
Quando Sandra Duarte Cardoso era pequena, sonhava ser uma espécie de super heroína e ter o super poder de ajudar os outros, pessoas e animais. E o que ela faz há 25 anos é precisamente isso. É médica veterinária, ativista pela causa animal, fundadora e presidente da associação SOS Animal, criada em 2007.
Logo no arranque deste podcast, Sandra fala do inesperado que lhe aconteceu numas férias românticas passadas com o marido no arquipélago dos Bijagós, na Guiné Bissau.
Um tempo planeado para ser de absoluto descanso, amor e simplicidade, em contacto íntimo com a natureza, num ecossistema único, uma espécie de tesouro para biólogos, reconhecido pela UNESCO como reserva da biosfera.
Mas Sandra conta aqui como se inquietou com a realidade daqueles territórios onde tudo falha e a vida é muito precária e difícil para a população local. Não há médicos, nem estradas, nem mesmo o absolutamente básico. “Nem em Guiné Bissau há água potável para a população.”
Sandra relata que revelou logo à comunidade local que era médica e como acabou por passar muitas horas a dar consultas no quarto do hotel, a homens e mulheres com doenças simples ou em profunda agonia. E não tratou só guineenses, como cuidou de cães e gatos.
Em suma, durante aqueles dias, Sandra Duarte Cardoso foi a médica de apoio das comunidades isoladas daquele grupo de ilhas. E isto já diz muito sobre si.
Talvez muitas pessoas conheçam a Sandra Duarte Cardoso de programas de televisão, na SIC, como o “SOS Animal” e a mais recente série documental “À descoberta com…”, mas o seu caminho é longo e diverso.
Sandra licenciou-se primeiro em Ciências da Comunicação depois de fugir para Macau porque o seu pai queria muito que a filha fosse advogada da Universidade Católica, mas ela não. Nem fazia ideia do que realmente queria. E decidiu emancipar-se, saindo de casa e do país durante 3 anos.
Entretanto, nos ziguezagues da vida, trabalhou em regulamentação de telecomunicações e na indústria farmacêutica, mas acabou por acertar a rota do destino, para uma segunda licenciatura e um mestrado em Medicina Veterinária, e tem um doutoramento por concluir. A tese é ela própria um tratado muito interessante, e tem muito que se lhe diga:
“Causas de renúncia e adopção de cães e gatos e níveis de empatia de quem adota e de quem renuncia.” Vou querer saber mais sobre isto.
No currículo, além dos programas de televisão, constam também duas curtas-metragens, assinadas com Tiago Iúri: Uma delas, “Saudade”, ganhou prémios em vários festivais nacionais e internacionais e chegou a ser nomeada para um prémio Sophia, em 2022. E a mais recente curta desta dupla foi terminada em janeiro deste ano, chama-se “Profundo” e deverá ser estreada em breve num festival de cinema.
Nos dias normais, Sandra Duarte Cardoso opera animais , além disso coordena equipas, ajuda animais das mais variadas espécies, revê relatórios de estágio e outras burocracias.
E apesar de afirmar ter “uma fé enorme no potencial humano”, Sandra conta que quer muito que a IA venha em força para a aliviar de tarefas chatas e rotineiras — e se dedicar a outras dimensões… e não ter tantas decisões em mãos que lhe retiram tempo e energia.
O que leva a várias questões: em contextos de saúde, como devem ser divididas as tarefas entre humanos e máquinas? Que riscos isso comporta? Na era da Inteligência Artificial, como evitar que as desigualdades sociais se acentuem? E que riscos e potencialidades é que a IA pode comportar no desenvolvimento cognitivo, social e emocional?
Sandra responde a isto tudo na primeira parte deste episódio.
Passaram 9 anos desde a última vez que Sandra veio a este mesmo podcast. Dessa vez, Sandra confidenciou que ser veterinário era das profissões com mais alta incidência de suicídios, por lidarem diariamente com a morte e os maus tratos.
E disse-me: “É muito difícil fazer de Deus. E nós, veterinários, tantas vezes decidimos entre a vida e a morte.”
Voltámos a esse assunto, e Sandra sugere soluções para a classe média e média baixa que enfrenta dificuldades para pagar as despesas de saúde dos seus animais.
Faz sentido criar-se um SNS para ajudar nas despesas de saúde dos animais de companhia, que por vezes comprometem o orçamento familiar? Sandra responde.
E deixa críticas duras à classe veterinária, que considera estar pouco implicada com a causa animal, e ter alma de “merceeiro”.
Nesta conversa, Sandra, que é vegana, faz um retrato positivo de como os portugueses tratam atualmente os animais de companhia. Mas que o mesmo não se passa com os restantes animais, sujeitos a violência e exploração. “Falta alargar-se essa empatia aos restantes animais.”
Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de Nuno Fox. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.
A segunda parte desta conversa fica disponível na manhã deste sábado.