![Pode a cor da comida influenciar o nosso apetite?](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
Ditos populares como "comer com os olhos" ou "ter mais olhos que barriga", ou até mesmo a típica frase “isso tem ótimo aspeto, posso provar?” dão-nos pequenas pistas para perceber que aquilo que comemos não envolve só o paladar.
A apresentação da comida e da bebida, principalmente as cores que vemos antes sequer de cheirarmos ou provarmos, é algo que o ser humano valoriza há milénios (quiçá desde o início da existência da espécie).
Mas é no paladar dos cidadãos dos Estados Unidos da América que se viu uma necessidade ainda maior de uma apresentação mais apetecível na comida e onde existem cores artificiais, além das primárias.
O uso de tintas sintéticas na produção e no marketing da comida americana ocorre há mais de um século. O objetivo é fazer com que os produtos produzidos em massa pareçam frescos e naturais, ou então distinguir o produto do da concorrência, fazendo-o parecer mais interessante. Isto aplica-se, por exemplo, a gomas com cores néon ou até mesmo a batatas fritas, como os "Flaming Hot Cheetos".
No entanto, esta coloração sintética gerou bastante controvérsia e deu azo à necessidade de regulação da forma como a comida é colorida. A mais recente foi em janeiro, com a proibição do uso da tinta vermelha número 3 de toda a comida e medicamentos ingeridos via oral nos EUA, devido a riscos de cancro.
Mas isto não significa que a comida não deva ter cor, e cores apelativas.
"O seu primeiro contacto sensorial, se os seus olhos estiverem abertos, vai ser a visão. Esse vai ser o primeiro julgamento que vamos fazer", diz Devina Wadhera, professora da Faculdade de Ciências Integrativas e Artes da Universidade Estatal do Arizona, citada pela Associated Press.
Foco nos mais jovens
O apelo visual da comida é algo essencial. No século XIX, os produtores alimentares viraram-se para o apelo visual por motivos de marketing, de forma a garantir o reconhecimento da marca e a fazer com que os consumidores se sentissem confortáveis com a qualidade, ultrapassando preocupações ou realidades. A coloração sintética veio também ajudar com vários problemas (como a perda de cor dos alimentos nos processos de produção) e ajudou a que a comida tivesse um ar mais natural. Com o passar do tempo, as tintas tinham como objetivo tornar a comida mais divertida, com foco num público mais jovem (o que não significa que os produtores não usassem, por vezes, colorantes que podiam até ser mortais, daí a pertinência da regulação).
Este contexto mostra-nos como fomos condicionados às cores, uma vez que as conexões que fazemos entre a comida e a cor são aprendidas.
“As batatas fritas são super vermelhas porque (as companhias) estão a tentar dizer 'olhem, isto vai ser picante', porque estão a tentar chegar à sensação ou perceção de que vai ser muito picante - comprem”, explica Devina Wadhera.
As conexões que fazemos entre a cor e o sabor também podem mudar de acordo com o contexto em que se inserem. Por exemplo, se virmos um líquido azul num copo numa casa de banho, podemos pensar que sabe a um elixir bucal de menta. A mesma cor de liquido num copo num bar com pedras de gelo, já pode ser gin. Charles Spence, Professor de psicologia experimental na Universidade de Oxford, diz que diferentes culturas têm diferentes associações de cores, mas que, no geral, todas as pessoas assumem que quanto mais vívida a cor, mais intenso será o sabor.
"Há muitas coisas coloridas que podem manipular e afetar o nosso discernimento. Mas não se pensa nisso... Nós fazemos julgamentos automáticos da comida e nem nos apercebemos." Devina Wadhera, Professora associada da Faculdade de Ciências Integrativas e Artes da Universidade Estatal do Arizona
Sem que nos apercebamos, as cores desempenham um papel fundamental no consumo alimentar e podem mesmo influenciar a quantidade de comida que ingerimos ou até mesmo que comida preferimos, única e exclusivamente, por exemplo, com base na cor dos pratos em que a comida é servida.