
Mais de 100 militantes do Bloco de Esquerda (BE) do distrito de Santarém anunciaram esta quinta-feira a desfiliação do partido coordenado por Mariana Mortágua, deixando duras críticas à direção.
Numa carta enviada às redações, intitulada “Porque saímos do Bloco”, os militantes criticam a estratégia política do BE no pós-geringonça e acusam a direção de afastar vozes críticas.
"As propostas políticas são sistemática e convenientemente buriladas, quando não metidas na gaveta, na esperança de virem a ser aceites pelo PS", criticam estes bloquistas, que também defendem que “a luta dos trabalhadores como fundamental em qualquer transformação de fundo foi substituída por agendas identitárias e parciais, importantes sem dúvida, mas de limitado alcance."
Partido “castrador e sem democracia”
Os bloquistas signatários da carta apontam também o dedo à direção liderada por Mariana Mortágua, que acusam de “nunca assumir a responsabilidade pelas sucessivas derrotas eleitorais" e de "justificar-se sempre com as dificuldades da conjuntura”.
Os militantes do BE de Santarém consideram que o partido está a virar-se "placidamente para o velho centralismo democrático, castrador e sem democracia”.
“Diversidade do BE é encarada como uma ameaça”
As críticas à coordenação de Mariana Mortágua continuam, com os militantes a acusarem a direção de desencadear "um processo de progressiva centralização das decisões, afastando vozes incómodas ou não controladas pelo aparelho".
"A diversidade do BE, outrora vista como uma riqueza, hoje é encarada como uma ameaça", refere a carta.
Funcionários "são vítimas de práticas que envergonhariam muitos patrões"
Os militantes do distrito de Santarém alegam ainda que os funcionários do partido "são vítimas de práticas que envergonhariam muitos patrões" e que o caso das recém-mães que foram despedidas em 2022 e que abalou o partido "não é único".
"Quadros com provas dadas são destratados pela intriga de corredor. Quando tal não basta, recorre-se a insinuação difamatória ou inventa-se um processo disciplinar interno", é acrescentado.
Na carta, segundo o jornal Observador, entre os assinantes “está a maioria da atual Comissão Coordenadora Distrital [de Santarém] e todo o seu secretariado", além de "ex-deputados municipais e de freguesia, ex-vereadores e um ex-deputado da Assembleia da República.”
A reação do partido
O BE reagiu entretanto à desfiliação massiva hoje anunciada. Numa nota enviada às redações, o partido esclarece que, “dos 89 pedidos de desfiliação recebidos, dois terços são oriundos da concelhia de Salvaterra de Magos”, uma saída que, segundo o BE, “integra um conjunto de desfiliações programado pela antiga corrente interna Convergência, no quadro da sua decisão de abandono do Bloco de Esquerda”.
“Este conjunto de desfiliações, como outros que se seguirão, foi programado e anunciado há muito pela corrente Convergência e mantém-se mesmo depois da decisão da Mesa Nacional de reiniciar o processo de Convenção para que, face ao novo quadro político, todas as opiniões e correntes internas se possam apresentar como alternativas”, lê-se no comunicado.
O Bloco diz ainda lamentar todas as saídas de militantes, mas reitera que “este é o tempo de juntar forças, de reforçar o debate e a cooperação, e não tempo do abandono, do sectarismo ou da fragmentação à esquerda.”
Com Lusa