
"Vamos dar o prazo de 20 dias para a direção do partido se posicionar e criar condições para que esse evento possa ocorrer com datas previstas. Se até daqui a 20 dias o processo não tiver pernas para andar, vamos voltar atrás", disse Edgar da Silva, porta-voz dos desmobilizados da Renamo, em conferência de imprensa em Maputo, garantindo que esta orientação, para reabertura das sedes, será passada agora às "bases" do partido.
A Renamo chegou a anunciar anteriormente a realização do primeiro Conselho Nacional de 2025 - estatutariamente tem de organizar dois por ano - em 07 e 08 de março, que foi depois adiado, sem nova data.
Este grupo exige a sua realização e num formato "alargado aos combatentes e aos outros membros" do partido, enquanto "parte reivindicativa deste processo".
"Queremos que um Conselho [Nacional] abrangente decida", acrescentou o porta-voz deste grupo.
Edgar da Silva garantiu que várias delegações, distritais e provinciais, do partido permanecem encerradas em todo o país.
A sede nacional e o gabinete de Momade também foram encerrados e ocupados por antigos guerrilheiros em protesto, entre 15 e 28 de maio, até serem retirados a tiro e gás lacrimogéneo pela Unidade de Intervenção Rápida, com mais de 50 desmobilizados a serem levados pela polícia moçambicana.
Alvo das críticas dos antigos guerrilheiros, Ossufo Momade assumiu a presidência da Renamo em janeiro de 2019, após a morte de Afonso Dhlakama (1953 --2018), e foi reeleito para o cargo em maio de 2024, num processo fortemente contestado internamente.
"Nós vamos abrir mão para que as delegações sejam abertas, mas com um propósito único que é salvaguardar a preparação do Conselho Nacional da Renamo", disse ainda Edgar da Silva.
Em causa está a crise que se vive na Renamo, conduzida atualmente por antigos guerrilheiros que exigem a demissão de Ossufo Momade por alegada "má gestão", falta de pagamento de pensões e subsídios e falta do fundo de funcionamento da formação política.
Este grupo de antigos guerrilheiros afirma que a direção do partido irá receber o ofício de abertura das delegações ainda hoje, apesar do "braço-de-ferro" entre as partes.
Edgar Silva garante que a ideia de que Ossufo Momade deve deixar a liderança "prevalece": "Porque ele é inoperante e ele tem que deixar que alguém tome conta do partido e não é ele a pessoa indicada".
A Renamo perdeu o estatuto da segunda força política mais votada nas eleições gerais de 09 de outubro, passando de 60 deputados, que obteve nas legislativas de 2019, para 28 parlamentares.
Momade foi candidato presidencial nas eleições gerais de 09 de outubro de 2024, obtendo 6% dos votos, o pior resultado de um candidato apoiado pelo partido, que foi a principal força de oposição em Moçambique desde as primeiras eleições em 1994.
Durante 16 anos, Moçambique viveu uma guerra civil, que opôs o exército governamental e a Renamo, tendo terminado com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre o então Presidente, Joaquim Chissano, e Afonso Dhlakama, líder histórico da Renamo, abrindo-se, assim, espaço para as primeiras eleições, dois anos depois.
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