
Esta tarde, na Ludoteca do Parque de Santa Catarina, no Funchal, teve lugar a 3.ª actividade literária do Projecto Literatura (d)e Migrações, organizada pelo Município do Funchal. O evento transportou os participantes para a mística atmosfera das roças de cacau de São Tomé e Príncipe, reavivando memórias e histórias que ligam a ilha à tradição migratória madeirense.
"Nesta iniciativa, a obra Tomé Bombom, de Olinda Beja, foi apresentada às crianças, revelando uma narrativa que vai muito além do simples conto", indica nota à imprensa.
As leituras estiveram a cargo de Ana Bracamonte, vereadora com o pelouro da Diáspora e Migrações, acompanhada de jovens oriundos de São Tomé e Príncipe – actualmente residentes na Madeira –fortalecendo o sentimento de identidade e pertencimento que une estas comunidades.
A autarca ressaltou que o projecto Literatura (d)e Migrações é parte integrante de uma estratégia de integração que, mês a mês, promove obras e temas que celebram a interculturalidade. Ao convidar o público infantil – e, consequentemente, toda a comunidade – a mergulhar nas histórias e sabores do legado migratório, o projecto reafirma o compromisso do Funchal com a preservação e divulgação da rica história da diáspora portuguesa e, em especial, da herança deixada pelos Madeirenses.
Esta actividade evidencia não só a importância da cultura e da língua portuguesa, mas também o valor das trocas interculturais que ultrapassam fronteiras. Por meio da literatura e da tradição, é possível construir pontes duradouras entre passado e presente, celebrando as memórias que, tal qual o bombom oferecido, adoçam a história e a vida contemporânea.
A narrativa pedagógica evidenciou a importância das migrações madeirenses para a ilha de São Tomé e Príncipe, ocorridas no final do século XIX e início do século XX, quando a demanda por mão-de-obra nas roças de cacau levou o governo colonial a recrutar trabalhadores de outras regiões portuguesas.
Esse movimento foi fundamental para a consolidação de São Tomé como um dos maiores produtores mundiais de cacau, e os madeirenses tiveram um papel decisivo no desenvolvimento agrícola e social da ilha. A sua presença é ainda percebida na nomenclatura dos locais, nas tradições religiosas e nas práticas agrícolas, criando uma ponte cultural entre as origens portuguesas e a realidade de São Tomé.
O evento destacou, também, a riqueza linguística e cultural que caracteriza São Tomé e Príncipe, onde o Português convive com variedades influenciadas por línguas locais, como o forro. Durante a sessão, termos carinhosos como 'açucrinha' – doce feito à base de coco – e expressões típicas como 'na fulufa, na fulufa' foram mencionados, promovendo um momento de partilha e conexão com as raízes culturais de ambas as comunidades.