O novo Presidente norte-americano assinou uma ordem executiva para retirar os Estados Unidos da América da Organização Mundial de Saúde (OMS), um organismo que Donald Trump tinha criticado duramente pela forma como lidou com a pandemia de covid-19.
"A OMS defraudou-nos", acusou na segunda-feira o republicano, ao assinar o decreto, poucas horas depois de ter tomado posse, justificando a retirada com a diferença entre as contribuições financeiras dos Estados Unidos e da China para a organização.
No texto, Trump pede que as agências federais "suspendam a futura transferência de quaisquer fundos, apoios ou recursos do governo dos EUA para a OMS" e orienta-as para "identificar parceiros norte-americanos e internacionais de confiança" capazes de "assumir as atividades anteriormente realizadas pela OMS".
Os Estados Unidos são o principal doador e parceiro da OMS, uma organização da ONU sediada em Genebra, na Suíça.
De acordo com a OMS, os EUA contribuem para o financiamento da instituição através de uma contribuição indexada ao seu Produto Interno Bruto, mas também através de contribuições voluntárias.
A saída dos Estados Unidos poderá obrigar a OMS a uma grande reestruturação e prejudicar os esforços globais de saúde pública, incluindo a vigilância e a resposta a surtos.
A OMS desempenha um papel de coordenação particularmente central durante as emergências de saúde globais.
"A decisão de abandonar [a OMS] enfraquece a influência dos Estados Unidos"
Durante o primeiro mandato, Donald Trump já tinha tentado retirar o país da organização, que acusou de ser "controlada pela China".
No entanto, o sucessor, Joe Biden, cancelou a retirada antes de esta entrar em vigor, uma vez que era obrigatório um período de um ano entre o anúncio e a retirada efetiva.
"A decisão de abandonar [a OMS] enfraquece a influência dos Estados Unidos, aumenta o risco de uma pandemia mortal e torna-nos mais vulneráveis", disse Tom Frieden, antigo dirigente do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, na administração de Barack Obama.
Ao retirarem-se da organização, os Estados Unidos perderão o acesso privilegiado a dados importantes de vigilância epidémica, alertaram vários especialistas, o que poderá prejudicar as capacidades de prevenção de ameaças à saúde provenientes do estrangeiro.
As agências de saúde e as empresas farmacêuticas dos EUA também contam com a OMS "para obter os dados necessários para desenvolver vacinas e terapias", disse Lawrence Gostin, professor de Direito da Saúde Pública na Universidade de Georgetown.
"Em vez de sermos os primeiros a receber vacinas, ficaremos no final do pelotão. A retirada da OMS inflige uma ferida profunda na segurança norte-americana e na nossa vantagem competitiva em inovação", disse Gostin.
A retirada ocorre numa altura em que a elevada circulação do vírus da gripe aviária nos Estados Unidos está a aumentar os receios de uma futura pandemia.
O país registou no início de janeiro a primeira morte humana ligada ao vírus H5N1 .