
A Arquidiocese da Igreja Católica de Nova Orleães, no sul dos Estados Unidos, concordou em pagar 153 milhões de euros às vítimas de abusos sexuais por parte do clero.
Segundo um acordo anunciado na quarta-feira, a arquidiocese, as paróquias e várias companhias de seguros pagarão 179,2 milhões de dólares (153 milhões de euros) a um fundo para beneficiar os sobreviventes.
De acordo com uma declaração do comité que negociou o acordo, o dinheiro será distribuído depois de a Igreja sair do processo de falência.
Mas os advogados das vítimas disseram que muitas não aceitam o acordo.
"Esta compensação proposta foi feita num negócio às escondidas que a Arquidiocese, os comités de credores e os mediadores sabiam que a esmagadora maioria das vítimas sobreviventes nunca concordaria e, sem dúvida, rejeitaria", disseram os advogados Soren Gisleson, Johnny Denenea e Richard Trahant.
"Isto não faz sentido e é uma continuação da vida inteira de abusos que a Arquidiocese infligiu a estas pessoas", acrescentaram, numa declaração à agência de notícias Associated Press.
O acordo, que encerraria uma ação judicial interposta em 2020, exige a aprovação das vítimas, bem como do tribunal de falências e de outros credores da Arquidiocese.
Acordo é "um insulto"
Aaron Hebert, que diz ter sido abusado por um padre na década de 1960, quando estava no oitavo ano de escolaridade, considerou o acordo "um insulto e uma bofetada na cara".
"A Arquidiocese de Nova Orleães e o Arcebispo [Gregory] Aymond estão a acenar com esta oferta para impedir que as vítimas e os sobreviventes levem as suas reivindicações ao tribunal estadual", disse Hebert.
A declaração do comité disse que o acordo também inclui o que chamou de disposições e procedimentos "sem precedentes" para prevenir abusos futuros e prestar serviços às vítimas, incluindo uma declaração de direitos dos sobreviventes e alterações no processo da Arquidiocese para lidar com alegações de abuso.
"Estou grato a Deus por todos os que trabalharam para chegar a este acordo e para que possamos olhar para o futuro em direção a um caminho de cura para os sobreviventes e para a nossa igreja local", disse Aymond, em comunicado.
O processo envolve mais de 500 pessoas que dizem ter sofrido abusos por parte de membros do clero.
O caso levou à divulgação de uma série de registos da igreja que alegadamente documentam anos de alegações de abuso e um padrão de líderes que prefiram transferir clérigos sem denunciar os alegados crimes às autoridades.
Em 2018, a Arquidiocese divulgou uma lista a identificar mais de 50 membros do clero que foram afastados do ministério ao longo dos anos devido a "acusações credíveis" de abuso sexual.