
A portuguesa Maria Beatriz Gonçalves regressa à competição após ter ficado a muito pouco dos Jogos Olímpicos Paris2024, com Cheila Vieira, e enfrenta a "novidade" do dueto misto nos Europeus de natação artística, no Funchal.
Em entrevista à Lusa, a nadadora do GesLoures, de 25 anos, partilha o entusiasmo com uma "estreia" ao sexto Europeu sénior da carreira, por ter novo companheiro na água, após o fim do ciclo olímpico anterior.
"Até aqui, estive sempre no dueto feminino, com a Cheila Vieira, um processo muito agradável, tendo lutado muito para chegar aonde chegámos. Fomos quartas nos últimos Europeus [o melhor resultado de sempre da natação artística portuguesa]. Foi incrível. Esta é uma oportunidade para mim", conta.
Gonçalves foi submetida a intervenção cirúrgica na anca, tendo uma "recuperação bastante complicada", e Vieira colocou uma pausa na competição, após um cansativo processo para Paris2024.
A participação no dueto misto, concretamente na prova de técnico que hoje decorre no Complexo de Piscinas do Funchal, estava inicialmente prevista apenas como suplente, mas agora vai poder competir, após um processo de reabilitação em que agradece, em muito rápida sucessão, a muita gente, de Cheila Vieira a fisioterapeuta, psicóloga, nutricionista e treinadora.
"Depois de tantos anos a competir, ficar parada tanto tempo é um risco psicológico grande. (...) Com o Daniel, estou a treinar há sensivelmente um mês, e é difícil colocar um objetivo, porque estão cá os melhores duetos mistos da Europa", reflete.
Apesar disso, e afastando a pressão de pódios como única medida sobre se "correu bem", uma tendência habitual na perceção dos portugueses em competições, quer antes "mostrar a boa imagem com este esquema".
A nadadora, que é metade do melhor dueto da história da natação artística portuguesa, com duas finais em campeonatos do Mundo, considera "uma pergunta complicada" a que tenta balizar o seu futuro, "até pela cirurgia", mas também por uma recuperação que, "estando a correr muito bem", tem sempre coisas fora do controlo.
"Estou superapta para fazer o dueto misto, em que o ritmo é diferente do que tinha com a Cheila. Treinávamos oito horas diárias... O tipo de estímulos é completamente diferente. Foram muitos anos, com a Cheila, a trabalhar a um ritmo muito alto, e neste momento estamos a fazer uma pausa, como outros grandes países, de um ou dois anos", comenta.
De ficar a uma 'unha negra' de estar nos Jogos Olímpicos, algo nunca conseguido por uma portuguesa, à recuperação física, Maria Beatriz Gonçalves sentiu a necessidade de descanso, como a parceira de dueto e grande amiga, e, no caso de voltarem, será "nas melhores condições possíveis".
"A saúde mental tem ganho cada vez mais importância, para nós é um fator que queremos ter em conta. (...) Isto também é muito importante, tentarmos perceber que precisamos de descanso, depois de tantos anos a dar tudo pela modalidade", acrescenta.
O ano de 2025, conta, "está uma complicação", mas no bom sentido, e o entusiasmo pelos vários projetos que abraça é notório na cadência com que os enumera.
"Estou a acabar o terceiro ano de Gestão, tirei o curso de treinadora, e já acompanhei o Europeu júnior no ano passado. Estou um bocado a conciliar tudo: estudos, trabalho, dar aulas de natação, treinar, recuperação, e fisioterapia. Este ano está uma complicação, mas é bom", atira.
No Funchal, encontrará Inês Dubini e Anna Luiza Carvalho a assumir o papel que já desempenhou no dueto absoluto, e considera "um prazer enorme" que a dupla a tenha como referência.
"Eu e a Cheila sempre soubemos que as portas que estávamos a abrir na modalidade não eram só para nós, era para quem vinha a seguir. É um prazer enorme perceber que os outros olham para nós como grande exemplo. É perceber que todo o trabalho que fizemos é valorizado. Esse carinho que têm por nós é muito importante. Faz sentir que tudo valeu a pena", afirma.