O trabalho de também passa pela renovação das zonas e uma que tem sido especialmente escolhida por quem não têm alternativa, é a Av. Almirante Reis, onde havia uma grande concentração de sem-abrigo, nomeadamente na parte das arcadas. Apresentou na semana passada um novo plano para a avenida. O que é que vai acontecer a essas pessoas e o que é que vai acontecer à Avenida?
Em primeiro lugar, essas pessoas e as mais de 50 tendas que levantámos à volta da igreja tiveram soluções de acolhimento. Muitas delas encontraram depois emprego noutras zonas do país, portanto, tudo isto cria uma dinâmica de solução às pessoas. Eu lembro-me, nessa noite em que tirámos as tendas, de um senhor me dizer que nunca tinha tido um teto... mas depois as perguntas do bloqueio da oposição eram: "quem é que vai pagar?" Somos nós, claro, temos de pagar, porque as pessoas têm de ter um teto e temos de resolver a situação. Eu tinha ali na Almirante Reis este problema, que está neste momento estabilizado (nós vamos lá todos os dias, retiramos, algumas voltam... há situações difíceis, mas isso vai ser acautelado).
E como vai ficar a avenida?
Eu tinha uma situação muito difícil desde o início deste mandato, porque tinha as obras do Plano de Drenagem a passar por baixo da Almirante Reis, portanto não podia dar início à obra de requalificação. É um projeto que penso que é muito bom, que foi consultado com os cidadãos da Almirante Reis, porque é um projeto que de certa forma vai mudar todo aquele espaço urbano, com mais árvores, com duas faixas de saída... Nós queremos tirar carros da cidade, mas estávamos a diminuímos as faixas da avenida para fora; não fazia sentido. Então, vamos aumentar, pôr duas faixas para sair, ou seja, quem vem de baixo, para tirar os carros da cidade, e quem vem de cima só tem uma.
Depois, tem as ciclovias e tem mais verde. Isso é um projeto que foi a consulta pública e mais, fomos falar com a população, e agora, num segundo mandato, depois de a obra do PDL se finalizar — ainda temos ali o estaleiro do túnel —, podemos arrancar com esta obra. O que é fizemos entretanto foram as medidas de mitigação, com a colocação de mais bancos, mais árvores, porque este é um entretanto que obviamente será longo; estes projetos demoram tempo.
Será para ficar pronto quando?
Se é para tocar na Almirante Reis, então é para fazer bem, a Almirante Reis tem de ser um espelho do que é a Avenida da República. A Avenida da República é um projeto que ficou muito bem para a cidade.
É um projeto de Fernando Medina.
Verdade, mas cá está, eu nestas coisas sou verdadeiro: acho que a Avenida da República é um bom projeto e a Almirante Reis tem de ter aqui uma intervenção que recria, de certa forma, esse novo sentimento de Avenida da República. E isso é com mais verde, é com a saída dos carros, é não criando esta zanga entre os carros e as pessoas, é criando outros lugares de estacionamento, tudo isso está a ser trabalhado O projeto é para começar num segundo mandato, mas durará sete ou oito anos, porque estamos a falar numa grande mudança de uma avenida.
Os candidatos falam muito sobre o que vão fazer de novo, mas os ciclos autárquicos são muito longos. Nós começámos a lançar ideias como a Almirante Reis num primeiro mandado, para começar a fazer num segundo e eventualmente acabar depois dessa fase, porque são obras muito grandes, que têm de ser feitas com todos os cuidados, com toda a parte técnica. Mas não é só a Almirante Reis, também temos estado a desenhar um grande projeto para a Avenida da Liberdade, que precisa de ser refrescada. Nós mudámos a circulação, acabámos com aquele sentido de trânsito que não fazia sentido, e agora estamos na fase de ideias para uma mudança.
"Se é para tocar na Almirante Reis, então é para fazer bem, a Almirante Reis tem de ser um espelho do que é a Avenida da República. A Avenida da República é um projeto que ficou muito bem para a cidade."
Mas como é que a Av. Liberdade vai mudar?
Queremos refazer todas as partes laterais, que estão muito acabadas, melhorar questões de mobilidade para as pessoas que passeiam ali, que têm lojas, portanto melhorar toda a Avenida da Liberdade. E é preciso ter muito cuidado na forma como a melhoramos, porque é uma avenida de Ressano Garcia, portanto temos de manter toda a traça. Mas ela precisa de ser melhorada, tem o problema de ser tão usada, de estar danificada. Nós estamos a renovar os lagos, que têm estado vazios há anos, e demorou mas conseguimos fazer o novo projeto. A ideia é dar à Avenida da Liberdade outro ânimo. Mas lá está, isto também vai demorar anos. São esses projetos que eu acho que são a continuidade de que precisamos para que sejam concretizados durante um segundo mandato e depois, eventualmente, para quem cá estiver mais tempo.
E o caso da 5 de Outubro já está definitivamente resolvido? O que é que correu mal?
O caso da 5 de Outubro é um caso totalmente de ideologia política, porque é um projeto que trará muito mais verde à cidade. Eu diria que correu mal a comunicação. Com esta guerrilha política que foi feita se calhar não resolvia, mas devia ter-se comunicado de outra maneira e com outra antecedência. Até porque aquele projeto não é meu, aquele projeto é do executivo anterior. E é um projeto muito importante para a cidade... estava com bloqueios enormes com o próprio promotor e houve um enorme trabalho invisível da vereadora do Urbanismo para que avançasse. Mas quem decidiu que havia ali um parque de estacionamento que entrava na 5 de Outubro foi o executivo socialista.
