
A tarde foi de calor em Lisboa e foi mais quente nos Jardins do Bombarda, em Lisboa, onde António Leitão Amaro aceitou ir falar com um grupo de jornalistas imigrantes, que integram o Migrant Media Project — do Expresso com a Associação Pão a Pão e apoio da Gulbenkian. A conferência propunha-se a ver “Portugal pelos olhos dos jornalistas imigrantes”, mas o primeiro debate foi sobre as novas políticas de imigração, restritivas, anunciadas pelo Governo na segunda-feira.
No palco, o ministro da Presidência ouviu muitas críticas: sobre os novos impedimentos à reintegração familiar, ao pedido de nacionalidade, sobre a diferenciação entre qualificados e menos qualificados (“estas pessoas conseguem mais facilmente custear o seu próprio processo de integração, o que nos permite concentrar os recursos nos menores, que são os mais vulneráveis”, explicou), sobre as dificuldades no atendimento e até na aplicação da lei. E reagiu aceitando a especial sensibilidade do tema, em particular para a comunidade já residente em Portugal: “Algumas escolhas que fizemos esta semana são das que mais me custaram, como governante, tomar e propor”, afirmou, justificando as novas medidas com as restrições dos serviços públicos, como do SNS e Educação. “A escassez implica escolhas e algumas vezes alternativas imperfeitas”, admitiu na conversa de hora e meia, perante uma plateia com algumas dezenas de imigrantes residentes no país.
Leitão Amaro foi desafiado a retomar o contacto com a comunidade, até mesmo com o Conselho Nacional para as Migrações (presidido por António Vitorino, que também já veio a público criticar o sentido geral das políticas). Prometeu ouvir ainda esse órgão, acrescentando que o processo legislativo ainda não começou no Parlamento, razão pela qual as leis não estão ainda fechadas. “Não tenho a certeza absoluta de todas as medidas que entreguei esta semana no Parlamento”, disse a dado momento do painel, depois de questionado pela audiência.
Depois de Luís Montenegro ter falado de proximidade com propostas do Chega neste campo, Leitão Amaro deu sinais diferentes nos Jardins do do Bombarda. E até explicou a direção das políticas com a necessidade de limitar o caminho de crescimento das forças mais radicais à direita. Frisou isso dizendo que “é fundamental que não se instale um discurso de uns contra os outros”, ou quando reconheceu que Portugal “pode estar a resvalar para um clima de raiva e ódio”, acrescentando que “só vamos evitar isso se tivermos um país que funciona”. Mas também ficou clara essa linha noutro ponto da conversa: “Estamos a apresentar as medidas mais difíceis de explicar, mas o que eu não quero é que haja uma maioria em Portugal que escolha a remigracão e as portas totalmente fechadas”.
O caminho do Governo, segundo o ministro, é o de dar agora prioridade à integração dos que estão já em Portugal: “Para podermos acolher bem quem chega e preservarmos a coesão social, precisamos de tomar medidas que, sim, limitam os fluxos, e que são duras para quem cá está e para quem tinha expetativas. Mas procuramos equilibrar medidas que regulam e apertam com medidas que integram”.
A conversa prolongou-se, com mais críticas e perguntas difíceis, passando por exemplo pela explicação do ministro de que as empresas não podem continuar a contratar mão de obra barata sem dar garantias aos trabalhadores de alojamento. E fechou com um apelo do ministro: “Podem não concordar com todas as curvas do caminho que estamos a propor. Aceito. Mas tenho a certeza que concordamos no destino”.