Recentemente, assisti a uma palestra de António José Seguro, dedicada à social-democracia, organizada pela SEDES Jovem. Seguro apresentou-se com o seu habitual comportamento quase proto-presidencialista, com um discurso que, embora agradável e ponderado, carecia do elemento mais crucial para impulsionar uma verdadeira mudança no país: soluções concretas.

Há sempre uma ironia subtil quando grandes figuras políticas, nestes discursos sempre teóricos e hipotéticos, apelam à coragem política e ao consenso nacional sobre questões essenciais. Mas, quando confrontadas com os desafios do dia-a-dia, rapidamente recuam para as trincheiras da polarização. Claro que há exceções, há sempre, mas, infelizmente, parecem estar em vias de extinção.

Seguro apelou à nossa revolta e indignação contra o status quo e o atual estado da política nacional. Não pude deixar de sorrir perante a ironia de pedir aos jovens uma maturidade e um distanciamento que nem os adultos conseguem atingir. Exigimos aos jovens o que as gerações mais velhas raramente oferecem: idealismo pragmático, compromisso desinteressado e uma visão que transcenda o imediato.

Curiosamente, os dias que se seguiram a esta intervenção ilustraram o problema de uma forma que se não fossem trágica, até seria cómica. A potencial candidatura de Seguro transformou-se num espetáculo de picardias e bocas entre figuras de destaque da política nacional. Augusto Santos Silva veio classificar Seguro como alguém que não cumpre os requisitos mínimos para o cargo e que apenas diz banalidades.

No mesmo discurso, sugeriu que António Vitorino deveria avançar, dando a entender que, caso este não o faça, será Vitorino a apoiá-lo a si. Francisco Assis, em defesa de Seguro, sugeriu que há uma campanha organizada para o impedir de avançar. A ex-ministra da Saúde, Marta Temido, foi direta ao Facebook declarar o seu apoio a Augusto Santos Silva. Já João Soares, ao bom estilo do “quem diz é quem é”, acusa o próprio ex-presidente da Assembleia da República de ser ele próprio o exemplo da banalidade. Até Ana Gomes, longe da vida partidária, mas nunca adormecida, deixou a boca sobre Vitorino “Ai cumpre? Só se forem os requisitos do centro dos negócios.”

Apelar aos jovens a mudança do status quo, como fez Seguro naquela conferência, tem-se tornado um cliché. Apela-se à coragem, iniciativa e vontade dos jovens para fazer diferente, mas no dia-a-dia, o exemplo que lhes é dado não inspira: um vazio de ideias, preenchido por confrontos pessoais, vaidades e disputas que raramente se focam em algo que interesse às pessoas, muito menos nos grandes problemas do país, que precisam do dito consenso nacional. É o espelho que os líderes apresentam às novas gerações, e francamente, o reflexo é desencorajador.

Ramalho Eanes alertava, na sua última entrevista a Fátima Campos Ferreira, entretanto transformada em livro, que os partidos políticos, embora indispensáveis à democracia, pouco evoluíram como organizações desde a sua institucionalização. Ao contrário das restantes organizações, especialmente as económicas e tecnológicas, que se foram adaptando às novas necessidades e realidades de um mundo em mudança, os partidos ficaram presos a um modelo antiquado, que perpetuou o que Eanes chamou de “encastelamento partidário”. Este fenómeno, destacou Eanes, é ainda reforçado por um sistema de listas fechadas, em que o eleito é transformado num delegado do Partido, e não do eleitor.

As próprias juventudes partidárias, que deviam ter evoluído para acompanhar as exigências de uma sociedade em mudança, falharam em atualizar-se. Pelo caminho, ainda conseguiram perder a relevância que, em tempos, tiveram na definição da agenda política. Onde as juventudes partidárias existem, frequentemente, reforçam as dinâmicas de poder ao invés de promoverem renovação e criatividade, quando não são, inclusive, utilizadas como meros peões nos jogos de poder dos adultos.

Por outro lado, não podemos ignorar o papel que nós, jovens, mesmo os apartidários, desempenhamos neste cenário. Apesar do mau exemplo dado pelas estruturas existentes, o problema vai para além dos partidos, quando os nossos próprios projetos de cidadania política fora deles não conseguem ultrapassar a barreira do imediato. Vemos nascer e morrer regularmente iniciativas lideradas por jovens que muitas vezes fracassam por falta de persistência, cooperação e compromisso. Em vez de procurar construir projetos que se prolonguem no tempo, nomeadamente através da renovação de lideranças, o foco recai demasiadas vezes no protagonismo individual e na necessidade de criar algo novo para alcançar destaque.

E nós jovens, divididos entre a desilusão com o que nos mostram e a incapacidade de superar os mesmos erros, vamos continuando a ouvir, a aplaudir e, quem sabe, a revoltar-nos. Só falta decidir quando.