
A grande disputa será entre PS e PSD, com ambos a quererem conquistar o maior número de câmaras e, com isso, a presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses, mas as eleições autárquicas de 12 de outubro representam desafios para todos os partidos. E são as primeiras eleições de dois líderes partidários: José Luís Carneiro, do PS, e Mariana Leitão, da Iniciativa Liberal.
O prazo para entrega das listas nos respetivos tribunais de comarca termina esta segunda-feira às 18h. E embora a maioria já esteja entregue, há questões de última hora a fechar em alguns partidos. Carlos Moedas, por exemplo, só entrega esta segunda-feira a sua lista, que teve de ser sujeita aos órgãos partidários de Lisboa, apesar de os respetivos líderes terem sido afastados do processo.
André Ventura, o líder do Chega, que já disse que o seu partido tem nestas eleições uma "prova de fogo", entrega, de forma simbólica a lista ao concelho do Cadaval, um bastião do PSD. "Esta ação visa apontar o facto histórico de o Chega se apresentar a eleições em todos os municípios do país", anunciou o partido que chegou ao segundo lugar no Parlamento e agora quer afirmar-se como força autárquica.
Seguem os objetivos, estratégias e números dos partidos com assento parlamentar, a que se juntam, nas eleições de outubro, ainda outros partidos, como a Nova Democracia e o ADN, que também apostam em candidaturas sobretudo em Lisboa e Porto, e os movimentos independentes.
PS tenta manter liderança
Com o objetivo de continuar como principal partido autárquico, o PS parte para as eleições com 47 presidentes a atingir o limite de mandato e poucas capitais de distrito, apresentando-se maioritariamente sozinho, mas liderando 13 coligações e apoiando nove movimentos.
“O nosso objetivo é que as pessoas continuem a olhar para o PS como o principal partido autárquico português, que tem os melhores projetos para ir ao encontro daquilo que são as necessidades dos territórios e das populações e tem os melhores protagonistas para desenvolver essa estratégia”, apontou, em declarações à agência Lusa, o coordenador autárquico, André Rijo.
O PS, cujo líder anunciou uma convençãoautárquica para setembro, quer continuar a liderar a ANMP e a ANAFRE, mas enfrenta o desafio de ter 47 presidentes de câmara perante a limitação de mandato, entre os quais os autarcas de Sintra, Gaia, Valongo, Torres Novas ou Guimarães. Segundo o coordenador autárquico, falta resolver a situação em dois concelhos, nos quais o PS está a fazer todos os esforços para apresentar candidatura própria, mas no restante país o mapa está já fechado.
Atualmente, apesar de ser o principal partido autárquico, o PS tem apenas a presidência de quatro concelhos que são capitais de distrito (Leiria, Viana do Castelo, Vila Real e Beja), estando fora da liderança de Lisboa e Porto, por exemplo. Assim, o PS assume uma “outra camada de objetivos” que é ganhar algumas capitais de distrito, sublinhando André Rijo as “apostas fortes” feitas pelo partido com “pessoas que saíram de ministérios e que já deram provas da sua capacidade política”.
Alexandra Leitão a Lisboa, Manuel Pizarro ao Porto, Ana Mendes Godinho a Sintra, Ana Abrunhosa a Coimbra ou Carlos Zorrinho a Évora, são algumas das apostas socialistas com este perfil.
As 13 coligações que o PS lidera são em Lisboa, Braga, Sintra, Coimbra, Oeiras, Felgueiras, Póvoa de Varzim, Trofa, Albufeira, Ponta Delgada, Celorico de Basto, Seixal e Fronteira. Em termos de apoio aos movimentos de cidadãos, os socialistas optaram por fazê-lo em nove concelhos: Aguiar da Beira, Pinhel, Batalha, Caldas da Rainha, Santiago do Cacém, Boticas, Armamar, Ribeira Brava e São Vicente.
PSD coligado em quase metade das câmaras
O PSD vai concorrer às eleições com mais de 150 coligações, sobretudo com o CDS-PP, mas também com a IL, e aposta forte nas áreas metropolitanas com o objetivo de recuperar a liderança autárquica, perdida em 2013.
O objetivo para 12 de outubro está traçado na moção de estratégia de Luís Montenegro – recuperar a liderança da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e da Associação Nacional de Freguesias (Anafre) -, o que implica alterar a relação de forças com o PS, que preside atualmente a mais 35 câmaras do que os sociais-democratas.
