
Num tom tranquilo, os candidatos Paulo Raimundo (CDU) e Rui Tavares (Livre) defrontaram, esta quarta-feira, na antena da SIC Notícias, mas só a questão do investimento na defesa e a guerra da Ucrânia parecem afastá-los. Tavares considera que “a União Europeia não deve gastar mais dinheiro em armas”, sobretudo as que vêm dos EUA, Raimundo alerta para uma “fatura” que vai “recair sobre os povos”.
“O país não precisa de gastar dinheiro numa corrida que não é para a defesa, é para a guerra. (…) Mais cedo ou mais tarde, a fatura vai chegar" e vai recair sobre os povos", alerta o comunista.
Uma Europa “unida” é o caminho sugerido pelo Livre mas “não achamos que deve gastar mais em armas, tem de fazer escolhas claras”, tais como não comprar caças F-35 aos EUA, até porque, "Trump já declarou que a UE é uma sua adversária e ameaça um membro da UE e da NATO de ficar com um pedaço do seu território", disse, referindo-se à Gronelândia.
E a NATO? “Pode ter feito sentido num determinado contexto político” mas, justificou Rui Tavares, “a UE não é um bloco militar é uma integração de Estados Nação, e uma salvação para estados médios e pequenos na Europa”. Por isso, questionou: “Neste momento quem é que ainda acredita na NATO?”
Como se combate Putin?
Ainda a este propósito, avisou ainda Paulo Raimundo que “quem acha que se vai armar até aos dentes e que o inimigo não se vai armar até aos dentes está iludido”. Na resposta, Rui Tavares apelou ao adversário para não ser negacionista, "quem está armado até aos dentes é Vladimir Putin e não vai lá com conversas”.
Para o secretário-geral do PCP, assim parece que estão em “desacordo” mas não, garantiu. O PCP "combate na essência" o atual regime russo de Putin. Tavares não concorda porque "combater não é baixar braços e aceitar que ele faça o que quiser".
Quanto à Europa, Raimundo sublinha que “Portugal não é uma província da UE”, nem “um apêndice da NATO nem dos EUA”, pelo que, promete “intervir no plano da UE”, e evitar uma “saída extemporânea".
Rui Tavares optou por alertar para os tempos de mudança no mundo, mas “não em tempos de um normal mudar de ciclo”.
“Vivemos num época de várias crises em simultâneo - do Estado de direito na UE, ecológica, social, de segurança e de defesa, e como tivemos antes a pandemia e temos agora esta guerra tarifária”
Habitação, o tema que os une
São diferentes as medidas que propõem mas é igual a preocupação: a habitação, um dos “dois dramas fundamentais na vida dos portugueses”, destacou Paulo Raimundo, referindo que o outro drama é o acesso à Saúde.
“A nossa proposta é dar garantias e prolongar os contratos de arrendamento o mais possível - estabilidade no tempo e no valor da renda. Podemos ter todas as casas, mas, se não forem casas que as pessoas possam comprar ou alugar, não vale pena. Uma casa é uma vida e (…) hoje temos gente empurrada para fora das suas casas”
E, o candidato do Livre não podia estar mais de acordo. “Para ser livre, uma pessoa precisa de ter uma casa” é, aliás, esta ideia "que muitas vezes diferencia a Esquerda da Direita, para eu ser livre tenho de ter a segurança de que o meu irmão não vai dormir debaixo da ponte".
Mas como é possível intervir? “Temos que intervir sobre o mercado de forma a travar quem compra casas em Portugal, insensível ao preço [que por elas paga], e que está a levar o mercado habitacional para o segmento de luxo. O mercado tem de ser protegido pela taxação, isso arrefecererá o segmento de luxo. Mas é possível fazer mais. Temos a última oportunidade de fazer cidade e evitar que quartéis esvaziados e ex-hospitais sejam transformados em hotéis, este é o meu receio com a AD e com a IL”.
“Isto não é a superliga”
A fechar o debate de cerca de 30 minutos, e o único do dia, Rui Tavares reforçou as críticas ao apelo ao voto útil do adversário do PS, e avisou que as eleições “não são a superliga de futebol”. O que conta são “maiorias que permitam com coesão, coerência, fazer o tipo de política com que as pessoas contam, isso é que é parlamentarismo. Não é quem é que fica em primeiro lugar”.
Menos crítico e mais focado em possíveis futuras alianças à esquerda, Paulo Raimundo que recusou responder sobre se o Livre é o ameaça - “somos vizinhos”, lembrou Tavares, sorrindo -, deixou duas garantias: "Nunca será pela nossa mão que a direita e a política de direita se impõem e, connosco, nunca faltarão soluções à vida das pessoas".
[Notícia atualizada às 20:24]