
Este ano, em termos meteorológicos, está "muito próximo" dos "piores anos" das últimas décadas e poderá a ser "mais grave" do que 2017, quando se registaram trágicos incêndios no país, alertou o especialista em fogos florestais Domingos Xavier Viegas.
"Tendo como referência alguns dos piores anos de que temos registo" - por exemplo, 2003, 2005, 2017, 2022 -, que "são dos piores anos" nas últimas décadas, "este ano está muito próximo desses" e "está a acompanhar muito de perto o ano de 2017" e "a ser, enfim, mais grave em termos de indicadores", afirmou Viegas.
O diretor do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais (CEIF), da Universidade de Coimbra, explicou, em declarações à Lusa, que com base em dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e de outros indicadores tem vindo a acompanhar a evolução das condições no centro do país que podem favorecer a ocorrência de incêndios rurais.
Embora saliente que o IPMA terá "dados mais completos e mais extensos", Xavier Viegas avançou que, com base num indicador "do sistema canadiano de indexação do perigo de incêndio", chamado "índice de secura, que mede o estado de secura do solo", de forma cumulativa, praticamente" há várias semanas que não chove no país, pelo menos" na região centro, e, portanto, "o estado de segura do solo vai-se agravando".
"Os combustíveis, não só os finos, secos, mortos, portanto, que esses secam muito rapidamente, mas outros", os "arbustivos, que têm um tempo de resposta mais longo, também vão secando e a sua secura vai aumentando à medida que avançamos" na estação, salientou, notando que, "por isso, vão ficando cada vez mais disponíveis para arder".
Este ano, referiu, "esse índice tem vindo a aumentar a uma taxa igual ou superior à que aumentou em 2017", quando se registaram "dois períodos muito maus", em junho, provocando incêndios que vitimaram seis dezenas de pessoas, com "uma melhoria em meados de agosto", mas depois com "um período de calor sem chuva" e, em outubro, outra vez "valores muito elevados do índice de secura".
Chuvas do início do ano agravaram a situação
O professor jubilado da Universidade de Coimbra admitiu que as chuvas do início do ano tenham agravado a situação, pois fez "com que crescesse muita vegetação, que agora ficou seca e "disponível para arder", além de "algumas ações de limpeza da vegetação" realizadas terem acabado "por não ter efeito", pois a "vegetação voltou a crescer".
"Aquilo que disse, (...) com base em dados de Coimbra, portanto aqui da região centro, é apenas válido para uma parte do território, porque seguramente há outras partes do território em que as condições são piores que estas", frisou Domingos Xavier Viegas.
Nesse sentido, perante as temperaturas elevadas no interior norte e centro, "de uma forma consecutiva", e também no Alentejo e no sul, as condições podem ser "em termos relativos até piores" do que no centro, admitiu.
Ano "bastante perigoso"
Um dos programas da Universidade de Coimbra de medição do teor de humidade dos combustíveis da floresta é realizado com uma amostragem na Lousã, com combustíveis representativos do centro e norte do país, e Xavier Viegas salientou que o "teor de humidade para já dos combustíveis mortos é muito, muito baixo".
"Os dados que os meus colegas me facultaram indicam teores de humidade da ordem dos 4 ou 6%, que são valores que indicam um índice de perigo extremo. E os valores do teor de humidade dos arbustos" estão "entre os 5% mais baixos desde que temos registo há mais de 20 anos", apontou.
"Está, de facto, a ser um ano, deste ponto de vista, bastante mau, portanto, bastante perigoso. Oxalá as condições se alterem", vincou o diretor do CEIF, acrescentando que a situação só poderá alterar-se com o aumento da humidade e com chuva.
O especialista apelou ainda para que haja "muito cuidado da parte das pessoas", se evite o uso do fogo e que haja novas ignições, pois, como tem acompanhado nas semanas anteriores, "lamentavelmente, continua a haver novas ignições todos os dias e isso é perfeitamente inexplicável".
Com Lusa