A 51.ª cimeira do G7, realizada em Kananaskis, no Canadá, terminou esta terça-feira sem um comunicado final conjunto, revelando divisões entre os Estados Unidos e os restantes membros do grupo sobre os principais conflitos globais, da Ucrânia ao Médio Oriente. O Presidente francês, Emmanuel Macron, e o homólogo norte-americano, Donald Trump, protagonizaram mais um episódio de tensão diplomática, aprofundando divergências que marcaram toda a reunião.

Durante dois dias de conversações sobre a economia mundial e a segurança internacional, os líderes do G7 abordaram os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente, mas a ausência de um consenso ficou patente na substituição do tradicional comunicado final por uma declaração do presidente do G7, redigida pelo primeiro-ministro canadiano, Mark Carney.

Carney garantiu que não houve desacordos com os Estados Unidos, afirmando que "os líderes expressaram o seu apoio ao Presidente Trump pelos seus esforços" e que "a Ucrânia comprometeu-se com um cessar-fogo incondicional", enquanto se apelava à Rússia que fizesse o mesmo. Ainda assim, a ausência de uma declaração conjunta sobre a Ucrânia gerou dúvidas, sobretudo após o G7 ter emitido, na véspera, um texto claro de apoio a Israel e de responsabilização do Irão pelo agravamento do conflito no Médio Oriente.

Trump abandonou a cimeira de forma inesperada antes do encontro com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que também deixou o local poucas horas após a sua chegada. A situação contrastou com a firmeza da posição francesa. Macron reiterou o apoio à Ucrânia e criticou qualquer tentativa de impor uma mudança de regime no Irão por via militar, alertando que tal estratégia conduziria ao "caos" no Médio Oriente.

“Acredito que o maior erro hoje seria procurar uma mudança de regime no Irão por meios militares, pois isso levaria ao caos”, afirmou Macron, evocando os precedentes da invasão do Iraque em 2003 e da intervenção na Líbia.

O Presidente francês também reagiu com contenção aos ataques verbais de Trump, que, a bordo do Air Force One, acusou Macron de "nunca perceber nada" e de "procurar publicidade". “Não me incomoda porque conheço”, respondeu Macron, minimizando o incidente.

As tensões entre os dois líderes não são novas, mas tornaram-se mais evidentes ao longo da cimeira. Macron tem defendido posições divergentes de Trump em relação à Ucrânia, ao reconhecimento do Estado da Palestina e ao papel da diplomacia no Médio Oriente. Em fevereiro de 2025, num encontro na Casa Branca, o tom entre ambos foi mais contido, com trocas simbólicas e gestos diplomáticos cuidadosos, mas as divergências estratégicas mantiveram-se.

Durante a reunião no Canadá, Macron anunciou ainda que França será anfitriã da próxima cimeira do G7, em 2026, no resort alpino de Evian-les-Bains.

Na declaração final do presidente do G7, foi reafirmado o "direito de auto-defesa" de Israel, o compromisso de que o Irão não deve adquirir armas nucleares e a associação de um eventual desanuviamento do conflito a um cessar-fogo na Faixa de Gaza. O documento apelou também à China para evitar “distorções do mercado” e abordou as tensões no estreito de Taiwan e no mar da China Meridional.