
A época balnear arranca este domingo com temperaturas máximas superiores a 30ºC em várias regiões do país. O calor convida estender o corpo ao sol e, como já todos sabem, o uso de protetor solar é indispensável. No entanto, nem todos os protetores são iguais: é preciso ler o rótulo para, além da pele, proteger também o ambiente.
"Os protetores solares são um conjunto de compostos químicos, criados pelo Homem para proteger a pele. Qualquer composto criado pelo Homem colocado no ambiente não é um benefício, todos têm um impacto negativo, embora em medidas diferentes", alerta a Eva Iñiguez, mestre em biologia marinha, que está atualmente a fazer um doutoramento sobre a temática no MARE-Madeira (MARE é um centro de investigação marinha que envolve várias universidades).
Ouvida pela agência Lusa, a bióloga explica que nenhum filtro solar é inofensivo para o ambiente. Existe a crença de que os inorgânicos (minerais) são menos agressivos para o ambiente do que os orgânicos (químicos), mas "não será bem assim", embora alguns possam ser menos maus.
Químicos a evitar
É importante ler os rótulos: os químicos oxibenzona, também conhecida por ser um desregulador endócrino, e octinoxato são compostos especialmente nocivos para os organismos aquáticos.
Muitos estudos mostram que a oxibenzona pode causar branqueamento de corais, que acontece quando as colónias de pólipos que formam os corais expulsam as algas que com eles vivem.
Estima-se que entre seis a 14 mil toneladas de protetor solar, contendo entre um a 10% de oxibenzona, são libertadas em áreas de recife de coral todos os anos.
Estudos citados por Eva Iñiguez indicam que na costa atlântica francesa são descarregados por dia mais de oito quilos de cremes protetores, nas costas do Havai (que há vários anos proibiu protetores solares com oxibenzona e octinoxato) 36 quilos por dia, e no Caribe mexicano, uma das zonas com mais corais, são despejadas quase 230 toneladas de protetores por ano.
Também em entrevista à Lusa, a engenheira do Ambiente Rita Maurício, professora da NOVA FCT e investigadora do MARE deixa outro número: "Numa praia com mil visitantes são descarregados 35 quilos de compostos".
Cadeia alimentar também é afetada
Também professora da NOVA FCT e investigadora do MARE, Marta Martins, especialista em poluição marinha e ecotoxicologia, coordenadora do mestrado em Recursos Vivos Marinhos, explica que os estudos que indicam que os compostos dos protetores podem afetar os organismos aquáticos, por exemplo ao nível da reprodução, do sistema nervoso central ou a nível hepático.
E depois, acrescenta, podem também ter efeitos nas microalgas, no plâncton, o que irá afetar a cadeia alimentar, nomeadamente as larvas e os peixes juvenis, mais suscetíveis.
Rita Maurício explica que se uma ameijoa (que é bioacumuladora) acumula uma concentração mais elevada e se o ser humano a consome está a consumir esse composto, que de resto já chega ao ser humano pela colocação na pele.
Também os protetores solares com oxido de zinco e oxido de titânio podem entrar na cadeia alimentar: estas nanopartículas não são assimiladas pelos humanos, mas sim pelos organismos aquáticos, como acontece com os microplásticos.
Os efeitos das nanopartículas ainda não são totalmente conhecidos, mas a especialista lembra há efeitos que podem surgir mais tarde ou mesmo em gerações futuras.
Químicos acabam sempre no mar (mesmo que não vá à praia)
Os compostos dos protetores solares são levados para o oceano quando as pessoas vão nadar, mas ao ser absorvidos pela pele saem na urina e nas fezes, acabando descarregados pelas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR).
Só que as ETAR não foram concebidas para reter esse tipo de compostos e eles acabam por ir parar aos rios e oceanos.
Assim, explicou, os organismos marinhos acabam afetados de duas formas: diretamente pelos resíduos dos protetores dos banhistas, em dias de sol, e indiretamente pelas águas que as ETAR não filtram, durante todo o ano.
Marta Martins defende que devia ser dada prioridade à comercialização de protetores com menor toxicidade ou mesmo zero tóxicos. E considerou "um pouco tonto" que os protetores solares com um menor nível de contaminação sejam mais caros.
A aplicação de protetores, ressalva, não está em causa. O que está em causa são as escolhas. "Mas só um cidadão informado consegue fazer escolhas".
Como aplicar protetor solar corretamente?
Além do cuidado a ter com os químicos prejudiciais ao ambiente o ambiente, é preciso escolher bem o potetor solar:
Independentemente da tonalidade da pele, o recomendado é protetor solar de largo espetro (UVA e UVB, dois tipos de radiação ultravioleta), com proteção de pelo menos fator 30, e renovar a sua aplicação de duas em duas horas.
Já as crianças e pessoas de pele clara, com antecedentes de cancro cutâneo ou em contextos de elevada radiação UV devem usar sempre índice de proteção 50 ou superior.
Mesmo quando está nublado, apesar de a luz solar aparentar ser menor e a temperatura não estar tão elevada, as radiações UV atravessam as nuvens e são igualmente danosas para a saúde.
E também no inverno é necessário usar protetor nas zonas expostas, uma vez que a exposição solar cumulativa contribui para danos cutâneos ao longo da vida.
Com Lusa