Há quatro anos, o PSD conquistou 114 autarquias (72 sozinho e 42 em coligação), recuperando Lisboa, Coimbra, Portalegre ou Funchal, e encurtando a diferença para os socialistas de 63 para 35 câmaras.
Nas próximas autárquicas, o PSD só não concorre a três dos 308 municípios do país (todos no Alentejo) e, em mais de metade, irá coligado com outros partidos, sendo a novidade os acordos com a IL, mantendo-se sem qualquer coligação pré-eleitoral com o Chega. Segundo dados fornecidos à Lusa pelo coordenador autárquico do PSD, Pedro Alves, o PSD irá sozinho a votos em 149 autarquias e estabeleceu 156 coligações: destas, 114 são apenas com o CDS (os democratas-cristãos lideram em 4), seis apenas com a IL, 17 entre os três partidos e 19 que incluem outros partidos (como o MPT ou o PPM).
Entre as coligações com os liberais, os casos mais emblemáticos são os de Lisboa, onde a IL apoia agora a recandidatura de Carlos Moedas, ao contrário de há quatro anos - numa negociação difícil com o CDS-PP na distribuição de lugares -, e a do ex-ministro Pedro Duarte (na foto) ao Porto, que tenta recuperar a segunda maior autarquia de capital, após os três mandatos do independente Rui Moreira.
Em oito municípios, o PSD apoiará candidatos independentes, entre os quais o antigo ministro do PSD Isaltino Morais, em Oeiras, ou a ex-autarca da CDU Maria das Dores Meira, em Setúbal (contra a vontade das estruturas locais), e outros como Marinha Grande ou Idanha-a-Nova. Na Figueira da Foz, o antigo presidente do PSD e agora independente Pedro Santana Lopes encabeçará uma lista PSD/CDS-PP.
Além de Setúbal, também as escolhas para Aveiro(Luís Souto Miranda) ou Guarda (João Prata) causaram algumas divisões internas e a de Espinho (Jorge Ratola) foi mesmo alvo de uma impugnação pelo candidato que tinha sido indicado pela concelhia, Ricardo Sousa, para o Conselho de Jurisdição Nacional do PSD, num processo que ainda não está fechado.
Sete candidatos a presidentes de Câmara são deputados do PSD, tendo de renunciar ao mandato em caso de vitória: Cristóvão Norte (Faro), Emídio Guerreiro (Gondomar), Hugo Oliveira (Caldas da Rainha), Gonçalo Valente (Ourique), Ricardo Araújo (Guimarães), Sofia Carreira (Leiria) e Sonia dos Reis (Grândola).
Chega em "prova de fogo"
O Chega parte para as autárquicas com a ambição de apresentar listas nos 308 concelhos do país e com 44 deputados como candidatos a presidentes de câmara, no que diz ser um esforço para ser líder a nível local.
O presidente do Chega, André Ventura, apelidou estas eleições de uma “prova de fogo” e estabeleceu como objetivo “ganhar câmaras no país todo”, acreditando que o partido vai “ganhar as autárquicas”, depois do quarto lugar a nível nacional conseguido nas autárquicas de setembro de 2021, as primeiras deste partido.
O Chega concorreu a 220 municípios nas últimas eleições autárquicas, sempre em listas próprias, e elegeu 19 vereadores. Dos 19 vereadores, vários romperam com o partido e passaram a independentes, como Nuno Afonso, que tinha fundado o Chega ao lado de Ventura e era o militante número dois. Na sequência destas saídas, o partido admitiu que tinham existido “erros de ‘casting’ graves”.
A expectativa é de que as autárquicas acompanhem a evolução dos resultados do partido nos atos eleitorais que sucederam as últimas eleições locais, que permitiram ao Chega tornar-se a segunda maior força política na Assembleia da República e ter representação no Parlamento Europeu e nas assembleias legislativas regionais.
Para isso, o partido quer apresentar candidaturas em todos os concelhos do país, como anunciou o líder André Ventura e confirmou à Lusa a coordenação autárquica do Chega.
Depois de André Ventura ter apelado à disponibilidade dos parlamentares para o desafio eleitoral de 12 de outubro, a presença do Chega nestas eleições fica marcada pela presença todos os deputados (à exceção do líder) como cabeças de lista aos executivos e assembleias municipais, confirmou a direção autárquica do partido à Lusa.
