Os grandes futebolistas são, incontáveis vezes, pintados como super-heróis aos olhos dos adeptos mais fanáticos, mas são de carne e osso como todos os outros. Mário Jardel, avançado brasileiro que fez história no FC Porto e no Sporting, é prova viva de que os golos, o dinheiro e a fama não blindam ninguém dos dramas da vida.

Numa entrevista ao Globo Esporte, Jardel fala abertamente sobre a luta contra o álcool, a cocaína e a depressão. "Por tudo que eu fiz de errado, poderia já estar morto, mas sou um cara abençoado", diz o ex-jogador, hoje com 51 anos.

“Sou uma pessoa boa, que só fazia mal para mim”

Em 2007, depois de sofrer uma overdose, Jardel passou a encarar a dependência química de forma aberta e veemente. Foi no ano seguinte que viria a assumir publicamente o vício em cocaína. Já era usuário há cerca de 10 anos. Começou quando jogava pelo FC Porto.

"Para todo dependente é uma luta diária. Fiz alguns tratamentos, recuperei-me e estou firme e forte para que os caminhos se abram mais ainda. Não tenho vergonha de falar. As pessoas que me conhecem têm a consciência da pessoa que sou: boa, que só fazia mal para mim", conta o brasileiro.

Jardel recebe a Bota de Ouro em 1999
Jardel recebe a Bota de Ouro em 1999 picture alliance

Hoje, Jardel vive em Fortaleza, sua cidade natal, e mantém uma rotina com atividades físicas regulares e uma alimentação regrada para perder peso. Nessa fase de recuperação, a igreja tornou-se uma importante aliada contra os vícios e um outro problema que o afetou, a depressão.

"Não sei quanto tempo (estou sem usar droga), mas é bastante tempo e tenho consciência de que hoje é mais um dia. Estou feliz com o meu estado atual. Tomo remédios para ajudar a dormir, antidepressivo, não tanto como antes, mas ainda uso", relata.

Golos e mais golos: a carreira do ‘Super’ Mário

Mário Jardel começou a carreira no Ferroviário, antes de explodir no Vasco da Gama, no início dos anos 1990. Seguiu para o Grémio, onde conquistou a Libertadores e manteve-se como um dos maiores goleadores do futebol brasileiro.

Abriram-se as portas da Europa e Jardel desembarcou no Futebol Clube do Porto, onde marcou 168 golos em 175 jogos. O 'Super' Mário foi o melhor marcador da Liga dos Campeões e conquistou cinco campeonatos pelos 'dragões'. Ganhou a primeira Bota de Ouro, antes de repetir o feito pelo rival de Alvalade.

Após uma passagem de um ano pela Turquia, no Galatasaray, voltou ao futebol português para jogar no Sporting, onde alcançou a melhor média de golos da carreira, superior a um por jogo. Nos 'leões', o avançado faturou 67 vezes em 63 partidas e tem até hoje o recorde de golos numa edição da Liga portuguesa (42 tentos em 2001/2002).

ARMANDO FRANCA

Foi o último clube em que Jardel teve grande destaque, antes de colecionar curtas passagens por mais de 10 clubes de diferentes países, terminando a carreira no Cherno More, da Bulgária, em 2011. No total, foram 415 golos em 565 jogos.