Os Estados Unidos consideram que a ajuda humanitária à Faixa de Gaza entregue por uma organização que apoiam com Israel foi "um sucesso" que poderá ser melhorado, apesar de 27 mortes hoje num centro de distribuição no território.

"Conseguiram distribuir refeições. E, ao mesmo tempo, iremos, claro, rever a situação e como talvez possamos melhorar ainda mais as coisas", comentou a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, no dia em que a Cruz Vermelha confirmou as 27 mortes num tiroteio junto de um centro no sul do enclave palestiniano.

A Casa Branca anunciou que está a investigar os relatos de disparos de militares israelitas contra civis durante distribuições da organização em causa, a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), apoiada por Israel e pelos Estados Unidos.

"O Governo está consciente destes relatos e estamos a investigar a sua veracidade porque, infelizmente, ao contrário de alguns meios de comunicação social, não levamos o Hamas a sério", afirmou a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, em conferência de imprensa, referindo-se ao grupo islamita palestiniano que governa a Faixa de Gaza.

Nesse sentido, Leavitt indicou que a administração norte-americana irá investigar o assunto antes de tirar conclusões, sugerindo aos jornalistas "que realmente se preocupam com a verdade que façam o mesmo", apesar da confirmação da Cruz Vermelha das informações inicialmente avançadas pelas organizações de socorro locais.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou pelo seu lado o tiroteio junto do centro de distribuição de ajuda humanitária, uma situação que o seu porta-voz descreveu como inconcebível.

"É inaceitável que os civis arrisquem e, por vezes, percam a vida simplesmente à procura de comida", disse Stéphane Dujarric aos jornalistas, reiterando o apelo para uma investigação independente e já exigida após incidentes semelhantes esta semana.

O Exército israelita anunciou que abriu uma investigação, mas afastou responsabilidades.

Na manhã de hoje, os soldados israelitas "dispararam tiros de aviso (...) contra suspeitos que se aproximavam de uma forma que colocava a sua segurança em risco", referiu Effie Defrin, porta-voz do Exército.

"O incidente está sob investigação e vamos esclarecer completamente" o sucedido, acrescentou, indicando que o Exército "não estava a bloquear o acesso dos residentes de Gaza" aos pontos de distribuição de ajuda humanitária.

"Pelo contrário, estamos a permitir. É o Hamas que está a impedir esse acesso", contrapôs.

Os incidentes com tiros tornaram-se quase diários após a GHF ter estabelecido pontos de distribuição de ajuda humanitária dentro de zonas militares israelitas, um sistema que, segundo a organização, visa evitar o Hamas.

As Nações Unidas rejeitaram o novo sistema, alegando que não responde à crescente crise de fome no território e permite a Israel utilizar a ajuda humanitária como arma.

O conflito na Faixa de Gaza foi desencadeado pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde fez cerca de 1.200 mortos, na maioria civis, e mais de duas centenas de reféns.

Em retaliação, Israel lançou uma operação militar na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 54 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.