Entre as candidaturas de deputados já conhecidas, destacam-se a do líder parlamentar, Pedro Pinto, que lidera a lista do partido à Câmara Municipal de Faro, com o ‘slogan’ “Tornar Faro grande outra vez” - inspirado no Presidente norte-americano Donald Trump - e de Rita Matias, líder da juventude do Chega, que se candidata à Câmara de Sintra, onde Basílio Horta (PS) está de saída por limitação de mandatos.
Também entre os parlamentares, avançam o vice-presidente da Assembleia da República, Diogo Pacheco de Amorim, em Melgaço, Rui Paulo Sousa, candidato na Amadora, Bruno Nunes, em Loures, e o ex-PSD Rui Cristina, em Albufeira. O coordenador autárquico, Carlos Magno, concorre em Almada.
Em Lisboa, o Chega aposta em Bruno Mascarenhas, que já era deputado municipal. Em 2021, o partido candidatou à presidência da Câmara da capital o antigo apresentador de televisão Nuno Graciano e não conseguiu eleger nenhum vereador.
No Porto, onde o partido também não elegeu qualquer vereador em 2021, o candidato é Miguel Côrte-Real, que liderou o grupo municipal do PSD na Assembleia Municipal do Porto entre 2021 e 2024.
Em 2021, a nível nacional, o partido liderado por André Ventura conseguiu 4,16% dos votos (208.232 boletins), segundo dados da secretaria-geral do Ministério da Administração Interna. Passou a marcar presença em sete distritos do país, mas falhou o objetivo de se tornar na terceira força política nacional, ficando atrás da CDU.
Liberais duplicam candidaturas
A Iniciativa Liberal tenciona candidatar-se a cerca de 100 municípios nas próximas eleições autárquicas, o dobro de há quatro anos, e irá integrar coligações em cerca de 25% dos casos, com o objetivo de crescer e integrar executivos camarários.
Nas eleições autárquicas de 2021, as primeiras disputadas pelo partido, a IL tinha apresentado candidaturas em 53 municípios – 46 em listas próprias e sete em coligações –,tendo conseguido eleger um único vereador.
Até ao momento, a IL já ‘fechou’ 88 candidaturas para os executivos municipais: 59 em listas próprias e 29 em coligação, apresentando-se ao lado de PSD e CDS nos quatro maiores municípios do país: Lisboa, Sintra, Porto e Vila Nova de Gaia. O partido adianta ainda que as candidaturas autárquicas liberais cobrem 72% da população nacional, uma subida em relação aos 52% de 2021.
Esta foi uma mudança de estratégia do partido quando comparado com há quatro anos, em que a IL tinha apresentado candidatos próprios em todos esses municípios, com exceção do Porto, onde apoiou o movimento independente liderado por Rui Moreira.
À Lusa, Miguel Rangel, coordenador autárquico do partido, disse que esta aposta reforçada em coligações se deve à alteração das circunstâncias políticas e foi decidida “caso a caso” pelos núcleos territoriais da IL, frisando que não houve “nenhum desígnio nacional de fazer uma aposta” em acordos com outros partidos.
Em listas próprias, destaque para a candidatura do ex-líder Rui Rocha à Câmara Municipal de Braga – o único deputado do partido que irá concorrer nas autárquicas –, numa altura em que o atual autarca da cidade, o social-democrata Ricardo Rio, não se pode recandidatar por atingir o limite de três mandatos.
À Lusa, Miguel Rangel referiu que o objetivo da IL nestas eleições é conseguir ter “um crescimento significativo do número de autarcas, principalmente nas vereações”, incluindo através de candidaturas próprias, e garantir que o partido integra executivos camarários.
Os liberais consideram, contudo, “muito difícil” vir a conquistar uma presidência de Câmara, como indicou à agência Lusa a nova líder da IL, Mariana Leitão, antes de ser eleita na Convenção Nacional do partido, em 19 de julho.
Na sua moção estratégica, Mariana Leitão defendia que, “mais do que aumentar o número de eleitos”, a IL devia “criar laboratórios de governação liberal”, que se tornem um exemplo nacional do que o partido defende. “Que sejam um exemplo de como se pode fazer diferente e melhor. Autarquias que atraiam talento, empresas e projetos”, lia-se nessa moção.
À Lusa, Miguel Rangel diz estar convicto que 2025 “será um passo muito importante para o crescimento autárquico” da IL, o que, considerou “vai ter uma influência positiva nas governações locais, no exercício do poder local, mas também nos objetivos e na implementação da IL”.
