Durante um discurso de mais de 40 minutos num almoço organizado pelo International Club of Portugal, em Lisboa, Nuno Melo considerou que a segurança ocidental enfrenta desafios significativos, nomeadamente o papel da China como "pivô ocidental" das rotas da seda, a sua "parceria estratégica" com a Rússia e a crescente influência de países como o Irão e a Coreia do Norte, ainda que com "ambições geopolíticas muito distintas".

O ministro alertou que a conjugação deste alinhamento estratégico com "as pretensões territoriais óbvias, nítidas, que são conhecidas e a vontade de afirmação no contexto geopolítico global de vários países" revela um "potencial de risco futuro de novos conflitos".

Sobre o atual cenário internacional, Nuno Melo defendeu que a contestação ao alinhamento mundial definido no pós-Segunda Guerra Mundial "deve ser compreendida" e "deve ser contestada porque os países não têm de guardar para si o destino que outros quiseram para eles". No entanto, sublinhou que o Ocidente "tem de estar à altura daquilo que lhe é pedido neste contexto mundial".

"O que está mesmo em causa é o nosso modo de vida. E o que está em causa é a nossa necessidade de defendermos o nosso modo de vida. Eu tenho um bom modo de vida, e que não pretendo substituir por qualquer outro", afirmou, acrescentando que estas mudanças no contexto geopolítico "reforçam a evidência da transição para uma ordem multipolar".

Na mesma intervenção, Nuno Melo fez um aparte para notar que olha com atenção para a abordagem protecionista da administração norte-americana - que classificou de "nacionalismo económico" -, realçando as diferenças dessa política para a "globalização de mercado que permitiu o desenvolvimento de tantos povos".

Nuno Melo lembrou ainda o papel da Sociedade das Nações, criada em 1919 e dissolvida em 1946 como resultado, recordou, de não ter conseguido impedir os impulsos expansionistas que levaram à Segunda Guerra Mundial, deixando um aviso sobre a atual fragilidade das organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU).

"A ONU foi criada com o mesmo propósito. Resta saber se está à altura dos desafios dos nossos tempos. É desejável que não tenha o fim que a seu tempo teve a Sociedade das Nações por causa dessa incapacidade que todos acabamos por perceber medida em conflitos globais e em milhões de mortos. Isto para dizer o quê? É que por vezes a história repete-se e nós podemos desejar que não se repita", afirmou.

O ministro da Defesa alertou ainda para o facto de, atualmente, estimar-se que o investimento da Rússia em defesa em 2025 deverá ultrapassar a globalidade dos 27 países membros da União Europeia, considerando que estes números são animadores e reforçou que a União Europeia deve reforçar a sua contribuição para a NATO para garantir a partilha de encargos e assegurar que não vive "debaixo do guarda-chuva protetor dos outros".

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