Foi em apoteose que o público brindou o espectáculo “Nem Mais um Minuto de Silêncio”, apresentado no auditório do Mudas – Museu de Arte Contemporânea da Madeira. A sala encheu para assistir a uma obra profundamente emotiva que ousou romper o silêncio em torno de um tema duro e urgente: a violência doméstica.

Inspirado em testemunhos reais, o espectáculo conduz o público através de uma narrativa coreografada que começa com a doçura do amor e da cumplicidade e desagua, lentamente, no abismo da opressão. No palco, os passos de dança narram a história de um casal que tem início na leveza dos primeiros tempos que dá lugar ao peso de gestos controladores, da humilhação e, por fim, da violência.

A cada quadro e também a cada música, os corpos dos bailarinos em movimento comunicam aquilo que tantas vezes não tem palavras, o silêncio que sufoca, a vergonha que isola, a dor que corrói por dentro.

A banda sonora, desde Beyoncé a Hans Zimmer, é um espelho da intensidade emocional que se vive em palco. Um dos momentos mais arrepiantes da noite foi “Aqui morre uma mulher”, num silêncio que pesou mais do que qualquer grito.

A interpretação de Joana Moreira, no papel da vítima, chega a ser comovente. A sua performance espelha o que a personagem não pode ou não consegue dizer. Ao seu lado, Brayan Catanho assume o papel do agressor com uma frieza inquietante, contrastando com a doçura das filhas (Leonor Sousa e Sara Teixeira), cujos movimentos recordam que a violência doméstica nunca atinge apenas duas pessoas, mas toda a família.

Com direcção de Clara Santos, o poema original de Manuela Vieira, os cenários assinados pela Domínio Divertido e o desenho de luz de Maurício Freitas contribuíram para um ambiente intenso, onde cada detalhe foi pensado para amplificar a mensagem: já não há mais tempo para calar.

“Nem Mais um Minuto de Silêncio” não é apenas um espectáculo. É um grito. É um acto de coragem. É um apelo urgente à empatia, à denúncia e à mudança. O público, esse viveu com um nó na garganta, com lágrimas à mistura porque as cenas, comprometidas com a verdade, tocou sensibilidades.

A sessão de amanhã está esgotada, mas ainda existem bilhetes para o espectáculo de domingo.