o “rejuvenescimento da nação chinesa é imparável” e que “a nobre causa da paz e do desenvolvimento da humanidade triunfará certamente”. Perante dezenas de milhares de pessoas na Praça de Tiananmen, disse ainda que “o mundo volta a enfrentar uma escolha entre a paz e a guerra, o diálogo e o confronto”, num momento de crescentes tensões geopolíticas e desafios à ordem internacional do pós-guerra.

Num discurso breve, Xi recordou as vítimas da Segunda Guerra Mundial e apelou à erradicação das causas da guerra, para evitar a repetição da História. Afirmou que “o povo chinês é um povo que não teme a violência, é autossuficiente e forte” e garantiu que a China “seguirá o caminho do desenvolvimento pacífico” e trabalhará “de mãos dadas com os povos de todos os países para construir uma comunidade de futuro partilhado para a humanidade”.

A parada teve início após o discurso de Xi, com tropas a marchar em passo ritmado na avenida Chang’an, para a revista do chefe de Estado, que também preside à Comissão Militar Central. Xi percorreu o alinhamento militar numa limusina preta clássica, saudando os soldados e colunas de mísseis e veículos blindados, enquanto estes respondiam em uníssono com lemas como “Servimos o povo”.

Parada militar assinala 80.º aniversário do fim da Guerra Sino-Japonesa em Pequim
Parada militar assinala 80.º aniversário do fim da Guerra Sino-Japonesa em Pequim ANDRES MARTINEZ CASARES

O evento contou com a exibição de mísseis, caças modernos e outros equipamentos militares, muitos dos quais mostrados ao público pela primeira vez, num sinal do crescente peso que a China quer assumir no palco internacional. A cerimónia começou com uma salva de 80 tiros de artilharia e a execução do hino nacional, “Marcha dos Voluntários”, composto em 1935 durante a resistência à invasão japonesa.

Xi chegou à Porta de Tiananmen com os convidados de honra, incluindo o Presidente russo, Vladimir Putin, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un. Os três subiram juntos à tribuna de honra, após saudarem individualmente cinco veteranos da Segunda Guerra Mundial, alguns com mais de 100 anos.

Presidente russo, Vladimir Putin, (à esquerda), o Presidente chinês, Xi Jinping (no meio) e o líder norte-coreano, Kim Jong-un (à direita)
Presidente russo, Vladimir Putin, (à esquerda), o Presidente chinês, Xi Jinping (no meio) e o líder norte-coreano, Kim Jong-un (à direita) ALEXANDER KAZAKOV/SPUTNIK/KREMLIN POOL

As críticas de Trump

Durante o desfile, o Presidente norte-americano, Donald Trump, questionou, nas redes sociais, se Xi reconheceria o contributo dos soldados dos EUA no conflito, e ironizou: “Transmita os meus calorosos cumprimentos a Vladimir Putin e Kim Jong-un, enquanto conspiram contra os Estados Unidos da América”. Na sua intervenção, Xi não mencionou os Estados Unidos, mas agradeceu o apoio dos países estrangeiros que ajudaram a China na resistência contra a invasão japonesa.

O desfile, além de mostrar força militar, visou também reforçar o apoio interno ao Partido Comunista e projetar a China como alternativa à ordem internacional dominada pelos EUA desde o pós-guerra. Milhares de pessoas assistiram à parada a partir de zonas delimitadas na Praça de Tiananmen, acenando bandeiras vermelhas enquanto coros entoavam canções patrióticas como “Defender o Rio Amarelo” e “Não há Nova China sem o Partido Comunista”.

O comentário de Trump foi publicado na rede Truth Social, na terça-feira, dirigindo-se diretamente ao Presidente chinês. O norte-americano acusou ainda a China de “não reconhecer” o sacrifício dos soldados norte-americanos na guerra contra o Japão.

Xi e Putin reuniram-se na véspera, à margem da cimeira da Organização de Cooperação de Xangai, realizada na cidade costeira de Tianjin, no norte da China, onde reiteraram o fortalecimento da parceria estratégica sino-russa.

“As relações entre a China e a Rússia resistiram a mudanças no cenário internacional e tornaram-se um exemplo do que devem ser as relações entre potências”, afirmou Xi, segundo a televisão estatal chinesa CCTV.

Kim Jong-un, que chegou a Pequim a bordo de um comboio blindado, juntou-se ao grupo vestido de fato preto e sorridente, na sua primeira visita à China desde 2019. O reencontro entre os três líderes aconteceu duas semanas após Trump ter-se reunido com Putin no Alasca, num encontro que terminou sem acordo para um cessar-fogo na Ucrânia.

Segundo a imprensa norte-americana, foram equacionadas novas conversações multilaterais, mas estas não se concretizaram até agora.