
O Memorial de Auschwitz está a criar uma réplica digital exata do antigo campo de concentração nazi. O objetivo é que cineastas e estúdios de cinema possam usar o campo como cenário para filmes.
O projeto, no valor de 1,5 milhões de euros, foi apresentado, esta quinta-feira, no festival de cinema de Cannes. Esta será uma forma de contornar as questões éticas levantadas quanto a filmagens no local histórico onde o regime nazi assassinou 1,1 milhões de pessoas.
Para criar esta réplica, está a ser usada tecnologia de ponta de digitalização 3D. Os responsáveis pelo projeto garantem que o modelo ficará igualzinho ao campo de concentração original.
Numa segunda fase, os scanners 3D vão também digitalizar o campo adjacente de Birkenau e criar réplicas dos crematórios e das câmaras de gás que foram destruídas pelos nazis em 1944. As receitas do uso do modelo reverterão diretamente para o Memorial de Auschwitz.
“Estamos a responder a uma necessidade”, afirmou Wojciech Soczewica, diretor do Memorial de Auschwitz, citado pelo jornal The Guardian. “É nossa responsabilidade disponibilizar à indústria do cinema recursos credíveis.”
“A Lista de Schindler” e “A Vida é Bela” com filmagens proibidas
Atualmente, não é permitido aos filmes de ficção gravarem no campo de Auschwitz. Só documentários podem usar as instalações do campo para filmagens.
A proibição está em vigor desde o final da década de 1980. Icónicos filmes passados em campos de concentração durante o período do Holocausto, como “A Lista de Schindler”, de Steven Spielberg, e “A Vida é Bela”, de Roberto Benigni – ambos gravados na década de 1990 -, não conseguiram autorização para filmar em Auschwitz e tiveram de ser realizados noutras localizações.
Filmes de terror e de ação serão permitidos?
O Memorial de Auschwitz afirma que, mais do que uma questão moral, a proibição se deve à necessidade de preservar o local e é também um modo de evitar que o campo tenha de ser temporariamente encerrado por causa de filmagens. No entanto, a questão ética é também levantada.
Questionado sobre se todo o tipo de filmes – desde filmes de ação a filmes de terror - poderão usar o novo modelo de réplica de Auschwitz, o porta-voz do Memorial, Pawel Sawicki, citado pelo The Guardian, respondeu que as regras ainda não foram definidas.
“Ainda não definimos as linhas, uma vez que isto é uma novidade, mas haverá, certamente, limites. O campo não deve ser usado como palco para qualquer coisa. Se a proposta for fazer um filme que distorce a História, desonra a memória das vítimas ou serve puramente apenas como entretenimento, então é um alerta vermelho para nós”, declarou.