O Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, autorizou o exército a abrir fogo para entrar no parlamento no início de dezembro, durante a tentativa de impor a lei marcial, segundo um relatório do Ministério Público consultado hoje pela AFP.
"Ainda não entraste? O que estão a fazer? Arrombem a porta e tirem-nos de lá, mesmo que seja preciso disparar", disse a 3 de dezembro, durante uma chamada telefónica com o comandante militar de Seul, Lee Jin-woo, que se encontrava perto do parlamento, segundo a procuradoria.
O Ministério Público divulgou aos meios de comunicação social o relatório de acusação contra o antigo ministro da Defesa Kim Yong-hyun, apontado como a pessoa que pressionou o Presidente Yoon a impor a lei marcial.
Segundo o relatório, com 10 páginas, o Presidente sul-coreano também ordenou ao chefe da contraespionagem militar, general Kwak Jong-keun, que "entrasse rapidamente" no parlamento.
"Tirem as pessoas do interior da assembleia, destruam as portas com um machado, se necessário", disse ainda Yoon Suk Yeol. No relatório aponta-se ainda que o Presidente tinha discutido a lei marcial com oficiais militares superiores já em março.
Enquanto os deputados se apressavam em rejeitar a lei marcial na madrugada de 4 de dezembro, o Presidente Yoon disse a Lee que a declararia "uma segunda e terceira vez".
O advogado do Presidente, Yoon Kab-keun, garantiu à AFP que as informações fornecidas pelo Ministério Público eram tendenciosas e não correspondiam "nem a factos objetivos nem ao senso comum".
Num discurso proferido em dezembro, Yoon afirmou que não estava a considerar uma segunda tentativa de declarar a lei marcial e pediu desculpa pela "angústia e inconveniência".
A origem do tumulto sem precedentes iniciou-se com a decisão de Yoon em decretar a lei marcial a 3 de dezembro e apenas por algumas horas.
Yoon acabou deposto pelos deputados no passado dia 14 e foi substituído por Han Duck-soo, até então primeiro-ministro.
No entanto, os deputados sul-coreanos votaram na sexta-feira a destituição de Han Duck-soo, acusando-o de ter "participado ativamente na insurreição" após a tentativa falhada do antecessor de introduzir a lei marcial.
A Coreia do Sul não tem leis específicas sobre a destituição de um Presidente em exercício e o PPP apresentou uma petição ao Tribunal Constitucional, que tem agora um máximo de 180 dias para rever a votação, assim como a destituição de Yoon.
Na sexta-feira, registou-se uma pré-decisão judicial sobre Yoon, que sendo destituído levará a eleições num prazo de 60 dias. Yoon e outros são objeto de investigações separadas por acusação de rebelião, abuso de poder e outros crimes relacionados com o decreto da lei marcial.