O Instituto do Património Cultural iniciou, esta quinta-feira, a consulta pública sobre a decisão de inscrever a manifestação da "Vaca das Cordas", em Ponte de Lima, no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.

O anúncio da abertura do procedimento, que terá a duração de 30 dias, foi publicado no Diário da República (DR). A publicação esclarece que o Património Cultural irá decidir sobre o pedido de inventariação no prazo de 120 dias após a conclusão do período da consulta pública.

O que é a tradição da "Vaca das Cordas"

A tradição da "Vaca das Cordas", realiza-se em junho, na véspera do feriado do Corpo de Deus, e é coordenada pela Associação dos Amigos da Vaca das Cordase com o apoio do Município de Ponte de Lima.

A “Vaca das Cordas” consiste numa corrida em que o animal - seja uma vaca ou um touro - é largado na rua do Arrabalde, em Ponte de Lima, por volta das 18:00, e corre pelas ruas da vila, conduzido por cerca de dezena e meia de pessoas e preso por duas cordas.

É levado até à Igreja Matriz e preso à janela de ferro da Torre dos Sinos, sendo-lhe dado um banho de vinho tinto da região, "lombo abaixo, para retemperar forças", conforme reza o costume local.

De seguida, dá três voltas à igreja, sempre com percalços, muitos trambolhões à mistura e com os populares a ousarem enfrentá-lo, após o que é levado para o extenso areal da vila.

"É aí que se desenvolve uma série de peripécias, com corridas, sustos, bravatas, nódoas negras e trambolhões, pegas de caras e de cernelha", conta Aníbal Varela .

Segue-se uma noite de festa, com animação, música e bares e ainda, nas ruas do centro histórico, cumpre-se, madrugada dentro, a confeção dos tapetes floridos, por onde irá passar a procissão do Corpo de Deus.

Depois daquele ritual, o animal é abatido no matadouro e a carne vendida num talho de Ponte de Lima.

A história por detrás da tradição

A mais antiga referência à "Vaca das Cordas" remonta a 1646, quando um código de posturas obrigava os moleiros do concelho (ministros de função) a conduzir, presa por cordas, uma vaca-brava, sob condenação de 200 reis pagos na cadeia.

"Porém, de acordo com a Ata de 11 de Julho de 1604 do Livro das Vereações (de 1602 a 1605), conservada no Arquivo Municipal de Ponte de Lima, recentemente divulgada na obra "P'ra Que Viva Ponte de Lima! Terra de Tradições", de Amândio de Sousa Vieira, editada em 2017 pelo Município de Ponte de Lima, esta tradição já existia naquele ano de 1604", diz o site oficial de Ponte de Lima Cultural .

Mais tarde, segundo o Código de Posturas de 1720, a pena agravava-se para 480 réis. Diz a lenda que a Igreja Matriz, da primitiva vila, era um templo pagão dedicado a uma deusa, simbolizada por uma vaca.

Posteriormente, este templo foi transformado em igreja pelos cristãos que retiraram do seu nicho a imagem da "deusa vaca", com ela deram três voltas à igreja, e, em seguida, arrastaram-na pelas ruas da vila.

É daí virá o costume da "Vaca das Cordas", um ritual interrompido em 1881 pela vereação, tendo reaparecido por volta de 1922, para não mais deixar de se realizar.

Uma tradição secular, das mais antigas e Ponte de Lima, que atrai milhares de visitantes de todo o país e até de Espanha, para participarem na festividade.

A edição de 2025 está marcada para o dia 18 de junho.

Com Lusa