O coordenador autárquico destacou ainda o facto de o partido se candidatar ao dobro das autarquias, o que, segundo disse, se deve ao trabalho dos núcleos e dos cerca de 90 autarcas eleitos, e mostra que o partido alargou a sua implementação local.
CDU à procura das câmaras perdidas
A CDU quer candidatar-se nas eleições autárquicas aos 308 municípios do país e pretende “consolidar e reforçar” o número de câmaras que detém atualmente, numa altura em que 11 dos seus 19 presidentes atingem o limite de mandatos. Nas últimas eleições autárquicas, em 2021, a CDU candidatou-se a 305 municípios – só faltaram três na região autónoma dos Açores – e conquistou 19 câmaras municipais, o número mais baixo de sempre para uma coligação que, no seu auge, em 1982, governou 55 autarquias.
Quando comparado com 2017, a CDU perdeu cinco câmaras, entre as quais Loures e bastiões no sul do país que governava desde 1976, como Mora, Montemor-o-Novo e Moita.
Quatro anos depois, a CDU tenciona candidatar-se aos 308 municípios do país, sempre no quadro da coligação integrada por PCP e PEV, e quer “confirmar, consolidar e reforçar” o número de câmaras que detém atualmente, segundo indicou à Lusa Jorge Cordeiro, membro da Comissão Política e do Secretariado do Comité Central do PCP. “Nós não temos nenhuma quantificação definida. Aquilo que pretendemos é não apenas consolidar as posições que temos, como ampliá-las a outros municípios”, referiu, manifestando-se convicto de que as populações saberão “reconhecer a diferença e a vantagem de ter uma gestão autárquica da CDU”.
À Lusa, fonte oficial da coligação detalhou que a maioria das candidaturas foram entregues nos tribunais até à passada quinta-feira, estando previsto que as restantes sejam entregues esta segunda-feira.
Entre os objetivos da CDU está recuperar câmaras perdidas em 2021, como Loures ou Moita, ambas conquistadas pelo PS, mas por margens de diferença muito curtas, na ordem dos dois mil votos, e mantendo o mesmo número de vereadores do que os socialistas.
No entanto, a CDU parte para estas autárquicas com desafios particulares em pelo menos 12 dos 19 municípios que detém atualmente, desde logo em Setúbal, que a CDU governa desde 2001, e onde, este ano, enfrentará a concorrência de uma das suas ex-autarcas, Maria das Dores Meira, que presidiu à Câmara Municipal de Setúbal entre 2009 e 2021, sempre como candidata pela CDU, que se apresentou como independente e conta com oapoio do PSD, o que dividiuos sociais-democratas.
Além deste caso específico, a CDU terá ainda de lidar com o facto de, em 11 das 19 câmaras governadas pela CDU, os presidentes não poderem recandidatar-se por atingirem o limite de três mandatos consecutivos.
É o caso de Carlos Pinto Sá, que governa a Câmara Municipal de Évora desde 2013 – e que será substituído como cabeça de lista da CDU pelo eurodeputado do PCP João Oliveira (acima na foto) –, mas também dos autarcas de Palmela, Benavente, Grândola ou Silves.
Outro dos potenciais desafios da CDU prende-se com o crescimento eleitoral do Chega, que, nas últimas eleições legislativas, se tornou a primeira ou a segunda força política em localidades atualmente governadas pela CDU, como Palmela, Serpa ou Silves. À Lusa, Jorge Cordeiro frisou que “não há nada do ponto de vista do percurso autárquico do Chega que legitime a ideia de que eles podem constituir uma alternativa”, desvalorizando a eventual ameaça que poderão representar para a CDU.
Livre com 50 candidaturas
O Livre tem cinquenta candidaturas às eleições autárquicas de outubro, metade resultantes de coligações à esquerda, tendo como objetivos aumentar a sua implantação local e travar a extrema-direita. Nas eleições autárquicas de 2021, o Livre atravessava um período conturbado: depois de em 2019 ter elegido pela primeira vez uma deputada para a Assembleia da República, o partido ficou sem representação parlamentar quando Joacine Katar Moreira perdeu a confiança política e passou à condição de não inscrita.