"O caso da 5 de Outubro é um caso totalmente de ideologia política, porque era um projeto que trará muito mais verde à cidade. E as mesmas pessoas que aprovaram o projeto vieram dizer que está mal aquilo que eles próprios tinham decidido."
É importante ver-se ao que leva a ideologia: as mesmas pessoas que aprovaram o projeto vieram dizer que está mal aquilo que eles tinham decidido e que nós continuámos porque é importante. O que mudámos foi para trazer mais verde ao projeto, obrigámos o promotor a trazer ainda mais jacarandás para Lisboa, a ter soluções mais ecológicas e mais ambientais.
Então porquê tanta contestação?
Acho que o que ali correu mal foi a má fé e a baixa política. Muitas das pessoas que se iam manifestar ali não viviam na 5 de Outubro e muitas delas não viviam sequer em Lisboa. Exceto os que estavam ali e que eram dos partidos que estavam sentados à volta da mesa quando o projeto foi aprovado, no executivo anterior, caso do Livre e de outros que mandavam para ali os seus adjuntos o dia todo, a acicatar as pessoas que passavam. Mas as próprias pessoas que moravam ali diziam-nos para avançar com a obra.
Há esta desconexão hoje do mundo político, digital, e a realidade nunca apareceu em nenhuma televisão, o que aparecia eram as guerrilhas políticas e os ativismos ideológicos de uma esquerda que, como já não convence e já não chega às pessoas, pensa que é agarrando-se a uma árvore a gritar que tem impacto.
"Estamos a trabalhar com o governo num plano de segurança para Lisboa." Leia aqui a segunda parte desta entrevista
O seu projeto aumentou as zonas verdes?
Eu acho que é difícil encontrar um presidente da Câmara que tenha feito mais pelas árvores em Lisboa. Nós plantámos 50 mil árvores em Lisboa, em quatro anos — foi muito mais do que qualquer outro; e lanço aqui um desafio ao Polígrafo. Foi uma ordem que eu dei desde o início, a importância do verde. Nós criámos, por exemplo, refúgios climáticos em zonas da cidade para baixar a temperatura...
Não foi por acaso que fomos escolhidos nas 100 cidades da Europa como cidade de missão para sermos neutrais em carbono até 2030. Não foi por acaso que dessas 100, só 22 assinaram com a União Europeia um contrato e mesmo entre essas só nove tinham um projeto único em termos de adaptação — no nosso caso, o túnel de drenagem, que ninguém na Europa tinha, uma obra invisível e que vai marcar seguramente a forma de chegarmos à neutralidade carbónica. Não é só o túnel, é a obra de acumulação de toda a água da chuva, em 17 mil metros cúbicos, que será depois usada para lavar as ruas, etc.
No caso da violação de dados de ativistas russos, "a ilegalidade aconteceu, mas os lisboetas não têm culpa. É um crime, é grave, porque senão não era este valor. Mas é meu dever institucional tentar reduzir a coima ao mais baixo valor possível."
Por isso, às vezes tenho um bocadinho de dificuldade quando a extrema-esquerda fala destas áreas do clima. Muito do que a extrema-esquerda faz é atirar tinta para cima das pessoas ou pintar a câmara municipal. Eu acho que são atentados contra o clima porque trabalhar e resolver não é atirar tinta nem parar ruas, é fazer estas coisas. Por isso estas coisas deixam-me um bocadinho triste.
Há dias foi chumbado o recurso da Câmara no caso da partilha de dados dos ativistas russos e a Câmara arrisca-se a ter de pagar 738 mil euros por 65 contraordenações ao RGPD. Disse que vai recorrer até ao fim para proteger os lisboetas, para os lisboetas não terem de pagar esta multa. Mas não acha que a condenação é justa?
Muitas vezes na altura me acusaram de eu estar a exagerar, mas isto é muito grave, se não não tinha este valor. Foi uma ilegalidade muito grave que foi cometida. Eu sou presidente da Câmara, tenho o dever de proteger os lisboetas e de proteger o bolso dos lisboetas. Quando ganhei o prémio da inovação, eu disse que trouxe 1 milhão de euros para Lisboa, que foi o prémio que recebemos. Eu não gostava que esse milhão de euros fosse para pagar uma multa da proteção de dados; gostava que fosse utilizado como está a ser, na inovação e na tecnologia em Lisboa.
Mas concorda com a condenação.
A ilegalidade aconteceu, a condenação existiu, mas os lisboetas não têm culpa disto. É um crime, é ilegal, é grave, porque senão não era este valor. O que é que eu tento fazer? Ir a todos os recursos para reduzir a coima ao mais baixo valor possível. Mas nunca a vou eliminar, porque isto é mesmo grave, não deveria ter acontecido e a prova está aqui. Muitos me acusaram de utilizar aquele tema do ponto de vista eleitoralista, agora está provado que foi uma ilegalidade muito grande. Mas é o meu dever institucional reduzir a coima, porque com mais recursos disponíveis temos para fazer outras coisas que serão impactantes para a cidade.