
"Uma mente jovem, por aí, e com energia jovem também", disse aos jornalistas António Marto, no Santuário de Fátima, garantindo ter já feito a sua escolha, que não revelou.
Questionado sobre qual deve ser o perfil do futuro Papa, depois de salientar que Francisco, que morreu na segunda-feira, "rasgou novos caminhos para a Igreja e para a humanidade", o cardeal, bispo emérito da Diocese de Leiria-Fátima, defendeu ser necessário continuidade.
"Há coisas que já não se pode voltar atrás, não podemos fazer retrocesso", defendeu, notando que se vive num tempo com "novas condições, novos desafios, que exigem novas respostas, novos caminhos, novos métodos, novas linguagens".
Para o cardeal, "o Papa iniciou processos que agora precisam de ser continuados".
"Eu penso que a maior parte dos cardeais estará convencida de que terá de ser um candidato que dê seguimento a estes processos iniciados pelo Papa Francisco", sustentou.
Admitindo que "em todos os pontificados há sempre um grupo com nostalgia do passado (...), mas não vale a pena estar a derramar lágrimas sobre um passado que não volta mais", António Marto destacou que "ninguém escolhe o tempo, nem o mundo em que quer viver".
"É este e é deste mundo, então, que a Igreja tem de exercer a sua missão para a qual o Papa Francisco abriu novos caminhos", insistiu, acreditando que este perfil será o "mais consensual" entre os cardeais eleitores.
Reafirmando que "a Europa deixou de ser o centro do mundo e o centro também da Igreja", António Marto notou que a Igreja Católica está "florescente na África, na Ásia e na América Latina", para assinalar que há bons candidatos nestas geografias.
"A universalidade da Igreja na sua diversidade tem uma maior expressão hoje no Colégio Cardinalício", assinalou.
Sobre o conclave, antecipou que "não será muito demorado", notando que nos dois anteriores também tal não sucedeu.
"O Papa Bento XVI [1927-2022] foi eleito à quinta votação, mas depois exigiu uma sexta para confirmar, para se sentir bem confirmado. Este Papa Francisco foi eleito à quinta votação", acrescentou, reconhecendo ainda que a escolha do sucessor de Francisco pode ocorrer "em cima" da peregrinação de 12 e 13 de maio ao Santuário de Fátima, onde são esperados milhares de fiéis.
Esta peregrinação vai ser presidida pelo cardeal brasileiro Jaime Spengler, arcebispo metropolita de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano.
Jaime Spengler, de 60 anos, criado cardeal pelo Papa Francisco em dezembro de 2024, vai estar também no conclave.
"Pode acontecer [Jaime Spengler] dizer assim 'eu não posso ir' [à peregrinação]", disse o cardeal português.
António Marto é um dos quatro cardeais eleitores portugueses no conclave que vai escolher o sucessor de Francisco, juntamente com Américo Aguiar, Manuel Clemente e Tolentino de Mendonça.
O Papa Francisco morreu na segunda-feira aos 88 anos, de AVC, após 12 anos de pontificado.
Nascido em Buenos Aires (Argentina), em 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta e primeiro latino-americano a chegar à liderança da Igreja Católica.
A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer.
O Papa Francisco esteve internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo tido alta em 23 de março.
Portugal decretou três dias de luto nacional.
SR // SSS
Lusa/Fim