
André Ventura não perdeu uma chance de meter a imigração ao barulho e mimetizou o ídolo Trump, enquanto Rui Tavares levantou a bandeira das injustiças sociais e lembrou a corrupção dos amigos internacionais do Chega. Assim se fez o embate entre o líder do Livre e o presidente do Chega.
No debate, que aconteceu na RTP3, a governabilidade também foi um tema em cima da mesa, com Rui Tavares a declarar as maiorias de direita incoerentes e instáveis e André Ventura a questionar a pertinência de votar num partido como o Livre, que, afirma “é igual ao PCP ou ao BE”.
Saúde (...e imigração)
O tema de abertura do debate foi a Saúde, mas André Ventura decidiu, desde logo, fazer um desvio para a primeira palavra ser sobre imigração. O líder do Chega chamou a atenção para as estimativas, conhecidas esta terça-feira, dapresença de 1,6 milhões de imigrantes em Portugal.
“Nós avisámos para isto”, declarou Ventura. “É o caos completo e um país perigoso.”
Procurando, de alguma forma, integrar o tema que lhe foi lançado, o presidente do Chega afirmou que a imigração é também ela um fator de pressão na Saúde. Ventura alegou que os estrangeiros “vêm para cá fazer turismo de Saúde” e que partidos como o Livre querem um sistema de “bar aberto” no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O Chega propõe que só seja dada assistência médica aos estrangeiros que têm pelo menos cinco anos de descontos em Portugal – e entende que, apesar de público, o SNS deve ter “sinergias privadas”.
Rui Tavares respondeu que o SNS também se faz com imigrantes, e que era “injusto” os estrangeiros virem para cá, pagarem com os seus impostos o SNS e, depois, não serem atendidos.
Quanto aos privados, o líder do Livre considera que é fácil para eles “rebentarem” com o sistema de saúde.
“Há concorrência ente privado e público por pacientes e por profissionais de saúde”, afirma o líder do Livre, que propõe um programa específico para apoiar o regresso ao país dos profissionais de saúde que emigraram.
Apoios sociais (... e mais uma vez imigração)
Apesar de o debate ser contra Rui Tavares, André Ventura aproveitou para deitar também algumas farpas ao secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, no que toca a medidas que ajudem os bolsos dos portugueses.
Ventura acusa-o de roubar ideias ao Chega – desde o IVA Zero nos alimentos ao fim das portagens, ideias que, afirma, Pedro Nuno Santos rejeitou quando estava no Governo, mas que agora propõe, de forma “eleitoralista”.
Rui Tavares avança com uma sugestão diferente: atribuir, à nascença, 5 mil euros a cada bebé em Portugal - que Ventura contestou, por se aplicar também aos filhos de estrangeiros que nascem em solo português.
A medida, afirmou o líder do Livre, sai “mais barata do que o IRS Jovem” e serve uma “nova geração de políticas sociais”.
Governabilidade
Quando é para falar do dia a seguir às eleições, Rui Tavares não hesita: diz que é preciso “sair do buraco político em que fomos metidos” e apostar num “sistema parlamentar mais puro”, procurando maiorias parlamentares. Maiorias essas que, defende, não se encontram à direita, porque essas “não são coerentes nem estáveis”.
Aos eleitores a quem André Ventura pede, como se lê nos cartazes, “uma oportunidade”, Rui Tavares lembra que ele já teve 50, “com os 50 deputados que elegeu” e que, afirma, só envergonharam.
Aí, André Ventura não esteve com meias medidas e entrou diretamente ao ataque: “Há uma diferença neste debate: eu sou candidato a primeiro-ministro, o Rui Tavares é candidato a ter quatro ou cinco deputados”.
Ventura questionou mesmo a utilidade de votar no partido de Rui Tavares, afirmando que é uma cópia dos outros partidos à esquerda.
“O Livre é um partido igual ao PCP ou ao Bloco. Não há nada a mudar. Votar no Livre é votar no PCP, no Bloco, é não acrescentar nada”, afirmou.
Política Internacional: das tarifas Trump à NATO
E eis que chega aquele que foi um dos grandes temas deste confronto. André Ventura fez a apologia da doutrina Trumpista e anunciou querer aplicar, em Portugal e na Europa, o exemplo do presidente norte-americano.
“Nós temos de proteger o mercado e temos de aprender algumas coisas” com Donald Trump, defendeu Ventura. “Se o Chega algum dia tiver algum peso na UE, vamos por as tarifas em quem tivermos de por”, prometeu.
“Ou protegemos a Europa, ou vamos acabar um reduto da China, da Índia e desses países. O Trump está a fazer nos EUA o que nós temos de fazer na Europa”, defendeu, culimando com a apropriação do slogan de Trump na campanha norte-americana. “Eu quero mesmo fazer Portugal grande novamente.”
Por sua vez, Rui Tavares diz que Trump quer introduzir uma “bomba atómica comercial no mundo” e questionou porque é que, agitando a bandeira anticorrupção, aqueles de que Ventura mais se aproxima a nível internacional são “corruptos” como Orbán, Bolsonaro, Le Pen e Trump.
Rui Tavares afirma que é preciso combater os “vigaristas na política”, mas considera que, perante a corrupção, a solução não é “dizer que são todos malandros e que é preciso puni-los". Deve-se, sim, defendeu, pegar nos exemplos dos países com menores níveis de corrupção e replicar as estratégias que “impedem que o delito chegue a acontecer”.
Tanto em matéria comercial como de defesa, o líder do Livre defende que se caminha para um mundo com “várias superpotências” e que a UE só será uma “se quiser e souber ser". Rui Tavares quer uma “comunidade europeia de defesa”, para se defender “perante os Trumps, Putins e Xi Jin Pings desse mundo”, uma Europa que, sublinhou, seja “levada a sério”.
André Ventura tomou a ideia como uma sugestão de que o Livre defende o abandono da NATO e insistiu com Rui Tavares na questão, acusando-o de “irresponsabilidade extrema”
“Quer prescindir dos EUA? E quem é que nos defende?”, questionou Ventura.
A resposta do presidente do Livre foi que ainda vão ser os EUA a sair da NATO primeiro e que a Europa tem mesmo de criar uma comunidade própria.
Mas Rui Tavares não deixou o debate sem lançar também ao líder do Chega uma pergunta sobre a incoerência de apoiar o presidente norte-americano: “Trump quer a Gronelândia, da Dinamarca. Um dia que Trump se lembre que os Açores existem e que quer os Açores, o que vai fazer André Ventura?”.