O Egito indicou hoje que está a trabalhar num cessar-fogo de 60 dias na Faixa de Gaza com os outros dois mediadores, Estados Unidos e Catar, após Israel ter lançado uma nova fase da ofensiva no território palestiniano.

"Estamos a trabalhar ativamente em total cooperação com os qataris e os americanos", revelou o ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, Badr Abdelatty, em conferência de imprensa no Cairo.

O chefe da diplomacia egípcia referiu que o principal objetivo “é regressar à proposta inicial”, que implica um cessar-fogo de 60 dias, com a libertação de alguns reféns em posse do grupo islamita palestiniano Hamas, em troca de detidos nas prisões israelitas, bem como “a entrega incondicional e irrestrita de ajuda humanitária e médica a Gaza”.

Duas fontes palestinianas informaram hoje à agência France-Presse (AFP) que uma delegação do Hamas deverá viajar para o Cairo para se reunir com mediadores egípcios.

"Uma delegação de alto nível do Hamas, chefiada pelo líder Khalil al-Hayya, chegará ao Cairo hoje ou amanhã [quarta-feira] de manhã, a convite do Egito, e vai reunir-se com as autoridades egípcias", disse uma das fontes à AFP.

A delegação deverá discutir "os esforços do Egito e [dos outros] mediadores" para um cessar-fogo e a libertação de reféns israelitas em troca de prisioneiros palestinianos, afirmou.

"Até à data, não podemos dizer que haja algo de novo para estar otimista, especialmente porque a ocupação [de Israel] está a impedir qualquer acordo", comentou uma segunda fonte à AFP.

Um responsável do Hamas, que pediu para não ser identificado, disse à agência noticiosa francesa que o Hamas "ainda não recebeu uma nova proposta de cessar-fogo".

No entanto, sublinhou que o grupo estava "pronto para chegar a um acordo se a ocupação decidir pôr fim ao genocídio, suspender o bloqueio e permitir um fluxo normal de ajuda" para a Faixa de Gaza.

Estes movimentos diplomáticos surgem após o Gabinete de Segurança israelita ter aprovado na sexta-feira um plano para assumir o controlo da Cidade de Gaza e dos campos de refugiados vizinhos, com o objetivo declarado de derrotar o Hamas e libertar todos os reféns, gerando amplas críticas internacionais e também em Israel.

Sucedem também numa altura em que as autoridades locais da Faixa de Gaza, controladas pelo Hamas, relatam mais de 200 mortes, das quais cerca de metade eram crianças, por fome e subnutrição, devido ao bloqueio que Israel impôs ao território.

A Faixa de Gaza, totalmente dependente de ajuda humanitária, está ameaçada por uma "fome generalizada", segundo a ONU, que pediu a entrada de apoio urgente face a uma “catástrofe inimaginável”, apesar de Israel negar este alerta, acompanhado por outras organizações internacionais e advertências de vários países.

O conflito no enclave foi desencadeado pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde perto de 1.200 pessoas morreram e cerca de 250 foram feitas reféns.

Em retaliação, Israel lançou uma vasta operação militar no território, que já provocou mais de 61 mil mortos, segundo as autoridades locais, a destruição de quase todas as infraestruturas do enclave e a deslocação de centenas de milhares de pessoas.