
A França garante que "não é hostil" a conversas sobre a melhoria das interconexões elétricas com Espanha, mas adverte que novas linhas implicam custos "muito significativos" e não garantem resposta mais eficiente a um apagão.
O ministro francês da Energia, Marc Ferracci, vai reunir-se com o representante espanhol no Conselho de Ministros da Energia, que se realiza, esta segunda-feira, no Luxemburgo e, segundo fontes do seu gabinete, "vão obviamente discutir o apagão ibérico" de 28 de abril e "a forma como a França pode ajudar a estabelecer o diagnóstico", avançou a agência espanhola EFE.
As fontes confirmaram que Ferracci recebeu a carta que lhe foi enviada há uma dúzia de dias pelos seus homólogos, a ministra espanhola da Transição Ecológica, Sara Aagesen, e a ministra portuguesa do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, exigindo "prazos concretos e compromissos vinculativos" sobre os corredores de interconexão elétrica, que consideram insuficientes.
O ministro francês terá respondido a ambas, propondo que os operadores dos três países "trabalhem em conjunto" para estabelecer o diagnóstico do que aconteceu a 28 de abril, considerando, para isso, que "os dados devem ser partilhados de forma transparente", e aguarda resposta.
As fontes do gabinete de Ferracci sublinharam as diferenças que sentiram entre a comunicação sobre esta crise com Aagesen, a quem felicitaram pelo trabalho com a França, pelo bom funcionamento da interconexão entre os dois países e pela forma como a França contribuiu nesse dia para o rápido restabelecimento da energia em Espanha e Portugal após o apagão.
Em contrapartida, criticaram o facto de a ministra portuguesa ter adotado posições que, na opinião das fontes francesas, "não correspondem ao que se pode esperar de um acontecimento tão grave", ao ter apontado uma eventual responsabilidade da França, "de uma forma que [a Paris] parece injustificada", escreve ainda a agência espanhola.
Sobre a exigência espanhola e portuguesa de um reforço das interconexões com a Península Ibérica, as fontes governamentais francesas insistiram que a França não se opõe, como ilustra o facto de estar a ser construída uma nova linha submarina no Golfo da Biscaia, cujo financiamento será formalizado, esta segunda-feira, pelo Banco Europeu de Investimento.
França faz, porém, questão de deixar claro que uma interconexão não é um elemento que possa ser abordado de forma autónoma, mas faz parte do sistema elétrico e que, se a capacidade de troca de eletricidade com Espanha aumentar, isso significará que a França terá de reforçar as suas redes no eixo Norte-Sul, com custos "muito significativos".
França defende otimização do sistema elétrico antes de "exigir mecanicamente interconexões"
Por isso que Paris insiste que, antes de se "exigir mecanicamente interconexões", é necessário pensar em otimizar todo o sistema e "distribuir" os esforços que correspondem a cada parte.
Além disso, e em relação ao apagão, as fontes dizem que "não é claro" que "mais interconexões teriam permitido um melhor funcionamento" da rede, tendo em conta que, em 28 de abril, as interconexões atuais serviram para conter o choque.
As autoridades francesas e o seu operador de rede, a RTE, sublinharam que, nesse dia, a rápida desativação das linhas do outro lado da fronteira evitou, em primeiro lugar, um contágio e uma cadeia de perturbações em França e, eventualmente, no resto da Europa, e, em seguida, ajudou o arranque da rede na Península Ibérica, que foi uma operação delicada.
Atualmente, estas interconexões são constituídas por quatro linhas que atravessam os Pirenéus e proporcionam uma capacidade de troca de até 2.800 megawatts (MW), que deverá aumentar para 5.000 em 2028, graças ao projeto do Golfo da Biscaia.
Isto representará apenas 5% da capacidade de produção instalada em Espanha, quando a União Europeia tinha fixado um objetivo de 10% em 2020, que deveria aumentar para 15% em 2030.
- Com Lusa