Nessa altura, Rui Tavares avançou para as eleições autárquicas e chegou a vereador na Câmara Municipal de Lisboa. Isabel Mendes Lopes, hoje porta-voz e líder parlamentar, assumiu o mandato na Assembleia Municipal da capital. No total, o Livre conquistou oito eleitos locais, que mantém até hoje: um vereador em Lisboa, um deputado municipal em Lisboa, Oeiras, Felgueiras e Vila Real de Santo António e três membros nas assembleias de freguesia de Penha de França, Lumiar e Carnaxide e Queijas.
Este ano, segundo fonte oficial do partido adiantou à Lusa, de um total de cinquenta candidaturas, o Livre conta com 25 coligações à esquerda, sendo as suas grandes apostas Lisboa (encabeçada pela socialista Alexandra Leitão, que junta PS, Livre, BE e PAN), Sintra (com a socialista Ana Mendes Godinho a ser apoiada pelo PS e Livre) e Porto, onde o partido candidata o dirigente Hélder Sousa.
No total, o Livre vai coligado com PS, BE e PAN em Lisboa, Albufeira e Ponta Delgada; apenas com o PS em Felgueiras e Sintra; com o PAN e o PS na Póvoa de Varzim e na Trofa; com os independentes (Cidadãos por Coimbra), PS e PAN em Coimbra; com o movimento independente “Evoluir Oeiras”, BE e o Volt a Oeiras; com o BE e o PAN em Cascais, Figueira da Foz, Leiria, Loures, Odivelas, Portimão e Silves; e apenas com o BE em Almada, Barreiro, Castelo Branco, Loulé, Odemira, Santarém, Seixal e Vila Nova de Gaia.
Apresenta ainda listas próprias à Amadora, Aveiro, Barcelos, Braga, Caldas da Rainha, Entroncamento, Faro, Funchal, Gondomar, Lagos, Matosinhos, Montijo, Oliveira de Azeméis, Paços de Ferreira, Penafiel, Peniche, Porto, Rio Maior, Santa Maria da Feira, Sesimbra, Setúbal, Tomar, Viana do Castelo, Vila Franca de Xira e Vila Real.
No que toca a objetivos eleitorais, o Livre quer “crescer em eleitos” e ajudar “a travar a ascensão da extrema-direita no poder local”.
Bloco aumenta coligações e tenta "reforçar" posição
O Bloco de Esquerda estabeleceu já cerca de duas dezenas de coligações à esquerda no âmbito das eleições autárquicas de outubro, um aumento significativo face a 2021, numa altura em que o partido almeja recuperar do desaire nas legislativas.
Em outubro do ano passado, no Porto, a 5.ª Conferência Nacional do BE aprovou um documento com a estratégia para as autárquicas, estabelecendo que o partido iria procurar "sempre que possível, criar alianças sociais em projetos locais de transformação política à esquerda, alternativos à governação autárquica do PS e do PSD". No caso de Lisboa, os bloquistas chegaram a apresentar candidata própria, mas mantiveram abertura para uma coligação à esquerda que incluísse o PS, com o objetivo de derrotar Carlos Moedas (PSD). Essa coligação, encabeçada pela socialista Alexandra Leitão, foi anunciada no passado dia 17 de julho e junta PS, Livre, BE e PAN sob o lema “Viver Lisboa”.
É uma das mais importantes coligações que os bloquistas integram nestas eleições autárquicas, mas não é a única: de acordo com Isabel Pires, dirigente da direção responsável pelo acompanhamento destas eleições, o BE ainda “está a construir listas autárquicas em todos os distritos e regiões do país, mantendo a presença nos territórios onde tradicionalmente tem concorrido” e onde já se incluem cerca de duas dezenas de coligações.
O número, ainda provisório, já supera em muito as coligações integradas pelo BE nas últimas eleições autárquicas, em 2021, que foram apenas duas (Oeiras e Funchal).
Estas coligações incluem alianças dos bloquistas com PS, Livre e PAN em Albufeira e Ponta Delgada, além da capital do país; com Livre e PAN em Cascais, Figueira da Foz, Leiria, Loures, Odivelas, Olhão, Portimão e Silves; só com Livre no Barreiro, Castelo Branco, Loulé, Odemira e Santarém; ou em Oeiras, com Livre, Volt e o movimento independente “Evoluir Oeiras”.
Noutras câmaras, o BE apostou em nomes fortes do partido: o antigo deputado José Manuel Pureza lidera a lista para a autarquia de Coimbra e o ex-líder parlamentar Pedro Filipe Soares é candidato em Matosinhos. No Porto, o BE vai a jogo com o independente Sérgio Aires.
