"Queremos que a segunda volta das eleições, que foi cancelada de forma abusiva, seja retomada", disse à agência espanhola de notícias, a EFE, Ramona Ioana Bruynseels, deputada da Aliança para a União dos Romenos (AUR), o partido ultranacionalista que ficou em segundo lugar, com 18% dos votos nas eleições legislativas de 1 de dezembro.
De acordo com os órgãos de comunicação locais, cerca de 10 mil manifestantes reuniram-se inicialmente na Praça da Universidade, no centro da cidade, mas mais tarde juntaram-se a uma marcha maior em direção à sede do governo, que é formado por uma grande coligação de sociais-democratas, conservadores e o partido da minoria húngara, avançando depois para o Palácio Presidencial.
O presidente da AUR, George Simion, disse aos presentes que as manifestações iriam continuar até que todas as suas exigências fossem satisfeitas.
"A voz de mais de 100 mil pessoas tem de ser ouvida e o (primeiro-ministro) Marcel Ciolacu e o seu governo têm de sair", disse Simion, apesar de a polícia não ter dado números oficiais sobre o número de manifestantes e de os meios de comunicação social romenos apenas falarem de dezenas de milhares.
Alguns dos manifestantes vieram do estrangeiro, onde Georgescu tinha muitos apoiantes, lê-se na reportagem da EFE: "Temos de apoiar a democracia aqui, porque nos foi roubada; todos nós gostaríamos de regressar à Roménia, queremos ser um país pró-europeu, mas não como eles fazem agora; na Europa há democracia, mas aqui não há nada disso", disse Nicu, um motorista que viajou de Modena, em Itália, para mostrar o seu desacordo com a anulação das eleições.
A manifestação de hoje surge dois dias depois de uma outra, que juntou também milhares de romenos em frente ao Parlamento, contra o cancelamento das eleições presidenciais, depois de uma campanha marcada por suspeitas de interferência russa.
O Tribunal Constitucional romeno, localizado no imenso edifício, cancelou a votação no início de dezembro, um acontecimento extremamente raro na União Europeia (UE), quando o candidato apresentado pela extrema-direita, Calin Georgescu, venceu para surpresa de todos.
As autoridades acusam-no de ter beneficiado de uma campanha de apoio ilícita na plataforma TikTok, o que levou a Comissão Europeia a abrir uma investigação.
As novas presidenciais estão previstas para 04 de maio (uma eventual segunda volta realizar-se-á duas semanas depois), devendo a data ser validada na próxima semana.
Os incidentes em torno das eleições presidenciais provocaram uma crise institucional no país dos Balcãs e membro da UE onde, nas eleições legislativas, o partido social-democrata PSD ganhou, à frente do partido ultranacionalista AUR.
O PSD, liderado pelo primeiro-ministro Marcel Coliacu, está à frente desde finais de dezembro de um executivo de coligação com o PNL, o partido da minoria húngara UDMR e o grupo misto das minorias nacionais.
Georgescu, a quem as sondagens davam uma intenção de voto de cerca de 6%, venceu a primeira volta das eleições presidenciais de novembro com 23% dos votos, à frente da candidata liberal-nacionalista Elena Lasconi (19%).
Posteriormente, o Serviço de Informações romeno (SRI) confirmou que a campanha do candidato pró-russo foi apoiada por uma estratégia de interferência com o "'modus operandi' de um ator estatal", numa alusão à Rússia.
MBA (JSD/JH) // MAG
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