
O Papa Francisco morreu ao início da manhã desta segunda-feira, aos 88 anos, segundo confirmou o Vaticano.
“Esta manhã, às 07:35 (06:35 em Lisboa), o bispo de Roma, Francisco, regressou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da sua Igreja”, anunciou o cardeal Kevin Farrell num comunicado divulgado pelo Vaticano.
A notícia da morte do Papa surge um dia depois do Sumo Pontífice ter surpreendido os fiéis ao aparecer na varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, para dar a tradicional bênção "Urbi et Orbi".
"Feliz Páscoa", disse o Papa, que apareceu numa cadeira de rodas, visivelmente fragilizado, perante os milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro para as celebrações da Páscoa.
Apesar de parecer muito debilitado, Francisco passeou no papamóvel entre os milhares de fiéis presentes na Praça de São Pedro.
Papa esteve internado durante 38 dias
O Sumo Pontífice esteve internado durante cinco semanas no Hospital Universitário Agostino Gemelli, em Roma, onde deu entrada para tratar uma bronquite, que evoluiu para infeção polimicrobiana das vias respiratórias e, posteriormente, para pneumonia bilateral. Teve alta a 23 de março, aquela que foi a sua quarta e mais longa hospitalização desde o início do seu pontificado, em 2013.
Nos últimos tempos, a saúde do Papa foi ficando cada vez mais debilitada. As constipações e gripes tornaram-se recorrentes. Problemas no quadril, no nervo ciático e nos joelhos agravaram-se e comprometeram a sua mobilidade.
Em apenas três meses, Francisco sofreu duas quedas. Em janeiro deste ano, magoou um braço e, em dezembro do ano passado, sofreu ferimentos no queixo. Não foi muito preocupante e nem precisou de ir ao hospital, tendo recuperado em casa. Situação mais grave aconteceu em 2021, quando foi operado em julho, devido a uma inflamação no intestino grosso.
Em 2023, esteve três vezes no Hospital Universitário Agostino Gemelli, responsável pela saúde de todos os Papas. Em março, esteve internado com dificuldades respiratórias e ainda nesse mês, a poucos dias da Páscoa, voltou à unidade hospitalar com uma pneumonia grave. E em junho foi operado a uma hérnia abdominal - uma cirurgia programada e sem complicações.
Remoção de parte do pulmão aos 21 anos
O histórico de saúde do Papa Francisco tem sido marcado por doenças desde a juventude. Formou-se em Química e, mais tarde, escolheu o caminho do sacerdócio. Iniciou o noviciado na Companhia de Jesus, primeiro no Chile e depois na Argentina, onde, em 1963, terminou o curso de Filosofia.
Aos 21 anos, começou a dar aulas, mas uma doença respiratória obrigou-o a fazer uma cirurgia e teve que retirar parte de um pulmão. Nada que o tenha impedido de seguir o seu percurso. A 13 de dezembro do mesmo ano, foi ordenado sacerdote.
Os problemas de saúde de Jorge Mario Bergoglio são, assim, anteriores ao pontificado, e foram-se agravando ao longo dos anos. Por diversas vezes, foi obrigado a cancelar a presença em eventos importantes no Vaticano e em viagens ao estrangeiro.
Em 1992, foi designado bispo auxiliar de Buenos Aires e, em 1998, arcebispo primaz da Argentina. Iniciou então um intenso trabalho, denunciando injustiças económicas e sociais. O título de cardeal foi-lhe concedido em 2001, por João Paulo II.
A homenagem a Francisco e a “dedicação aos pobres”
Nascido no bairro de Flores, em Buenos Aires, no dia 17 de dezembro de 1936, Jorge Mario Bergoglio descendia de emigrantes italianos, que chegaram à Argentina em 1927.
Foi o primeiro Papa do continente americano, o primeiro do hemisfério sul e o primeiro jesuíta. Escolheu o nome Francisco em homenagem a Francisco de Assis, que sempre considerou uma referência pela “sua simplicidade e dedicação aos pobres”.
Condenou conflitos armados, o capitalismo selvagem e o discurso de ódio contra outras religiões, imigrantes e minorias sexuais. As causas sociais tornaram-no uma figura popular, mas também alvo de críticas por parte da ala mais conservadora da Igreja Católica e da extrema-direita europeia. Tentou dar uma dimensão mais humana à Igreja Católica, manchada pelos escândalos de abusos sexuais e de corrupção.
Lampedusa escolhido como primeiro destino e as visitas a Portugal
O início do seu pontificado ficou marcado por uma abordagem menos formal e por um envolvimento intenso na atualidade social e política.
Francisco escolheu como destino da primeira viagem como líder da Igreja Católica, a ilha italiana de Lampedusa, que na última década acolheu milhares de refugiados e migrantes em travessia para a Europa.
Nos últimos 12 anos fez mais de 40 viagens de Estado e visitou dezenas de países, muitos onde os católicos são uma minoria, como o Iraque.
Esteve pela primeira vez em Portugal em 2017, para a celebração do Centenário das Aparições. Canonizou em Fátima os pastorinhos Jacinta e Francisco. Seis anos depois, em 2023, voltou a Portugal para as Jornadas Mundiais da Juventude.
Nascido Jorge Mario Bergoglio, o cardeal argentino foi escolhido pelo conclave papal para suceder a Bento XVI, que tinha renunciado ao cargo, no dia 13 de março de 2013. A dirigir a Igreja Católica há quase 12 anos, o Papa Francisco deixa um Pontificado marcado pelos afetos e pela dedicação aos pobres.