De acordo com dados disponibilizados pelo partido, o Bloco tem atualmente cinco vereadores eleitos, em Lisboa, Almada, Porto e Salvaterra de Magos, - incluindo o mandato resultante da coligação Evoluir Oeiras, - 94 deputados municipais e 162 membros eleitos em assembleias de freguesia.
Nas eleições de 2021, o BE ficou em quinto lugar a nível nacional, com 2,75% dos votos que, no entanto, não se traduziram na conquista de qualquer câmara e significaram também uma perda significativa do número de vereadores bloquistas, que até então eram 12.
Interrogada sobre objetivos eleitorais, Isabel Pires respondeu que o BE “tem como meta reforçar a sua representação nos órgãos autárquicos, assegurando que as suas propostas – em particular nas áreas da habitação, ambiente e mobilidade – sejam integradas nas agendas locais”.
CDS quer ser "muito relevante"
O CDS-PP avança para as autárquicas coligado com o PSD na maioria das suas candidaturas, mas também tenta fazer "prova de vida" e concorre em listas próprias a dezenas de municípios com o objetivo já definido de manter ou aumentar a presença autárquica. Nestas que serão as suas primeiras eleições autárquicas como líder do CDS-PP, Nuno Melo traçou como objetivo continuar “a ser muito relevante no plano autárquico”, o que “significa desejavelmente e preferencialmente manter ou crescer” a presença local dos centristas - que atualmente lideram seis municípios e fazem parte das coligações que governam Lisboa e Porto.
Nas autárquicas de 2021, ainda com Francisco Rodrigues dos Santos como presidente do partido, o CDS-PP manteve as seis autarquias que dirigia - Velas (Açores), Santana (Madeira), Ponte de Lima (Viana do Castelo), Vale de Cambra, Oliveira do Bairro e Albergaria-a-Velha (Aveiro).
Destes seis, os presidentes da Câmara de Velas, Vale de Cambra e Albergaria-a-Velha já não se podem recandidatar por limitação de mandatos e o presidente do CDS-PP indicou que o partido apresentará “candidatos com enorme experiência política, muito reconhecidos pelas populações, muito considerados para além do CDS”.
Em Vale de Cambra, os centristas candidatam o atual vereador do Desporto da autarquia, André Martins Silva, e em Albergaria-a-Velha já anunciaram que o candidato será Carlos Coelho, atual presidente da Junta de Freguesia da Branca, mas vão enfrentar uma coligação entre PSD e IL.
No Conselho Nacional do CDS-PP do passado 21 de julho, Nuno Melo destacou também as candidaturas em listas próprias dos centristas em Viseu, onde o antigo deputado Hélder Amaral (acima na foto) avança contra o autarca social-democrata Fernando Ruas, e em Vila Franca de Xira, com uma candidatura encabeçada pelo líder parlamentar, Paulo Núncio - o único dos dois deputado do CDS-PP a concorrer a estas autárquicas.
A presença centrista nestas autárquicas fica marcada também pela difícil negociação da coligação de apoio à candidatura do atual presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, que resultou da intenção de incluir a IL no acordo.
Nos oito primeiros lugares - o atual executivo encabeçado por Moedas tem apenas sete - da aliança firmada para as eleições de outubro entre PSD, CDS-PP e IL os sociais-democratas indicam, além do candidato a presidente, os números 2,3 e sexto da lista, cabendo ao CDS-PP indicar o quinto e sétimo lugares e a IL o quarto e oitavo.
No acordo, prevê-se que seja o PSD a indicar o presidente à Assembleia Municipal e a IL o segundo nome, cabendo ao CDS-PP o quarto eleito. Há quatro anos, o CDS-PP conseguiu a vice-presidência da Câmara de Lisboa, exercida por Filipe Anacoreta Correia (que, entretanto, anunciou a desfiliação dos centristas).
PAN tem coligações com (quase) todos
O PAN vai apresentar-se coligadoem grande parte das suas candidaturas autárquicas, aliando-se com partidos de pontos opostos do espetro político, desde o CDS-PP ao BE, opção que já foi alvo de críticas internas. Segundo a direção da campanha, o partido tem, nesta altura, mais de duas dezenas de candidaturas confirmadas, com maior aposta em coligações em relação às candidaturas próprias.
