"Pensando sobretudo na população de Cabo Delgado, que está a ser vítima e a abandonar as suas regiões de origem, temos o dever de acompanhá-la", declarou o Presidente italiano.

Sergio Mattarella falava à comunicação social momentos após ser recebido pelo chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, em Maputo, no âmbito de uma visita de trabalho que realiza ao país africano.

O chefe de Estado italiano garante que o seu país continuará a ajudar Moçambique a enfrentar o extremismo violento, destacando o compromisso da Itália no quadro do apoio da União Europeia à reconstrução da região afetada e na formação das forças moçambicanas para fazerem face à insurgência.

No total, a União Europeia (UE) pretende aplicar 65 milhões de euros este ano para projetos de desenvolvimento no norte de Moçambique, incluindo a região afetada pelo terrorismo, um pacote que faz parte de um apoio mais vasto ao desenvolvimento de Moçambique para o período 2021-2027, estimado em, pelo menos, 428 milhões de euros para os primeiros quatro anos.

Segundo Sergio Mattarela, o apoio a Moçambique para o desenvolvimento do Norte e para a formação de militares para combaterem a insurgência deve ser assumido como um "compromisso".

"São dois compromissos que estão de acordo com as necessidades de Moçambique", frisou o governante.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio temporário.

Sergio Mattarela é o primeiro chefe de Estado italiano a realizar uma visita oficial a Moçambique.

A visita acontece numa altura em que a petrolífera italiana Eni lidera o início da exploração de gás natural na bacia do Rovuma, através de uma plataforma flutuante estacionada cerca de 40 quilómetros ao largo de Cabo Delgado.

As reservas estão entre as maiores do mundo e só ainda não há mais projetos a aproveitá-las devido à insurgência armada no norte de Moçambique, que tem travado trabalhos em terra.

No caso da plataforma que funciona no mar, o gás já começou a ser bombeado para a liquefação e exportação arrancarem nos próximos meses.

A Itália era em 2020, data das mais recentes estatísticas oficiais, o principal destino das exportações de Moçambique para a UE, constituídas sobretudo por alumínio.

No outro prato da balança, a Itália era o segundo país da UE (depois de Portugal) na lista das importações, fornecendo a Moçambique principalmente produtos químicos e peças metálicas para infraestruturas.

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