
O Conselho Nacional de Resistência do Irão (NCRI), um dos mais antigos grupos de oposição ao regime de Teerão, apelou hoje para uma mudança política sem ser "imposta de cima", como aconteceu no passado.
"A crise envolveu a ditadura clerical. Esta é uma realidade visível para todos e especialmente para aqueles que viram o que aconteceu na Síria", disse a presidente eleita do NCRI, Maryam Rajavi, a um grupo de eurodeputados em Estrasburgo, França.
Rajavi, 71 anos, aludiu a um "novo capítulo fundamental" para o Irão e a uma nova dinâmica para a região, mas defendeu que a mudança de regime não passa pelo apaziguamento ou a negociação.
Segundo Rajavi, esta estratégia "conduziu à imposição da guerra" e serve apenas para os líderes religiosos ganharem tempo.
"Uma ditadura religiosa é incapaz de se reformar e este regime beneficia da exploração do terrorismo e da busca incessante de armas nucleares", alertou, citada pela agência de notícias espanhola EFE.
Rajavi disse que uma alternativa política deve partir do povo iraniano e da resistência organizada.
"Não queremos dinheiro nem armas, o que sempre quisemos foi resistir, tal como vocês, europeus, fizeram contra o fascismo", afirmou.
A União Europeia disse hoje que a mudança de regime no Irão não faz parte da posição comum sobre o conflito, após especulações de um possível envolvimento dos Estados Unidos, aliados de Israel, no conflito com o Irão.
As declarações de Maryam Rajavi surgiram horas depois de o filho mais velho de Mohammed Reza Pahlavi, o último xá do Irão (antiga Pérsia), ter apelado para uma revolta nacional para derrubar o regime dos 'ayatollahs'.
Num discurso divulgado na terça-feira à noite nas redes sociais, Reza Pahlavi apelou ao exército, à polícia e aos funcionários públicos do Irão para que apoiem o povo e "não se sacrifiquem por um regime decadente".
"Não se oponham ao povo iraniano por causa de um regime cuja queda começou e é inevitável", afirmou Reza Pahlavi, citado pela agência de notícia espanhola Europa Press.
Pahlavi disse que os que se unirem ao povo "podem salvar" a vida e desempenhar "um papel histórico na transição da República Islâmica" para um novo Irão.
"Temos um plano para o futuro e para o florescimento do Irão. Estamos preparados para os primeiros 100 dias após a queda, para o período de transição e para o estabelecimento de um governo nacional e democrático", prometeu a partir dos Estados Unidos, onde vive no exílio.
O filho do último xá criticou em numerosas ocasiões o atual regime e, em particular, o 'ayatollah' Ali Khamenei.
Em abril de 2023, Pahlavi afirmou, a propósito do chamado Acordo de Ciro, uma iniciativa de paz entre um futuro Irão democrático e Israel, que acreditava que o dia do restabelecimento dos laços estava "mais próximo do que nunca".
Mohammad Reza Pahlav (1919-1980) esteve no poder entre 1941 e 1979, quando o seu regime, apoiado pelos Estados Unidos, foi derrubado pela revolução iraniana que levou ao poder o 'ayatollah' Ruhollah Khomeini (1902-1989) e instituiu a República Islâmica do Irão.