Apesar da diversidade política das alianças, o PAN, na grande maioria, mostra preferência por acordos à esquerda, coligando-se, em Lisboa, ao PS, Livre e Bloco de Esquerda, numa candidatura liderada pela socialista Alexandra Leitão com o objetivo de derrotar o social-democrata Carlos Moedas à frente da maior autarquia do país.
O PAN coliga-se com socialistas e outros parceiros à esquerda também em Ponta Delgada, Póvoa de Varzim, Coimbra e Trofa. Também à esquerda, mas sem o PS, o PAN concorre coligado em Loures - numa aliança com Livre e BE contra o atual presidente socialista, Ricardo Leão -, Cascais, Odivelas, Leiria, Silves, Leiria, Santiago do Cacém, Albufeira, Figueira da Foz e Vila do Conde. O PAN vai também aliar-se ao PS em Vila Nova de Gaia, onde apoia a candidatura do socialista João Paulo Correia, e também em Oeiras, Braga e Seixal.
No Porto, o PAN - que avançou sozinho em 2021, com a eleição de um deputado municipal - apoia a candidatura do atual vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo, que concorre como independente no movimento "Fazer à Porto", tendo atribuídos o quarto e décimo lugares da lista à Assembleia Municipal.
À direita, o PAN integra coligações com o PSD e a IL em Sintra, numa candidatura liderada por Marco Almeida, e Faro, onde além de sociais-democratas e liberais, a coligação integra o MPT e o CDS-PP, com quem o partido tem profunda divergências em relação a temas como as touradas - uma das principais bandeiras identitárias tanto do PAN como dos centristas, em sentidos opostos (PAN contra, CDS a favor).
O PAN vai avançar com listas próprias principalmente a norte do país, tendo, para já, aprovado listas em Famalicão, Gondomar, Valongo e Maia, mas tem a expectativa de que venham a ser quase uma dezena entre os distritos do Porto e Aveiro. O partido marcará também presença com candidatos próprios na Região Autónoma da Madeira (Mónica Freitas no Funchal e Valter Ramos em Santa Cruz).
Nas eleições de 2021, as candidaturas próprias do PAN conseguiram 1,14%, insuficientes para eleger qualquer vereador. O partido conseguiu, no entanto, eleger 23 representantes em assembleias municipais e 16 eleitos em assembleias de freguesias. Para as eleições deste ano, o PAN assume como objetivo "reforçar a representação do partido nos diferentes órgãos locais", sem estabelecer metas concretas.
JPP aposta "tudo" no Funchal
O partido Juntos Pelo Povo (JPP), que começou como um movimento de cidadãos na Madeira e hoje tem representação na Assembleia da República, candidata-se às autárquicas em 11 municípios: oito na Madeira e três do distrito do Porto.
Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral do partido, Élvio Sousa, salientou que haverá uma equipa renovada no município Santa Cruz, o único que é atualmente governado pelo JPP, assumindo que o objetivo é manter a liderança da autarquia e “apostar tudo no Funchal, não desfazendo as restantes autarquias”.
O JPP apresenta listas individuais aos concelhos madeirenses do Funchal, Calheta, Câmara de Lobos, Machico, Ponta do Sol, Porto Moniz, Ribeira Brava e Santa Cruz. O partido vai também candidatar-se, sozinho, aos municípios de Paredes, Maia e Gondomar, no distrito do Porto, mas é na Madeira, e mais especificamente no município de Santa Cruz, que o JPP tem maior expressão.
No arquipélago Madeira, o JPP só não se candidata em três dos 11 concelhos: Santana, São Vicente e Porto Santo, mas, neste último, apoia a candidatura do movimento de cidadãos UNE - Uma Nova Esperança, uma vez que inclui militantes do Juntos Pelo Povo.
Filipe Sousa (na foto), um dos fundadores do partido e atual deputado à Assembleia da República (AR), deixou este ano a Câmara de Santa Cruz, que governava desde 2013, depois de ter sido eleito à AR e a poucos meses de terminar o seu terceiro e último mandato na autarquia. A Câmara de Santa Cruz é atualmente presidida por Élia Ascensão, que será a cabeça de lista nas autárquicas de 12 de outubro.
No Funchal, o principal município da região autónoma, com 105.782 habitantes (Censos 2021), o partido apresenta como cabeça de lista Fátima Aveiro, que era presidente do Banco Alimentar Contra a Fome na Madeira, cargo que deixou para se dedicar à candidatura. “A prioridade é a expansão do movimento na região e pormenorizadamente no continente, sem pressas”, sublinhou Élvio Sousa.