
“Consegues imaginar um mundo sem arte? Consegues imaginar um mundo sem histórias para contar? Consegues imaginar um mundo sem revolução e imaginação?”
Estas são algumas das questões lançadas no vídeo-manifesto concebido pela atriz e encenadora Sara Carinhas, que termina com uma frase escrita a muitas mãos e caligrafias.
“A cultura é casa inteira. Tem de ter um ministério só seu.”
Sara Carinhas há muito usa a sua voz e a sua arte para agitar consciências, questionar injustiças, desigualdades e silêncios e ajudar a desmontar preconceitos no país e no mundo.
Um país que não cuida da sua Cultura o que é? Esta é uma das primeira perguntas lançadas neste episódio.
Certo é que em sociedades mais autoritárias, que não apreciam a liberdade do pensamento e a força transformadora da arte, a cultura é sempre vista como acessória, desnecessária, inútil. Ou, até mesmo, perigosa. Um alvo a abater. Estaremos a caminhar para isso?
E como foi muito bem lembrado pela bailarina Catarina Câmara, já dizia o escritor, poeta e dramaturgo Oscar Wilde: “Toda a arte é completamente inútil. Tão inútil, quanto essencial!”
Sara Carinhas concorda com a citação, mas lança a provocação: “A palavra útil também funciona na arte. Tem um resultado interno, emocional, intelectual.”
Sara cresceu com as artes por perto. E atribui as suas referências a muitas pessoas, lugares e até aos livros e seus autores. Ainda andou pelas ciências, na fase do secundário, mas os palcos tornaram-se para si uma inevitabilidade.
Começou a dançar e a representar por intuição, por ver os outros a fazer, porque gostava, e ser uma vocação. Mas, a dado momento, sentiu a necessidade de saber mais, de apostar na formação, para fazer melhor.
E aqui conta como uma breve conversa com a coreógrafa Pina Bausch terá sido fundamental para Sara ganhar coragem de se libertar das amarras do conforto e voar para longe.
E tal acaba por vir a acontecer quando Sara conhece a professora russa Polina Klimovitskaya, em Évora, num workshop, e decide aprender mais com esta mestra em Nova Iorque, no Michael Howard Studio.
Fê-lo com o dinheiro que ganhou em 2008 com um prémio no Estoril Film Festival pela sua interpretação no filme “Coisa Ruim”, realizado por Tiago Guedes e Frederico Serra.
O que mais aprendeu nessa fase em que viveu na cidade que nunca dorme e onde nascem e morrem os sonhos?
Mais tarde, em 2015, Sara Carinhas foi premiada pela Sociedade Portuguesa de Autores, como Melhor Atriz de Teatro, recebendo, ainda, no mesmo ano, a Menção Honrosa da Associação Portuguesa de Críticos de teatro e o Globo de Ouro de Melhor Atriz, pela sua interpretação na peça ‘A Farsa’, de Luís Castro.
Com um currículo extenso no teatro, Sara já trabalhou com duas mãos cheias de encenadores. Noutros palcos, Sara também tem feito um percurso sólido e interessante, seja no cinema e na televisão.
Recordo a sua recente participação no filme de época “Banzo”, de Margarida Cardoso, filmado em São Tomé e Príncipe, ou na minisérie “Mulheres, às armas”, realizado por Patrícia Sequeira, exibido na TVI, a abordar a luta das mulheres por emancipação e igualdade durante o regime do Estado Novo.
Como se continua e se resiste numa época em que as redes sociais são usadas por forças extremistas para que o ódio seja de consumo instantâneo e se espalhe rápido e que a mentira valha tanto como a verdade?
Isto ao mesmo tempo que um novo conservadorismo de direita ganha mais poder e é retirado o tema “sexualidade” e “saúde sexual e reprodutiva” da disciplina de cidadania, nas escolas, enquanto alastram mais ataques a mulheres e a pessoas LGBTQIA+.
Qual o papel da cultura nestes tempos tão desafiantes e polarizados?
A conversa começa por aqui e vai para muitos lugares do passado e do presente, entre Lisboa, Nova Iorque ou Rio De Janeiro.
Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de José Fernandes. E a sonoplastia deste podcast é de João Luís Amorim.
A segunda parte desta conversa fica disponível na manhã deste sábado.
Boas escutas!