
O Ministério da Saúde esclareceu, esta quarta-feira, que a demora no socorro que levou à morte de um utente em Pombal estão relacionadas com alegada falta de zelo de dois profissionais que intervieram no processo, e não com a greve no INEM.
Numa nota divulgada depois de ser conhecido o resultado do relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) relativo ao atraso no socorro a um utente de 53 anos, do Pombal, que morreu no dia 04 de novembro, em que se conclui que a morte do utente "poderia ter sido evitada caso tivesse havido um socorro, num tempo mínimo e razoável", "que tornasse possível a retirada e transporte da vítima através de uma Via Verde Coronária para um dos hospitais mais próximo", o Ministério da Saúde sublinha que o inquérito afasta qualquer relação com a greve no INEM.
Segundo a versão do relatório conhecida - diz o Ministério da Saúde - "a eventual demora na chegada do socorro do INEM, e ao contrário do que foi aventado por alguns, não é atribuída à existência de greve no INEM, nem sequer a uma demora no atendimento da chamada pelo CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes] ".
"Falta de zelo, de cuidado e de diligência"
Na nota, citando a versão do relatório da IGAS que lhe foi enviado, o Ministério diz que "as causas da demora serão outras" e que estarão relacionadas "com a alegada "falta de zelo, de cuidado e de diligência" de dois profissionais que intervieram no processo de socorro".
Sobre esses comportamentos, o relatório refere que os profissionais "não atuaram segundo as boas práticas da emergência médica" e que se lhes "exigia outra atitude mais célere e expedita, em concreto na triagem e despacho de meios", acrescenta.
Afastando assim a relação da greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar do INEM com esta morte, o Ministério refere que, segundo o relatório a que teve acesso, as causas das falhas no socorro terão, alegadamente, sido "comportamentos individuais subsequentes ao atendimento da chamada de emergência".
A IGAS abriu um total de 12 inquéritos para apurar a relação dos eventuais atrasos no atendimento realizado pelos CODU do INEM. Já arquivou dois e num terceiro concluiu que a morte poderia ter sido evitada.
"Concluiu-se que a morte do utente poderia ter sido evitada caso tivesse havido um socorro, num tempo mínimo e razoável, que tornasse possível a evacuação da vítima através de uma Via Verde Coronária para um dos hospitais mais próximos, onde poderia ser submetido a angioplastia coronária numa das respetivas Unidades Hemodinâmicas", adiantou a IGAS, num comunicado divulgado esta quarta-feira.
No dia da morte decorriam duas greves em simuntâneo
Este caso remonta a 04 de novembro de 2024, dia em que decorreram, em simultâneo, duas greves - uma dos técnicos de emergência pré-hospitalar às horas extraordinárias e outra da administração pública.
A notícia das conclusões destes três inquéritos foi avançada pelo Expresso e confirmada por um comunicado da IGAS enviado à Lusa.
Segundo o comunicado da IGAS, o relatório com as conclusões do inquérito foi enviado ao Ministério Público, à Procuradoria da República da Comarca de Leira, ao Departamento de Investigação e Ação Penal - Secção de Pombal, para conhecimento.
Foi também remetido ao INEM, para que o conselho diretivo decida sobre a instauração de um procedimento disciplinar a uma técnica de emergência pré-hospitalar, por haver indícios da prática de conduta infratória na prestação de socorro à vítima, mas também sobre a manutenção da prestação de serviços a um médico, pela "gravidade dos factos praticados na prestação de socorro à vítima", e sobre as alterações que considere necessárias ao funcionamento do Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM).
As conclusões seguiram ainda para a cônjuge da vítima e para o gabinete da ministra da Saúde, para conhecimento, assim como para a Unidade Local de Saúde da Região de Leiria.
INEM passou a estar diretamente dependente da ministra da Saúde
Em 12 de novembro de 2024, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, anunciou que o INEM passaria a estar na sua dependência direta, alegando que o instituto assumia uma "prioridade enorme" devido ao alarme social que se verificou nessa altura e a necessidade de devolver a confiança à população no sistema de emergência pré-hospitalar.
Nessa altura, Ana Paula Martins afirmou, no Parlamento, que assumiria a responsabilidade pelas consequências dos atrasos no atendimento de chamadas do INEM, comprometendo-se a tomar as medidas necessárias para refundar o instituto.
"Não tenham dúvidas de que, enquanto ministra da Saúde, assumo total responsabilidade pelo que correu menos bem e comprometo-me, em nome do Governo, a executar as medidas necessários para a refundação do INEM", disse.
Com Lusa