O Governo britânico anunciou esta quinta-feira uma série de inquéritos sobre a violação e a exploração sexual de menores por grupos criminosos, apesar de alguma resistência prévia, suscitando críticas da oposição e do multimilionário Elon Musk.
A ministra do Interior, Yvette Cooper, apresentou no Parlamento um plano para a realização de cinco inquéritos sobre exploração sexual de crianças como parte de um projeto-piloto que poderá depois ser alargado a outras áreas.
Os casos alvo do inquérito abalaram várias cidades de Inglaterra entre o final da década de 1990 e o início da década de 2010, envolvendo raparigas vulneráveis ao cuidado de serviços sociais exploradas sexualmente por grupos de homens designados na imprensa por "gangues de aliciamento".
Dois inquéritos nacionais que duraram vários anos envolveram milhares de testemunhas, resultando na descoberta de casos de violações e violência sexual de menores e de falhas por parte de serviços públicos na sua proteção.
O que se segue?
O Governo quer agora seguir o modelo do inquérito local realizado em Telford, perto de Birmingham, no centro de Inglaterra, porque, segundo Cooper, "resultou em mudanças tangíveis, incluindo a introdução de um sistema de videovigilância em táxis e a designação nas escolas secundárias locais de especialistas em exploração sexual de crianças".
"Inquéritos locais eficazes podem analisar muito mais detalhadamente a realidade local e dar respostas e soluções mais relevantes a nível local do que um longo inquérito a nível nacional", defendeu.
Ao mesmo tempo, o Governo determinou a realização de uma "auditoria rápida da atual escala e natureza da exploração baseada em gangues em todo o país" e para fazer recomendações sobre o trabalho adicional necessário.
A ministra admitiu que um relatório de 2022 concluiu que não era possível obter uma imagem exacta da prevalência da exploração sexual de crianças com base nos dados existentes na altura.
A presente iniciativa vai procurar usar dados mais atuais, incluindo sobre a etnia e demografia dos grupos envolvidos e das suas vítimas, e analisar fatores culturais e sociais que levam a este tipo de crime.
"Como é que as outras mais de 40 cidades vão obter respostas?"
O Partido Conservador, que tem feito pressão sobre o Governo para a realização de um inquérito a nível nacional com a capacidade para intimar testemunhas, criticou o âmbito limitado desta iniciativa.
"A ministra do Interior anunciou o apoio do Governo a apenas cinco inquéritos locais. Permitam-me que diga que isto é totalmente inadequado quando sabemos que até 50 cidades foram afetadas. Como é que as outras mais de 40 cidades vão obter respostas às questões que têm?", questionou o antigo secretário de Estado do Interior, Chris Philp, no parlamento.
Casos
O caso mais mediático de todos ocorreu em Rotherham, onde quase 1.500 raparigas menores de idade foram drogadas, violadas e exploradas sexualmente por grupos de homens, a maioria por britânicos de origem paquistanesa, durante um período de 16 anos, entre 1997 e 2013.
Outros casos foram registados entre o final da década de 1990 e o início da década de 2010 em várias cidades inglesas, sobretudo no norte de Inglaterra, como Oldham e Rochdale, mas também em Oxford, no centro, e Bristol, no sul do país.
Apelos a inquérito nacional dos conservadores
O anúncio desta quinta-feira acontece após apelos a um inquérito nacional dos conservadores, do Partido Reformista e de alguns deputados trabalhistas sobre o abuso sexual de jovens por parte de gangues em várias zonas do país, invocando a necessidade de perceber melhor o fator étnico.
Críticas de Elon Musk
Nas últimas semanas, o multimilionário norte-americano Elon Musk criticou a recusa do Governo em realizar um inquérito nacional, acusando a secretária de Estado britânica, Jess Phillips, de ser uma "apologista de genocídio por violação" e o primeiro-ministro, Keir Starmer, antigo procurador-geral da justiça, de ser "culpado por cumplicidade".
Musk alegou que o escândalo foi "encoberto", mas Starmer respondeu, acusando o conselheiro de Donald Trump, Presidente eleito dos EUA, de "espalhar mentiras e desinformação".