
A Coreia do Sul vai às urnas esta terça-feira, 3 de junho, para eleger um novo Presidente, na sequência da destituição de Yoon Suk-yeol em abril. O país chega a esta eleição num clima de instabilidade política, com a sociedade profundamente dividida, a economia fragilizada e as relações internacionais sob forte pressão.
O próximo chefe de Estado terá a difícil tarefa de restaurar a confiança interna e gerir as consequências políticas e económicas deixadas pela tentativa falhada de Yoon Suk-yeol impor a lei marcial - um episódio que mergulhou o país numa crise institucional e uma sociedade dividida.
A eleição antecipada acontece numa altura em que a Coreia do Sul enfrenta uma ofensiva comercial do Presidente norte-americano, Donald Trump - e isso vai moldar desafios a longo prazo, como a ameaça da Coreia do Norte e a relação instável de Seul com a China.
Eis os principais pontos para compreender o que está em jogo nas eleições presidenciais deste país de cerca de 52 milhões de habitantes, que vai escolher quem o liderará nos próximos cinco anos.
Porque é que a Coreia do Sul vai ter eleições antecipadas?
A Coreia do Sul realiza eleições presidenciais antecipadas para escolher o sucessor de Yoon Suk-yeol, que foi destituído a 4 de abril por decretar a lei marcial no país que durou seis horas. O seu mandato terminaria em 2027.
Na madrugada de 3 para 4 de dezembro de 2024, Yoon Suk-yeol tentou impor lei marcial, enviando o exército para bloquear o Parlamento, então controlado pela oposição. O golpe falhou graças à mobilização rápida dos deputados, que impediram a suspensão das instituições democráticas.
Yoon Suk-yeol foi suspenso de funções, detido, acusado de insurreição - um crime que pode ser punido com pena de morte. Foi libertado a 8 de março devido a um erro processual após cerca de 50 dias de prisão, mas continua sob investigação.
Quem são os candidatos?
Nesta eleição, concorrem seis candidatos - todos homens, pela primeira vez em 18 anos, não há nenhuma mulher a concorrer.
- Lee Jae-myung - Partido Democrata (oposição de esquerda)
- Kim Moon-soo - Partido do Poder Popular (conservador)
- Lee Jun-seok, do Novo Partido da Reforma
- Kwon Young-guk, do Partido Democrático Trabalhista
- Hwang Kyo-ahn - independente
- Song Jinho - independente
Dois candidatos são considerados favoritos: o líder da oposição de esquerda Lee Jae-myung e o conservador Kim Moon-soo.
Lee Jae-myung, de 61 anos, é um antigo operário fabril que se tornou advogado de direitos humanos. Defende medidas como o rendimento básico universal e transferências diretas de rendimento e é por vezes apelidado de “Bernie Sanders da Coreia do Sul”. Enfrenta vários processos judiciais.
Kim Moon-soo, de 73 anos, é um antigo ativista pró-democracia e sindicalista nos anos 80, que lutou contra regimes militares autoritários na Coreia do Sul. Afastou-se da esquerda após o colapso da União Soviética, em 1991. Hoje representa a ala mais tradicionalista e conservadora.
Quais são as grande questões nestas eleições?
Estas eleições vão muito além da escolha de um novo Presidente. Estão em causa a estabilidade política, a recuperação da confiança pública e o reposicionamento geopolítico do país.
1 - As consequências da lei marcial
A tentativa de golpe dividiu a sociedade: alguns apoiaram a decisão de Yoon como medida de "ordem", enquanto muitos outros protestaram nas ruas contra a ameaça à democracia. Este episódio fragilizou as instituições e deixou marcas profundas na sociedade.
2 - O impacto económico
A instabilidade interna coincidiu commedidas protecionistas de Donald Trump: as tarifas de 25% sobre produtos sul-coreanos abalaram as exportações e afetaram a quarta maior economia da Ásia.
3 - Relações externas delicadas
O novo Presidente terá de equilibrar relações com dois gigantes:
A China, o seu maior parceiro comercial
Os Estados Unidos, o principal aliado militar e político contra a Coreia do Norte
4 - A ameaça do Norte
Embora 2025 tenha sido relativamente calmo, 2024 foi marcado por retórica agressiva de Kim Jong-un e provocações constantes com drones e balões de propaganda na fronteira.
5 - Natalidade em queda
A taxa de natalidade da Coreia do Sul é a mais baixa do mundo (0,75 filhos por mulher). Esta realidade ameaça a sustentabilidade do sistema de pensões e da força de trabalho.