
O jornalista Anas Al Sharif, correspondente da Al Jazeera morto este domingo num ataque israelita na Faixa de Gaza, deixou uma mensagem final antes de morrer para ser divulgada postumamente.
Al Sharif, de 28 anos, sublinhou que nunca hesitou "em transmitir a verdade" e declarou que aquela era a sua "vontade e mensagem final".
“Se estas palavras chegarem até vocês, saibam que Israel conseguiu matar-me e silenciar a minha voz ”, escreveu.
Na mensagem, fala da Palestina como a joia da coroa dos muçulmanos e lembrou as crianças inocentes que nunca tiveram tempo para sonhar ou viver em segurança e paz, apelando a que nunca se esqueçam de Gaza
"E u vivi a dor em todos os seus detalhes , experienciei o sofrimento e a perda muitas vezes, mas nunca hesitei em transmitir a verdade como ela é, sem distorção ou falsificação. Não se esqueçam de Gaza... E não se esqueçam de mim nas vossas sinceras orações por perdão e aceitação", lê-se na mensagem divulgada no domingo
Al Sharif tinha mais de meio milhão de seguidores na rede social X. Deixou uma esposa e dois filhos pequenos órfãos.
Israel diz que era "terrorista"
Israel confirmou a morte de Al Sharif, acrescentando que o jornalista era um "terrorista" que promoveu ataques contra civis israelitas. A Al Jazeera nega as acusações.
Segundo a cadeia de televisão Al Jazeera, que cita o diretor do hospital Shifa, na cidade de Gaza, a tenda, junto ao hospital, onde estavam Anas e outros jornalistas da sua equipa foi um dos alvos do ataque israelita de domingo.
Além de Anas, morreram mais três jornalistas da equipa da Al Jazeera - Mohammed Qreiqeh, Ibrahim Zaher e Mohammed Noufal.
Em julho, o Comité para a Proteção dos Jornalistas declarou estar "seriamente preocupado" com a segurança de Anas, avançando que era "alvo de uma campanha de difamação militar israelita".
A Al Jazeera denunciou recentemente as forças armadas israelitas pelo que classificou como "campanha de incitamento" contra os seus repórteres na Faixa de Gaza, incluindo, em particular, Al Sharif.
Jornalista temia que Israel conseguisse silenciá-lo
Em mensagens enviadas à TIME no final de julho, durante uma reportagem, o jornalista disse que as alegações das das Forças de Defesa de Israel (IDF) o deixaram com medo de perder a vida.
“Vivo com a sensação de que posso ser bombardeado e martirizado a qualquer momento . (...) Estas ameaças são uma clara incitação e uma tentativa de assassinar a minha voz, seja por meio de bombardeamentos ou de distorção moral”, acrescentou.
Al Sharif, que cobriu a guerra desde o primeiro momento, revelou à TIME que chegou a receber chamadas diretas de oficiais militares israelitas exigindo que parasse a sua cobertura e deixasse o norte de Gaza. O jornalista alegou que também recebeu mensagens de WhatsApp detalhando seu paradeiro exato, o que ele considerava ser uma ameaça direta à sua vida.