Equipas de salvamento ajudadas por voluntários retiraram, em três dias, 78 mortos e 166 mineiros com vida de uma mina de ouro abandonada em Stilfontein, na África do Sul, onde centenas permanecem presos, anunciaram, nesta quarta-feira, autoridades locais.
Os mineiros ilegais estão presos há pelo menos dois meses e o Governo sul-africano tem sido criticado por ter tentado expulsá-los com fumo e cortando o acesso a alimentos, água e medicamentos. Por isso, acredita-se que o número de mortos vá ainda aumentar.
O resgate começou segunda-feira, por ordem judicial, mas a equipa de salvamento responsável pelo mesmo não desce o poço alegando "motivos de segurança".
Assim, o processo tem sido feito por voluntários e espera-se que dure dez dias porque cabem poucas pessoas de cada vez na jaula de resgate e porque o poço é muito profundo.
Grupos cívicos afirmam que as autoridades removeram as cordas e os sistemas de roldanas que os mineiros usavam para entrar e sair de pelo menos um dos poços da mina poço e enviar mantimentos, mas as autoridades sul-africanas argumentaram que os mineiros sempre puderam sair por outro poço da mina, uma das mais profundas deste país rico em minerais.
Todavia, os ativistas afirmam que isso implicaria uma perigosa caminhada subterrânea que poderia levar dias, e que muitos estariam demasiado fracos ou doentes após meses debaixo de terra para o poderem fazer.
A polícia, por sua vez, diz que alguns mineiros se recusaram a sair.
Familiares dizem que alguns estão debaixo da terra desde julho
A mina, que fica a cerca de 150 quilómetros de Joanesburgo, tem 2,5 quilómetros de profundidade, com vários poços, muitos níveis e um labirinto de túneis.
Um grupo que representa os mineiros disse que há grupos em várias partes da mina e estimou que mais de 500 pessoas estavam no subsolo quando o resgate começou.
Não se sabe exatamente há quanto tempo estão debaixo da terra, mas os familiares dizem que alguns deles estão lá desde julho.
Segundo a polícia, foram presos todos os mineiros ilegais que saíram antes e durante a operação de resgate e que serão acusados de mineração ilegal e invasão de propriedade.
Foi apreendido ouro, explosivos, armas de fogo e mais de dois milhões de dólares em dinheiro dos mineiros (cerca de 1,9 milhões de euros).
Um dos grupos cívicos que representam os mineiros divulgou dois vídeos durante o fim de semana, mostrando o que diz serem as terríveis condições no subsolo.
Neles, podem ser vistos dezenas do que parecem ser cadáveres alinhados numa caverna escura e embrulhados em plástico. Mostram também mineiros sem camisa e de aspeto macilento, enquanto quem filma diz que estão a morrer e implora às autoridades que lhes enviem comida e os tirem dali.
A exploração mineira ilegal é uma prática comum na África do Sul, com mineiros, por vezes menores de idade, a trabalhar em minas desativadas e abandonadas, principalmente na área da cidade de Joanesburgo e arredores.
Autoridades estimam que há cerca de 14.000 mineiros ilegais
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, classificou os 'zama zamas' ("aqueles que tentam" em zulu), como são chamados os mineiros ilegais, muitas vezes estrangeiros, incluindo moçambicanos, como "uma ameaça" à economia e à segurança.
Além dos riscos envolvidos, a exploração mineira ilegal afeta a economia sul-africana e resulta em enormes perdas de receitas, estimadas em cerca de mil milhões de dólares (972 milhões de euros) tanto para o Governo como para a indústria mineira do país.
As autoridades estimam que cerca de 14.000 mineiros ilegais, principalmente de Moçambique, Zimbabué e Lesoto, já tenham sido detidos, em sete províncias do país, desde dezembro de 2023 e que existam 6.000 minas abandonadas por todo o território.
Em 17 de dezembro, as autoridades sul-africanas anunciaram o repatriamento de 27 moçambicanos menores de idade, sem documentos, para o seu país, sendo que alguns tinham sido resgatados das minas de exploração ilegal em Stilfontein.
- Com Lusa