
O que o Auckland City fez nos Estados Unidos, em pleno Mundial de Clubes, é daquelas coisas que provavelmente só são possíveis num desporto tão imprevisível como o futebol. Uma equipa amadora, composta por professores, vendedores, barbeiros, fisioterapeutas e estudantes, empatou com o Boca Juniors, gigante da Argentina.
Um resultado que vale um milhão de dólares, quantia quase simbólica para a maior parte dos emblemas na competição, mas de outra dimensão para este clube da Nova Zelândia, que já tinha angariado 3,58 milhões pela participação no torneio, e para os seus jogadores a part-time, que recebem cerca de 77 euros por semana da federação neozelandesa de futebol.
"Vamos dividir o prémio entre toda a equipa técnica e o plantel. Eu limpo piscinas e banheiras de hidromassagem. Tirei uma licença do trabalho sem vencimento, senão teria que pedir demissão para ir aos Estados Unidos", explica Sebastián Ciganda, guarda-redes suplente do Auckland City.
Christian Gray, o autor do golo contra o Boca Juniors, o único da equipa no Mundial de Clubes, é professor estagiário em duas escolas. Marcou a Marchesín, antigo guardião do FC Porto e internacional argentino. Nas bancadas, cerca de 50 adeptos do Auckland City presenciaram uma improvável história, depois das derrotas nas primeiras jornadas contra Bayern (10-0) e Benfica (6-0).
"É um sonho. Vir de um nível amador para jogar neste ambiente é algo que nos deixa orgulhosos", afirmou o treinador Ivan Vicelich, após o desaire com o Bayern.
Como o Auckland City chegou ao Mundial?
O Auckland City é o único represente da Oceânia no Mundial de Clubes. Apesar de ser uma equipa amadora, trata-se de um gigante no continente, tendo conquistado 13 títulos da Liga dos Campeões da OFC e 12 do campeonato neozelandês.
A falta de concorrência na Oceânia explica-se pela ausência dos clubes australianos, que desde 2005 jogam nas ligas da Confederação Asiática de Futebol, e das únicas duas equipas profissionais da Nova Zelândia, o Auckland FC e o Wellington Phoenix, que também foram à procura de maior competitividade na Ásia.